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António Almeida Henriques : “A inteligência urbana pode ajudar a vencer as desigualdades do país”

Na sua opinião, tal como a seguir ao 25 de Abril de 1974 se levou a eletricidade a casa das pessoas, é fundamental esbater a principal assimetria do país e proporcionar acessibilidade digital a todos os cidadãos.

14 de Outubro de 2020 às 14:30
António Almeida Henriques diz que é preciso construir a cidade pela sua base que é a infraestrutura digital.
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O país é assimétrico com 70% da população portuguesa fixada em 50 quilómetros da nossa costa, a densidade deste território é de 350 hab./km2 mas no resto país é de cerca de 90 hab./km2. Como é que um país com diferentes velocidades poderá responder a este desafio das cidades inteligentes e dos territórios inteligentes, interroga-se António Almeida Henriques, vice-presidente da Associação Nacional de Municípios Portugueses. Para este autarca "há um indicador positivo, nos últimos anos demos um grande salto, juntando os territórios, depois o sistema científico-tecnológico e as empresas. Este triângulo virtuoso tem feito um bom percurso. Hoje, Portugal ao nível das cidades médias não fica a dever nada ao que é o desenvolvimento em termos mundiais".

Deu o exemplo de Viseu, onde é presidente da câmara municipal há sete anos, para os desafios que as cidades médias têm pela frente. É um território com 507 km2 com diferentes realidades e onde se criou uma mobilidade urbana e interurbana que une as 25 freguesias do concelho. Mas o desafio é ligar as pessoas das zonas de baixa densidade através do transporte on demand. "Por mais ciclovias e ecovias que se façam para ligar as freguesias, e introduzir mobilidade suave, não nos podemos esquecer das populações envelhecidas e os jovens estudantes em que o transporte a pedido (on demand) acaba por ser uma solução", diz António Almeida Henriques.

"A inteligência urbana deverá ser um dos principais instrumentos para vencer as desigualdades do país e se calhar temos de começar a construir a cidade pela sua base que é a infraestrutura digital, mas no meu território um terço não tem cobertura digital em fibra ótica. Quando falamos em 5G no país, e sabemos que nem todo o território vai ser contemplado, ainda existem faixas dos nossos territórios que nem cobertura de 3G têm", assinala o autarca de Viseu.

Acessibilidade digital

Na sua opinião, tal como a seguir ao 25 de Abril de 1974 se levou a eletricidade a casa das pessoas, é fundamental que, num curto espaço de tempo, "se consiga esbater a principal assimetria do país e proporcionar igualdade de oportunidades a todos os cidadãos no que diz respeito à acessibilidade digital".

A acessibilidade digital também influencia a relação da administração local com os seus cidadãos, como acontece em Viseu. "Os cidadãos estão mais exigentes, querem ter no online a informação total, ter transparência como os municípios são geridos por isso querem ter o acesso a tudo, desde o urbanismo a uma licença das mais simples", refere António Almeida Henriques.

Por mais ciclovias e ecovias que se façam para ligar as freguesias não podemos esquecer a população envelhecida.

Os cidadãos estão mais exigentes, querem ter no online a informação total.
António Almeida Henriques
Presidente da Câmara Municipal de Viseu
Por outro lado, não querem uma gestão de cima para baixo. "Querem participar na gestão da cidade, ser parte ativa, e saber, em cada momento, que opções estão a ser tomadas. Por isso a importância dos orçamentos participativos, das consultas permanentes e a partilha de dados com os cidadãos", concluiu António Almeida Henriques.

A acessibilidade digital é importante na mobilidade, na relação com os cidadãos, mas também na eficiência e produção energéticas. Nos últimos seis anos, Viseu captou uma central de biomassa, dois polos de energia eólica e uma mini-hídrica "o que nos aproxima de um padrão de autossustentabilidade produzindo tanta energia limpa como a que consumimos", sustenta Almeida Henriques.

Referiu ainda que a da inteligência urbana pode ser uma dupla oportunidade. "É uma oportunidade para podermos fazer as pessoas mais felizes e trabalhar mais para os nossos cidadãos e também para nós gestores podermos ser mais eficazes e aproveitarmos melhor os recursos." A segunda oportunidade é a fixação de talento. "A Deloitte está fixada hoje em Viseu, fora das duas grandes Áreas Metropolitanas Lisboa e Porto e seguramente os seus trabalhadores são mais felizes, serão até mais produtivos por viverem numa cidade onde há tempo para fazer", concluiu António Almeida Henriques.

Olhares múltiplos sobre as cidades do futuro A Conferência Digital Negócios Sustentabilidade 20-30, dedicada ao tema do "Bem-Estar e Cidades Sustentáveis - Como Vamos Viver em 2030?", realizou-se a 30 de setembro de 2020, e foi iniciada por Fernando Medina, presidente da Câmara Municipal de Lisboa. Seguiu-se o keynote speech, Miguel de Castro Neto, subdiretor da Nova Information Management School, e um debate com a moderação de André Veríssimo, diretor do Jornal de Negócios, e a participação de António Almeida Henriques, vice-presidente da Associação Nacional de Municípios Portugueses, Miguel Eiras Antunes, partner smart City, Smart Nation & Local Government da Deloitte, Nuno Lacasta, presidente da Agência Portuguesa do Ambiente, e Paulo Neves, responsável pela área de Sustentabilidade do Millennium bcp.
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