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Covid-19 marca “boom” nas obrigações sociais

Apenas a União Europeia já realizou três emissões conjuntas de obrigações sociais entre os meses de outubro e novembro, no valor de cerca de 40 mil milhões de dólares, para financiar projetos relacionados com a recuperação da pandemia.

25 de Janeiro de 2021 às 08:30
A Comissão Europeia, liderada por Ursula von der Leyen, realizou três emissões de obrigações sociais em 2020.
A Comissão Europeia, liderada por Ursula von der Leyen, realizou três emissões de obrigações sociais em 2020. Olivier Hoslet/EPA
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A resposta à crise da covid-19 está a mudar o panorama das obrigações sustentáveis. Enquanto nos últimos anos, o foco da dívida com objetivos ESG (critérios ambientais, sociais e de governo das sociedades) recaía sobre o verde, a necessidade de direcionar as políticas para questões sociais associadas à pandemia provocou um verdadeiro “boom” na emissão de obrigações com este fim. Durante o último ano, a emissão de dívida com critérios sociais escalou mais de 750%.

O ritmo de emissões com fins sustentáveis disparou no último ano. No total foram realizadas 986 operações para financiar projetos sociais e ambientais em 2020, que permitiram levantar 522,1 mil milhões de dólares, o que representa um disparo de 82% face aos fundos levantados em 2019, segundo os dados reportados pela Dealogic no final da semana passada.

O forte crescimento neste tipo de obrigações indexadas a objetivos sustentáveis é justificado pela urgência criada pela pandemia da covid-19 para levantar capital para financiar os projetos de recuperação. Apesar de as obrigações verdes continuarem a representar uma importante fatia deste tipo de emissões sustentáveis, 2020 marcou uma alteração neste segmento, com as obrigações sociais a dispararem de 16,6 mil milhões de dólares levantados em 2019 para 142,2 mil milhões de dólares, em 2020. Ou seja, um disparo anual de 756%.

Os governos e outras entidades públicas lideraram a emissão de obrigações verdes, com a União Europeia a encabeçar este movimento, através das operações de colocação de dívida conjunta lançadas no passado mês de outubro, no âmbito do programa SURE (Support to mitigate Unemployment Risks in an Emergency), que pretende financiar projetos sociais na região. A primeira emissão de “social bonds” foi realizada a 20 de outubro e permitiu captar 17 mil milhões de euros (20,15 mil milhões de dólares), tendo-se seguido outras duas emissões semelhantes em novembro. Ao todo, a União Europeia levantou 39,5 mil milhões de dólares em três operações que contaram com uma forte procura, mostrando o grande apetite dos investidores por este tipo de emissões.

As obrigações com fins ambientais também cresceram face a 2019. Segundo a Dealogic, as obrigações verdes atingiram os 235,4 mil milhões de dólares em 2020, o que significa um aumento de 14% face ao ano anterior. Já as emissões que têm simultaneamente objetivos ambientais e sociais mais que duplicaram para 144,6 mil milhões de dólares.

Os últimos meses do ano foram especialmente ativos. Segundo o relatório da Dealogic, em setembro, foram levantados 94,5 mil milhões de dólares em obrigações com fins sustentáveis, naquele que foi o melhor mês de sempre. Quanto a outubro e novembro, estas operações atingiram montantes de 79,2 e 76,7 mil milhões de dólares, respetivamente, colocando-os como o segundo e o terceiro melhores meses de sempre, com os emitentes a aproveitarem a forte procura por este tipo de produtos para financiar os seus projetos.

Ainda que as operações mais valiosas tenham sido realizadas por organizações, do lado das empresas também houve emissões significativas. A Alphabet e a Volkswagen realizaram as maiores operações do ano, com duas emissões superiores a dois mil milhões de dólares da dona da Google e uma emissão de 1,25 mil milhões da fabricante automóvel alemã.


 

756%
Crescimento
Foram colocados 142,2 mil milhões de dólares em emissões com fins sociais em 2020, o que representa um disparo de 756% face a 2019.

 

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