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A paz dos nossos dias

Nesta época festiva, fala-se de paz. Mas, num mundo cada vez mais conflituoso, este parece ser um bem escasso e muito frágil. Assim sendo, o que significa hoje esta palavra? O Major-General João Vieira Borges, a psicóloga Mariana Reis Barbosa, o filósofo António Marques e o oficial de emergência do Programa Alimentar Mundial Pedro Matos, refletem sobre a paz, à luz da sua experiência profissional.
Filipa Lino 28 de Dezembro de 2024 às 11:00
Foto em cima: A Trégua de Natal, que aconteceu em 1914, ficou para a história como um armistício informal que os soldados ingleses e alemães fizeram na I Guerra Mundial. Os inimigos saíram das trincheiras e jogaram à bola.


No Natal de 1914, enquanto se cantavam hinos nas igrejas sobre o nascimento de Jesus Cristo, havia homens nas trincheiras, na Frente Ocidental da I Guerra Mundial, que estavam muito longe do ambiente que os cânticos natalícios descreviam. A mensagem dos anjos "paz na terra e boa vontade entre os homens", descrita nos Evangelhos, era algo impensável naquele contexto bélico. Até que um "milagre" aconteceu. Os soldados ingleses e alemães decidiram fazer um intervalo na guerra. Não só pararam as armas como cantaram, trocaram presentes e jogaram à bola juntos. O momento ficou conhecido na história como a Trégua de Natal.

 

A história tem diferentes versões que não correspondem exatamente à narrativa que chegou ao cinema, ressalva o Major-General João Vieira Borges. Mas é importante para contar que "os homens que morrem às centenas todos os dias, dos dois lados da guerra, nem percebem porque é que estão a morrer". Refere-se à guerra na Ucrânia, tão parecida com tantas outras do passado. O presidente da Comissão Portuguesa de História Militar sublinha que os soldados russos estão a atacar, a invadir e a destruir um povo "que lhes ensinaram que era irmão". Por isso, não tem dúvidas de que "se lhes dissessem para parar e fazer um jogo da bola, paravam logo".

 

Isso parece longe de acontecer. Recentemente, o Kremlin considerou prematuro falar de um eventual tratado de paz com a Ucrânia e acusou Kiev de falta de diálogo, confirmando que não há negociações entre as partes em conflito.

 

"Os militares são os primeiros a querer a paz porque sabem o que significa a guerra para si, para as suas famílias e para o seu país", diz João Vieira Borges. Isto em contraponto com os políticos que, para atingirem objetivos, não olham a meios nem a fins. "Como já dizia Carl von Clausewitz, a guerra é a continuação da política por outros meios."

 

Os políticos decidem a guerra sabendo que os seus filhos não vão lá estar. "Quem vai para a guerra são os outros", diz. Estamos em pleno século XXI e "continuamos a ter esta visão da guerra e da paz muito diferente entre os grandes líderes, os militares e o povo".

 

Ainda hoje existe uma subordinação da guerra à política, seja ela justa ou injusta, sublinha. São os políticos que estão no topo da hierarquia e que, por isso, assumem o papel de decisores.

 

Como estrategista, defende que a melhor estratégia "é aquela que leva o Estado a obter uma Paz melhor em relação ao opositor, de preferência no âmbito da competição e não do conflito". É por isso que subscreve a definição de Bento Espinosa, filósofo do século XVII que, no livro "Ética", disse que "a paz não é [só] ausência de guerra, é uma virtude, um estado mental, uma disposição para a benevolência, a confiança e a justiça."

 

O engano da paz garantida

 

Pedro Matos, oficial de Emergência do Programa Alimentar Mundial, conhece bem os efeitos da guerra nas populações. Já percorreu os pontos mais "quentes" do globo em matéria de violência. Sudão, Gaza, Ucrânia, Afeganistão, Mali, Iémen, Darfur… são apenas alguns exemplos. "Quando o mundo se tornou mais pequeno para mim, eu deixei de viver em paz", diz. Desde que deixou a vida de engenheiro em start-ups em Portugal e está ao serviço da agência humanitária da ONU, a sua visão passou a ser mais global. E chegou a algumas conclusões.

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