Notícia
Brasil acumula ganhos apesar da crise política
Investidores parecem ignorar o terramoto político.
A política brasileira continua a ferro e fogo com notícias diárias de escândalos, uma telenovela que parece não ter fim. Mas os mercados brasileiros estão estáveis e até a recuperar. A Ivobespa, o índice de acções de referência, acumula ganhos de 2,74% desde o início do ano e o real valorizou 2,50% nesse período.
O Financial Times escreve, na edição desta terça-feira, dia 4 de Julho, que os investidores brasileiros estão a resistir apesar do terramoto político e justifica esta reacção dos mercados com a confiança dos investidores na equipa económica de Michel Temer, liderada pelo ministro das Finanças, Henrique Meirelles, e o presidente do banco central, Ilan Goldfajn, ambos com uma ampla experiência no sector privado e muito reputados pelas diversas alas. Eles assumiram as respectivas pastas depois de o país ter atravessado dois anos da pior recessão de sempre, o que tornou mais fácil recuperar a confiança.
Outro factor que ajuda o Brasil é que, na frente externa, muitos concorrentes do mercado de países emergentes da América Latina não estão melhor. "Em terra de cego que tem olho é rei", disse Alejo Czerwonko, trader de mercados emergentes da UBS Wealth Management, ao Financial Times. Acrescentando que os títulos soberanos brasileiros em dólares pagaram mais do que seus homólogos sul-africanos ou turcos.
Para Alberto Ramos, economista da Goldman Sachs, os mercados brasileiros estão calmos devido ao "ambiente externo favorável" e "à equipa económica muito credível e ortodoxa (se eles não podem fazer isso, quem pode?) E, claro, o facto de não haver alternativas a este Executivo".
Temer subiu ao poder no ano passado depois do impeachment de Dilma Rousseff e prometeu introduzir reformas fiscais radicais e conseguiu aprovar um projecto de lei que limitou aumentos nas despesas do orçamento federal brasileiro para zero em termos reais. Temer quer também mexer no sistema de segurança social que permite actualmente a reforma aos 50 anos. E os investidores parecem acreditar que apesar dos escândalos este caminho pode trazer vantagens ao país.
O Financial Times sublinha que qualquer revés na economia mundial pode fazer tremer o Brasil. Mas para já parece que os investidores estão dispostos a minimizar as tempestades políticas.
O mercado de acções de São Paulo mergulhou mais de 10% em meados de Maio, quando rebentou o escandalo que envolveu Temer que alegadamente discutiu subornos com um empresário, Joesley Batista, o ex-presidente da JBS, o maior produtor de carnes do país. Mas, desde então, o mercado tem estado relativamente estável e a Ivobespa tem um saldo positivo de 2,74% este ano, enquanto a moeda, o real, depois de perder cerca de 8% para quase 3,38 reais, nessa altura, estabilizou em cerca de 3,30 e acumula agora um ganho de 2,50% desde o arranque do ano.
A inflação está em mínimos de 10 anos, nos 3,6%, e deverá cair ainda mais até o final do ano. A taxa foi revista em baixa pelo governo, a semana passada, para 4,25% em 2019 e para 4% em 2020. "A decisão contribui para um ambiente de reduções sustentadas das taxas de juros ", afirmou o economista chefe do Itaú Unibanco, Mário Mesquita, num relatório.
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