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Quem processar quando é um robô que perde a sua fortuna?
Samathur Li Kin-kan decidiu processar um agente que o persuadiu a confiar uma parte da sua fortuna a um supercomputador cujas operações deram um prejuízo superior a 20 milhões de dólares.
Os robôs estão cada vez mais humanoides, mas ainda não podem ser processados.
Um magnata de Hong Kong pode ser um dos pioneiros neste tipo de batalha judicial. O investidor decidiu processar um agente que o persuadiu a confiar uma parte da sua fortuna a um supercomputador cujas operações deram um prejuízo superior a 20 milhões de dólares.
O processo é movido por Samathur Li Kin-kan - cujo pai é um grande investidor na Shaftesbury, dona de grande parte dos imóveis em Chinatown, Covent Garden e Carnaby Street, em Londres - contra Raffaele Costa, que passou grande parte da sua carreira a vender fundos de investimento para empresas como Man Group e GLG Partners. É o primeiro caso conhecido de pessoas que movem um processo por causa de perdas com investimentos acionadas por máquinas autónomas e destaca o problema da "caixa-negra": se as pessoas não sabem como o é que o computador está a tomar decisões, quem é responsável quando as coisas correm mal?
"As pessoas tendem a supor que os algoritmos são mais rápidos e melhores decisores do que os traders humanos", afirmou Mark Lemley, professor de direito da Universidade Stanford, que coordena o programa de Direito, Ciência e Tecnologia da universidade. "Isto pode ser verdade muitas vezes, mas, quando não é, ou quando se desviam rapidamente, os investidores querem alguém para culpar."
Os dados sobre os acontecimentos que antecederam a batalha judicial foram obtidos a partir de registos num tribunal comercial em Londres, onde o julgamento está programado para começar em abril de 2020. Tudo começou durante um almoço num restaurante no Dubai, a 19 de março de 2017. Foi a primeira vez que Li, de 45 anos, se encontrou com Costa, o italiano de 49 anos conhecido pelos colegas do setor como "Capitão Mágico". Durante a refeição, Costa descreveu um hedge fund robótico que a sua empresa, a Tyndaris Investments, com sede em Londres, ofereceria em breve para gerir recursos usando apenas inteligência artificial.
Desenvolvido pela empresa de tecnologia da informação 42.cx, com sede na Áustria, o supercomputador K1 iria varrer fontes online como notícias em tempo real e redes sociais para medir o humor dos investidores e fazer previsões sobre o mercado acionista dos EUA. Em seguida, enviaria instruções a um corretor para executar as operações, ajustando a sua estratégia ao longo do tempo com base no que havia aprendido.
A ideia de um administrador de recursos totalmente automatizado inspirou Li imediatamente. Convidou Costa para jantar três dias depois, dizendo num email anterior que o fundo de inteligência artificial era "exatamente a minha praia".
Mas o carinho de Li pelo K1 diminuiu quase ao mesmo tempo em que o computador começou a operar no fim de 2017. Em fevereiro de 2018, já perdia dinheiro com frequência, como 20 milhões de dólares num único dia (a 14 de fevereiro), devido a uma ordem de "stop loss" que, segundo os advogados de Li, não teria sido acionada se o K1 fosse tão sofisticado quanto Costa o levou a acreditar.
Agora Li está a processar a Tyndaris e a pedir uma indemnização de 23 milhões de dólares, alegando que a empresa exagerou nas habilidades do supercomputador. Os advogados da Tyndaris, que por sua vez processam Li exigindo 3 milhões de dólares em taxas não pagas, negam que Costa tenha exagerado sobre as funções do K1. Dizem que Li nunca recebeu a garantia de que a estratégia de inteligência artificial daria dinheiro.
Sarah McAtominey, advogada da empresa de investimentos de Li que está a processar a Tyndaris, não quis comentar. Rob White, porta-voz da Tyndaris, não autorizou uma entrevista com Costa.
(Texto original: Who to Take to Court When a Robot Loses Your Fortune)