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A nossa História no Museu Nacional de Arte Antiga

A nossa arte e a nossa História têm, finalmente, um espaço coerente e atraente, o piso 3 do Museu Nacional de Arte Antiga. Há algumas leituras curiosas provocadas pelo percurso.

13 de Agosto de 2016 às 10:15
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O princípio de que as nações devem possuir locais internos onde possam conhecer a sua História e experimentar a beleza é quase universalmente aceite, como é um outro princípio, o de que o primeiro acto de um ditador é o de destruir a História antes de si, e eliminar os ícones concorrenciais.

Em Portugal, não por razões de limitação de História, mas mais por argumentos de austeridade de fundos ao longo de toda a nossa existência, o local mais indicado, mas não o único, para cumprir o primeiro princípio foi, e é, o Museu Nacional de Arte Antiga (MNAA), naquela zona demograficamente complexa de Lisboa a que se costuma chamar as "janelas verdes".

Até há muito pouco tempo, o MNAA tinha o espólio, mas razões imateriais impediram-no de cumprir a sua missão. De facto, até há uns tempos, apesar das boas exposições que se sucederam, entrar naquele palácio que conserva qualquer coisa de renascentista no seu ambiente era uma experiência que fazia lembrar, por várias impressões poéticas, algumas atmosferas de Tarkovsky editadas, com alguma maldade, pela mente corrompida de Lynch.

Como escrevi, o cenário começou a ser alterado, e nada ilustra melhor esta mudança do que o piso 3 do museu, que alberga, através de percursos cronológicos, que vão do século XIII ao XIX, e de núcleos artísticos, o melhor da arte portuguesa.

Uma mostra extensa e coerente como esta, que tanto faltava, salve curadores do MNAA, permite leituras muito curiosas. Não vou aqui replicar as mais importantes, que os historiadores se têm encarregado, mas algumas mais subtis. A primeira é a incrível e permanente omnipresença da Igreja como mecenas e cliente, e a quantidade enorme de peças, de património, que foi doado por conventos e outros centros de poder religiosos. Uma outra é uma certa falta de imaginação e de cosmopolitismo da nossa Coroa, que se limitou a encomendar aos mestres o mesmo que os seus pares encomendaram, da Saxónia a Espanha. Uma terceira, porventura a mais importante, é a quase total ausência de mecenas, o que levou, provavelmente, a que não tenhamos tido o mesmo número de génios que produziram nos Países Baixos e nas cidades-estado italianas.

Apesar de tudo, e a mostra permite detectar alguns casos, há comunicações fascinantes, como a do monge irlandês que se fixou no Convento do Espinheiro, em Évora, a pintar. Não temos assim muitas peças notáveis, mas temos sempre os "Painéis de São Vicente de Fora" e mais algumas outras. Mas temos, finalmente, um espaço que nos ensina muito do que sempre fomos e ainda mais do que somos.

Ajustamentos para o curto prazo Como se escreveu no texto principal, o novo MNAA é todo um outro MNAA. No entanto, há ainda alguma edição de espaço a fazer.
As secções de cerâmica e de "prataria", por exemplo, têm material a mais e informação a menos. O mesmo excesso está na loja, muito pesada nos artigos, com muitos que não deviam estar ali, e com falta de espaço. Já agora, com aquele jardim, não se compreende como é que a cafetaria continua a ser tão má, e como é que um grupo grande de funcionários continua a insistir em entrar na figuração do próximo "Família Adams". 

*Nota ao leitor: Os bens culturais, também classificados como bens de paixão, deixaram de ser um investimento de elite, e a designação inclui hoje uma panóplia gigantesca de temas, que vão dos mais tradicionais, como a arte ou os automóveis clássicos, a outros totalmente contemporâneos, como são os têxteis, o mobiliário de design ou a moda. Ao mesmo tempo, os bens culturais são activos acessíveis e disputados em mercados globais extremamente competitivos. Semanalmente, o Negócios irá revelar algumas das histórias fascinantes relacionadas com estes mercados, partilhando assim, de forma independente, a informação mais preciosa.  

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