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A Agenda de 2030 das Nações Unidas é o grande propósito a atingir globalmente, vinculando toda a sociedade e setores de atividade. Sendo o turismo um dos grandes motores da economia nacional, casar estes dois universos é o único caminho a seguir. Com este compromisso assumido, o Turismo de Portugal tem em marcha estratégias e planos para posicionar Portugal como um dos destinos turísticos mais competitivos, seguros e sustentáveis do mundo, através de um desenvolvimento económico, social e ambiental em todo o território. A sustentabilidade é assim assumida "como um propósito maior, como o único caminho possível para construir o turismo do futuro", refere Luís Araújo, presidente do Turismo de Portugal, ao Negócios. "Todos os projetos e iniciativas que concretizamos procuram, em última análise, promover os princípios da sustentabilidade junto de toda a cadeia de valor do turismo nacional, tornando-o ainda mais responsável", acrescenta.
Um objetivo claro, um caminho confuso
Mas como está o setor na generalidade a encarar toda esta necessidade de transformação? "Estão muito sensibilizados para o tema e muitos já incorporaram os vários pilares na sua estratégia e agenda", refere Cristina Siza Vieira, vice-presidente executiva da Associação da Hotelaria de Portugal (AHP). Porém, "em termos de incorporação, de métricas e de planos práticos, ainda se está à procura da melhor metodologia e plano mais adequados à empresa em concreto, para que se possa focar e gerar relatórios de sustentabilidade", acrescenta.
A formação em áreas como gestão ambiental, gestão de resíduos, otimização dos consumos, ou segurança alimentar assume um papel fundamental neste caminho. O responsável destaca também a conjuntura atual marcada pela constante subida dos preços de energia e materiais com uma dificuldade em implementar soluções que podem ser onerosas no curto prazo. Neste sentido, destaca que "dar apoios às unidades sustentáveis poderia ser um importante passo a dar, pois os processos são ainda totalmente voluntários e não existe um reconhecimento fiscal ou financeiro por parte das entidades oficiais para com aqueles que se preocupam verdadeiramente com a sustentabilidade".
Assim, sensibilização de toda a cadeia de valor, custos que poderão surgir e necessidade de dar formação são indicadas como algumas dificuldades. Mas não só. Cristina Siza Vieira alerta para a fase seguinte: a dificuldade da aplicação prática dos critérios ESG (sigla em inglês para ambiental, social e governação). "Os indicadores a reportar dependem da dimensão da operação, da tipologia do operador, etc. Um hotel de cidade e um hotel resort não são a mesma coisa, portanto, há necessidade de cada um encontrar o seu caminho", refere a responsável da AHP.
Medir para melhor gerir
O presidente do Turismo de Portugal corrobora que "a generalidade das empresas tem ainda algumas dificuldades em perceber a melhor forma de integrar objetivos sociais e ambientais na sua estratégia, nos seus instrumentos de gestão e nas suas operações". Uma lacuna que o programa Empresas Turismo 360° quer sanar. "Estamos a desafiar as empresas a comprometerem-se com a transição para a sustentabilidade subscrevendo uma carta de compromisso e iniciando uma jornada de sustentabilidade assente em princípios ambientais, sociais e de governação", diz Luís Araújo. Este programa tem na medição uma das suas chave mestra, incentivando as empresas do setor a reportar o seu desempenho em matéria de sustentabilidade. Para isso, apoia-as tecnicamente na integração dos fatores ESG na estratégia de negócio, na gestão e na cultura organizacional e orienta-as no processo de reporte regular de informação relacionada com as suas práticas ambientais, sociais e de governação. Nesta linha, é necessário medir para melhor gerir. "Ao permitir uma padronização no processo de recolha e de processamento dos dados de desempenho do setor, o Programa permitirá medir e percecionar as diferentes variáveis que podem condicionar os objetivos de transição e, ao mesmo tempo, criar uma base de conhecimento útil para os processos de tomada de decisão adotados por agentes públicos e privados e para a compreensão dos fatores determinantes da competitividade de Portugal enquanto destino turístico" destaca Luís Araújo. A empresas que aderirem a este programa terão acesso a uma ferramenta de analytics e reporting do respetivo desempenho em sustentabilidade. Espera-se que, até ao final do ano, sejam apresentados os primeiros relatórios de sustentabilidade das empresas aderentes.
De destacar que o reporte de informação não financeira será fundamental para as empresas terem acesso a financiamento essencial nesta transição. "O Turismo de Portugal, em conformidade com a estratégia europeia de finanças sustentáveis, está a estudar um conjunto de soluções de financiamento que pretendem estimular o investimento na transição para uma economia verde e de baixo carbono e acelerar o alcance das metas de sustentabilidade definidas para o setor, compreendendo o papel que o setor financeiro deve assumir nesse processo", refere Luís Araújo.
As boas práticas e os selos que as distinguem
É consensual que os consumidores procuram cada vez mais produtos e serviços turísticos sustentáveis e isso acaba por ser também uma força de transformação. O selo Ecolabel, da União Europeia; a norma ISO 21401 para hotéis sustentáveis, da APCER; a Certificação Biosphere, do Instituto de Turismo Responsável, ou o Green Key, da Foundation for Environmental Education, implementado em Portugal pela Associação Bandeira Azul da Europa, são instrumentos que dão aos consumidores essa garantia de respeito pelos critérios ESG.
E que critérios implementados são esses? As três unidades hoteleiras que aqui referimos exemplificam o que fazem para serem mais sustentáveis. No caso Vilalara Thalassa Resort, a utilização de um sistema de recarga para fornecer produtos de higiene pessoal, que reduz o uso de plástico e o transporte, e o recurso a água extraída do mar em piscinas, que se traduz na poupança de água doce, e a utilização de produtos locais são alguns exemplos das práticas existentes nesta unidade hoteleira. A ambição futura passa por aumentar a eficiência energética através da autoprodução via painéis fotovoltaicos.
Subindo até Lisboa, o Inspira Liberdade Hotel utiliza energia elétrica de fontes 100% renováveis, recorre a painéis solares para aquecimento de águas sanitárias e promove a separação seletiva de resíduos, inclusive nos quartos, entre outras medidas no âmbito ambiental. A nível social, a marca hoteleira apoia diversas organizações a nível nacional e internacional. Na eminência de abrir duas novas unidades em Lisboa, o grupo tem metas bem definidas para 2030: apoiar projetos locais de preservação e conservação da biodiversidade, instalar um sistema solar fotovoltaico para autoconsumo, entre outras. Também pretendem sensibilizar o cliente para a mudança de comportamentos, através da instalação de sistema de monitorização de consumos de água e eletricidade pelo hóspede.
Também a NeyaHotels mantém um conjunto de práticas e soluções para dar resposta às questões de sustentabilidade. Por exemplo, o hotel é abastecido totalmente a energia verde, é neutro em carbono e atinge taxas elevadas de separação de resíduos para reciclagem. Ao nível social, a Neya Hotels tem nas crianças o seu público-alvo para apoio, tendo celebrado parcerias com diversas instituições desta natureza. A nível de governação, o destaque vai para a criação de políticas e códigos de ética, a assinatura da carta da diversidade, a gestão do risco de negócio e a avaliação da cadeia de abastecimento.
Todos os projetos e iniciativas que concretizamos procuram, em última análise, promover os princípios da sustentabilidade junto de toda a cadeia de valor. Luís Araújo
Turismo Portugal
Para tal, está delineada a Estratégia Turismo 2027, que define metas de sustentabilidade económica, social e ambiental e áreas estratégicas de intervenção no país. E para acelerar esta visão estratégica foi criado o Plano Turismo +Sustentável 20-23, com exatamente 119 ações previstas para serem implementadas até 2023, dirigidas para a estruturação de uma oferta crescentemente sustentável, para a qualificação dos agentes do setor, para a promoção de Portugal como destino sustentável e para a monitorização do desempenho do setor em sustentabilidade. No leque das medidas está, por exemplo, que, nessa altura, 75% dos empreendimentos turísticos tenham sistemas de eficiência energética, hídrica e gestão de resíduos e que 75% não utilizem plásticos de uso único. Também é preciso apostar na formação e, para isso, existe o objetivo de formar 50 mil profissionais nas áreas da sustentabilidade. Das 119 ações previstas, 19 já foram concluídas e 80 estão em curso.Turismo Portugal
Um objetivo claro, um caminho confuso
Mas como está o setor na generalidade a encarar toda esta necessidade de transformação? "Estão muito sensibilizados para o tema e muitos já incorporaram os vários pilares na sua estratégia e agenda", refere Cristina Siza Vieira, vice-presidente executiva da Associação da Hotelaria de Portugal (AHP). Porém, "em termos de incorporação, de métricas e de planos práticos, ainda se está à procura da melhor metodologia e plano mais adequados à empresa em concreto, para que se possa focar e gerar relatórios de sustentabilidade", acrescenta.
Em termos de incorporação, de métricas e de planos práticos, ainda se está à procura da melhor metodologia e plano mais adequados à empresa em concreto para gerar relatórios de sustentabilidade. Cristina Siza Vieira
AHP
O universo do turismo é composto por uma grande heterogeneidade de negócios, dimensões e posicionamentos perante a sustentabilidade, fazendo com que a velocidade de transição efetiva seja muito diversa. Para as empresas do setor que já estão a fazer esse caminho, "o maior desafio tem sido o de garantir o envolvimento de toda a cadeia de valor neste compromisso com a sustentabilidade", destaca Patrícia Marques, Sustainability & Development Manager do Inspira Liberdade Hotel, uma unidade que desde o seu lançamento tem a sustentabilidade no seu ADN.AHP
Para as empresas do setor que já estão a fazer esse caminho, o maior desafio tem sido o de garantir o envolvimento de toda a cadeia de valor neste compromisso com a sustentabilidade. Patricia Marques
Inspira
Também para Robert Neves, diretor-geral do Vilalara Thalassa Resort, unidade que acaba de ser reconhecida com a Certificação da Biosphere, distinção desenvolvida pelo Instituto de Turismo Responsável, "o maior desafio é a mudança de atitude e mudança de hábitos. Para isso, apostamos na sensibilização e consciencialização de todos. A partilha de informação e dos progressos obtidos são a chave para percebermos a extensão e impactos das nossas ações, desde os nossos colaboradores aos nossos hóspedes". Inspira
Os resultados a obter para manter uma unidade sustentável dependem não só das tecnologias e procedimentos aplicados, mas fundamentalmente do comportamento. Pedro Teixeira
Hotel Neya
Para que a sustentabilidade se dissemine e entranhe, é necessário, de facto, capacitar e envolver toda a estrutura empresarial nesta missão. "Os resultados a obter para manter uma unidade sustentável dependem não só das tecnologias e procedimentos aplicados, mas fundamentalmente do comportamento, envolvimento e competências das pessoas afetas à atividade", refere Pedro Teixeira, diretor de Qualidade, Ambiente e Segurança do grupo Neya Hotels, que assume a sustentabilidade como a única forma de estar neste negócio no futuro. Hotel Neya
A formação em áreas como gestão ambiental, gestão de resíduos, otimização dos consumos, ou segurança alimentar assume um papel fundamental neste caminho. O responsável destaca também a conjuntura atual marcada pela constante subida dos preços de energia e materiais com uma dificuldade em implementar soluções que podem ser onerosas no curto prazo. Neste sentido, destaca que "dar apoios às unidades sustentáveis poderia ser um importante passo a dar, pois os processos são ainda totalmente voluntários e não existe um reconhecimento fiscal ou financeiro por parte das entidades oficiais para com aqueles que se preocupam verdadeiramente com a sustentabilidade".
Assim, sensibilização de toda a cadeia de valor, custos que poderão surgir e necessidade de dar formação são indicadas como algumas dificuldades. Mas não só. Cristina Siza Vieira alerta para a fase seguinte: a dificuldade da aplicação prática dos critérios ESG (sigla em inglês para ambiental, social e governação). "Os indicadores a reportar dependem da dimensão da operação, da tipologia do operador, etc. Um hotel de cidade e um hotel resort não são a mesma coisa, portanto, há necessidade de cada um encontrar o seu caminho", refere a responsável da AHP.
Medir para melhor gerir
O presidente do Turismo de Portugal corrobora que "a generalidade das empresas tem ainda algumas dificuldades em perceber a melhor forma de integrar objetivos sociais e ambientais na sua estratégia, nos seus instrumentos de gestão e nas suas operações". Uma lacuna que o programa Empresas Turismo 360° quer sanar. "Estamos a desafiar as empresas a comprometerem-se com a transição para a sustentabilidade subscrevendo uma carta de compromisso e iniciando uma jornada de sustentabilidade assente em princípios ambientais, sociais e de governação", diz Luís Araújo. Este programa tem na medição uma das suas chave mestra, incentivando as empresas do setor a reportar o seu desempenho em matéria de sustentabilidade. Para isso, apoia-as tecnicamente na integração dos fatores ESG na estratégia de negócio, na gestão e na cultura organizacional e orienta-as no processo de reporte regular de informação relacionada com as suas práticas ambientais, sociais e de governação. Nesta linha, é necessário medir para melhor gerir. "Ao permitir uma padronização no processo de recolha e de processamento dos dados de desempenho do setor, o Programa permitirá medir e percecionar as diferentes variáveis que podem condicionar os objetivos de transição e, ao mesmo tempo, criar uma base de conhecimento útil para os processos de tomada de decisão adotados por agentes públicos e privados e para a compreensão dos fatores determinantes da competitividade de Portugal enquanto destino turístico" destaca Luís Araújo. A empresas que aderirem a este programa terão acesso a uma ferramenta de analytics e reporting do respetivo desempenho em sustentabilidade. Espera-se que, até ao final do ano, sejam apresentados os primeiros relatórios de sustentabilidade das empresas aderentes.
360ºPrograma
O programa Empresas Turismo 360º quer ajudar as empresas a integrarem objetivos sociais e empresariais.
As boas práticas e os selos que as distinguem
É consensual que os consumidores procuram cada vez mais produtos e serviços turísticos sustentáveis e isso acaba por ser também uma força de transformação. O selo Ecolabel, da União Europeia; a norma ISO 21401 para hotéis sustentáveis, da APCER; a Certificação Biosphere, do Instituto de Turismo Responsável, ou o Green Key, da Foundation for Environmental Education, implementado em Portugal pela Associação Bandeira Azul da Europa, são instrumentos que dão aos consumidores essa garantia de respeito pelos critérios ESG.
E que critérios implementados são esses? As três unidades hoteleiras que aqui referimos exemplificam o que fazem para serem mais sustentáveis. No caso Vilalara Thalassa Resort, a utilização de um sistema de recarga para fornecer produtos de higiene pessoal, que reduz o uso de plástico e o transporte, e o recurso a água extraída do mar em piscinas, que se traduz na poupança de água doce, e a utilização de produtos locais são alguns exemplos das práticas existentes nesta unidade hoteleira. A ambição futura passa por aumentar a eficiência energética através da autoprodução via painéis fotovoltaicos.
100%Energia
O Inspira Liberdade usa energia de fontes 100% renováveis e painéis solar para aquecer as águas sanitárias.
Também a NeyaHotels mantém um conjunto de práticas e soluções para dar resposta às questões de sustentabilidade. Por exemplo, o hotel é abastecido totalmente a energia verde, é neutro em carbono e atinge taxas elevadas de separação de resíduos para reciclagem. Ao nível social, a Neya Hotels tem nas crianças o seu público-alvo para apoio, tendo celebrado parcerias com diversas instituições desta natureza. A nível de governação, o destaque vai para a criação de políticas e códigos de ética, a assinatura da carta da diversidade, a gestão do risco de negócio e a avaliação da cadeia de abastecimento.