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O combate às alterações climáticas é uma realidade que se entranhou em todos os setores da sociedade, seja por via legal ou por imposição do mercado. As empresas têm de transformar os seus negócios em operações sustentáveis e, para isso, é preciso saber como o fazer. E se é certo que a cultura sustentável deve ser incutida em todos os elementos da organização, também é claro que alguém tem de comandar o barco, com noção transversal do negócio, capacidade para identificar o que é preciso mudar e meios para o fazer. Jargões como critérios ESG (siga inglês apara critérios ambientais, sociais e de governação), taxonomia, compliance ou transição energética terão de ser assimilados e postos em prática por uma gestão que coloca a sustentabilidade no centro da estratégia.
Este imperativo está já a refletir-se no mercado de trabalho, impulsionando a criação de novos postos. "Na gestão corporativa, os perfis mais procurados são de head of Environmental, Social and Governance, Sustainable Development Manager ou head of Diversity & Inclusion. Nas áreas técnicas, temos os mesmos tipos de perfis, mas com um viés mais operacional e de execução. Perfis como técnico de Responsabilidade Social Corporativa - Diversidade & Inclusão e Sustentabilidade têm sido cada vez mais comuns", explica Paulo Tarso Ayres senior manager na Randstad Portugal.
A Organização Internacional do Trabalho prevê a criação de 24 milhões de empregos de perfis de sustentabilidade a nível internacional. Em Portugal, os dados apontam para 151 mil postos de trabalho criados nesta área até 2030, salienta o responsável de recursos humanos. A estes profissionais exige-se capacidade de comunicação e de gestão de diferentes stakeholders, para imprimirem uma mudança de comportamento e até de cultura corporativa nas organizações. Tarso Ayres salienta que "estes profissionais tendem a ter um salário até 30% mais elevado do que os perfis semelhantes, na área de processos e gestão, mas sem a especialização em sustentabilidade". O especialista destaca ainda que "o mercado tem aumentado muito e, como quase de forma transversal no mercado português, há uma carência muito grande de profissionais".
Conhecedor da realidade empresarial portuguesa, João Wengorovius Meneses, secretário-geral do BCSD Portugal, associação que agrega empresas que se comprometem com a transição para a sustentabilidade, começa por destacar que "o que se sente em Portugal é que a generalidades das pequenas, médias e mesmo grandes empresas ainda não compreende a importância do tema da sustentabilidade para a sua competitividade e resiliência. Tirando algumas exceções, são sobretudo as empresas cotadas e as multinacionais, nomeadamente aquelas que têm operações além-fronteiras em países mais desenvolvidos, as que já integraram os temas ESG nas suas matrizes de decisão. Mas esta realidade irá mudar depressa, por exigência da generalidade dos stakeholders." Dito isto, as empresas portuguesas sentem-se em dificuldades, como refere Wengorovius Meneses: "Por um lado, sentem que estamos à beira de um tsunami legal, que as novas exigências de compliance irão exigir elevados níveis de competências ESG. Por exemplo, em aspetos tão práticos quanto a avaliação de riscos e impactos ESG, o reporte de informação não financeira, a construção de planos para a igualdade e diversidade (ex.: igualdade de género, inclusão de pessoas portadoras de deficiências, etc.), ou a adoção de preços para o carbono ou os serviços de ecossistemas. Por outro lado, estão muito perdidas no que toca à diversidade atual de standards, ferramentas, certificações e conceitos ESG."
É então aqui que entra a necessidade de formação de quadros como aspeto decisivo para o desenvolvimento de competências organizacionais no domínio da sustentabilidade.
Formação: de workshops a MBA
Já existe uma diversidade de opções para quem queria fazer formação na área de sustentabilidade, desde workshops de algumas horas, passando por cursos, pós-graduações e até MBA que exigem um maior investimento temporal e financeiro. Também as escolas sentem a pressão do mercado por soluções desta natureza. "Tem havido uma crescente procura por oferta nesta área, sendo que os interessados procuram cada vez mais uma perspetiva holística da sustentabilidade nas suas várias dimensões e que os conhecimentos estejam integrados não só em programas criados especificamente com esta lente da sustentabilidade, mas também cada vez mais que preocupações sejam espelhadas de forma transversal nos diferentes programas já existentes", explica Ana Simaens, diretora de MBA in Sustainable Management no Iscte - Instituto Universitário de Lisboa.
Este instituto tem já uma tradição de oferta formativa na área da sustentabilidade. Na área de gestão em particular, a aposta tem sido em programas de curta duração, como o "Boost em Gestão da Sustentabilidade" e mais recentemente com a oferta de um "MBA in Sustainable Management". Esta oferta surge alinhada com a "urgência e pressão internacional para estes temas e para o papel que as escolas de gestão nesta matéria devem ter enquanto formadoras de atuais e futuros gestores", explica Ana Simaens. Brevemente será lançado também um doutoramento na área da sustentabilidade no Iscte.
No caso do ISEG, a oferta também se centra numa visão abrangente, "de modo a permitir uma visão holística da sustentabilidade nos negócios, possibilitando aos executivos e organizações adquirirem competências e ferramentas que promovam mais-valias para a organização, colaboradores e comunidade, assente num equilíbrio entre as vertentes económica, social e ambiental", explica Sofia Santos, professora e coordenadora do ISEG Sustainable Finance Knowledge Centre. Atualmente, o Instituto Superior de Economia e Gestão da Universidade de Lisboa oferece três programas específicos na área da sustentabilidade: o Sustainable Finance: green and climate finance, o Sustainability: A Corporate Journey, e a pós-graduação em Gestão da Sustentabilidade. A procura aqui também tem sido crescente. "Temos os programas de sustentabilidade com turmas completamente esgotadas, existindo duas edições de cada um por ano. Isto demonstra a procura dos profissionais portugueses por formação na área da sustentabilidade", assinala Sofia Santos, acrescentando que este tipo de oferta será cada vez mais procurado, "chegando a cada vez mais perfis dentro das organizações, para que a passagem do plano estratégico para a operacionalização seja eficaz".
Como multinacional na área da certificação e formação especializada, a SGS consegue palpar o interesse global crescente pela área da sustentabilidade. "Denota-se uma preocupação cada vez maior, seja ao nível da consultoria ou da formação. No entanto, a temática em Portugal ainda é vista como uma tendência e não uma realidade. O nosso trabalho passa também pela sensibilização e partilha de ações que façam a diferença e possam ser implementadas pelas organizações", assinala Sofia Franco, Academy Product Manager na SGS Portugal. No seu leque de oferta estão previstos vários cursos temáticos para 2022.
O próprio BCSD tem um calendário de formação teórica e prática desenhado para diferentes níveis de transição, que começa na formação sobre diagnóstico e vai até aos maiores desafios da sustentabilidade.
A perspetiva destes centros de formação é de uma procura crescente por competências nesta área dadas as necessárias transformações que as empresas têm de fazer, seja por programas generalistas ou especializados. Mas o que acontece com as empresas com menor capacidade de investimento em novos quadros ou na formação dos mesmos? João Meneses enaltece o papel que as associações empresariais poderão ter: "Uma empresa pequena que precise de fazer um diagnóstico ou um plano estratégico para acelerar a incorporação dos ESG na sua cadeia de valor e modelo de negócio deveria poder contar com ferramentas e o apoio técnico das associações empresariais do seu setor. Já temos centrais de compras e balcões de apoio ao investidor, agora é só estender esse tipo de apoios à sustentabilidade. Inclusive, o próprio Governo devia muito rapidamente lançar uma rede de balcões de apoio ao investidor sustentável - o nível de iliteracia é elevado no seio do tecido empresarial português no que respeita às oportunidades de financiamento de investimentos e esforços de transição para a sustentabilidade."
Este imperativo está já a refletir-se no mercado de trabalho, impulsionando a criação de novos postos. "Na gestão corporativa, os perfis mais procurados são de head of Environmental, Social and Governance, Sustainable Development Manager ou head of Diversity & Inclusion. Nas áreas técnicas, temos os mesmos tipos de perfis, mas com um viés mais operacional e de execução. Perfis como técnico de Responsabilidade Social Corporativa - Diversidade & Inclusão e Sustentabilidade têm sido cada vez mais comuns", explica Paulo Tarso Ayres senior manager na Randstad Portugal.
A Organização Internacional do Trabalho prevê a criação de 24 milhões de empregos de perfis de sustentabilidade a nível internacional. Em Portugal, os dados apontam para 151 mil postos de trabalho criados nesta área até 2030, salienta o responsável de recursos humanos. A estes profissionais exige-se capacidade de comunicação e de gestão de diferentes stakeholders, para imprimirem uma mudança de comportamento e até de cultura corporativa nas organizações. Tarso Ayres salienta que "estes profissionais tendem a ter um salário até 30% mais elevado do que os perfis semelhantes, na área de processos e gestão, mas sem a especialização em sustentabilidade". O especialista destaca ainda que "o mercado tem aumentado muito e, como quase de forma transversal no mercado português, há uma carência muito grande de profissionais".
Conhecedor da realidade empresarial portuguesa, João Wengorovius Meneses, secretário-geral do BCSD Portugal, associação que agrega empresas que se comprometem com a transição para a sustentabilidade, começa por destacar que "o que se sente em Portugal é que a generalidades das pequenas, médias e mesmo grandes empresas ainda não compreende a importância do tema da sustentabilidade para a sua competitividade e resiliência. Tirando algumas exceções, são sobretudo as empresas cotadas e as multinacionais, nomeadamente aquelas que têm operações além-fronteiras em países mais desenvolvidos, as que já integraram os temas ESG nas suas matrizes de decisão. Mas esta realidade irá mudar depressa, por exigência da generalidade dos stakeholders." Dito isto, as empresas portuguesas sentem-se em dificuldades, como refere Wengorovius Meneses: "Por um lado, sentem que estamos à beira de um tsunami legal, que as novas exigências de compliance irão exigir elevados níveis de competências ESG. Por exemplo, em aspetos tão práticos quanto a avaliação de riscos e impactos ESG, o reporte de informação não financeira, a construção de planos para a igualdade e diversidade (ex.: igualdade de género, inclusão de pessoas portadoras de deficiências, etc.), ou a adoção de preços para o carbono ou os serviços de ecossistemas. Por outro lado, estão muito perdidas no que toca à diversidade atual de standards, ferramentas, certificações e conceitos ESG."
É então aqui que entra a necessidade de formação de quadros como aspeto decisivo para o desenvolvimento de competências organizacionais no domínio da sustentabilidade.
Formação: de workshops a MBA
Já existe uma diversidade de opções para quem queria fazer formação na área de sustentabilidade, desde workshops de algumas horas, passando por cursos, pós-graduações e até MBA que exigem um maior investimento temporal e financeiro. Também as escolas sentem a pressão do mercado por soluções desta natureza. "Tem havido uma crescente procura por oferta nesta área, sendo que os interessados procuram cada vez mais uma perspetiva holística da sustentabilidade nas suas várias dimensões e que os conhecimentos estejam integrados não só em programas criados especificamente com esta lente da sustentabilidade, mas também cada vez mais que preocupações sejam espelhadas de forma transversal nos diferentes programas já existentes", explica Ana Simaens, diretora de MBA in Sustainable Management no Iscte - Instituto Universitário de Lisboa.
Este instituto tem já uma tradição de oferta formativa na área da sustentabilidade. Na área de gestão em particular, a aposta tem sido em programas de curta duração, como o "Boost em Gestão da Sustentabilidade" e mais recentemente com a oferta de um "MBA in Sustainable Management". Esta oferta surge alinhada com a "urgência e pressão internacional para estes temas e para o papel que as escolas de gestão nesta matéria devem ter enquanto formadoras de atuais e futuros gestores", explica Ana Simaens. Brevemente será lançado também um doutoramento na área da sustentabilidade no Iscte.
No caso do ISEG, a oferta também se centra numa visão abrangente, "de modo a permitir uma visão holística da sustentabilidade nos negócios, possibilitando aos executivos e organizações adquirirem competências e ferramentas que promovam mais-valias para a organização, colaboradores e comunidade, assente num equilíbrio entre as vertentes económica, social e ambiental", explica Sofia Santos, professora e coordenadora do ISEG Sustainable Finance Knowledge Centre. Atualmente, o Instituto Superior de Economia e Gestão da Universidade de Lisboa oferece três programas específicos na área da sustentabilidade: o Sustainable Finance: green and climate finance, o Sustainability: A Corporate Journey, e a pós-graduação em Gestão da Sustentabilidade. A procura aqui também tem sido crescente. "Temos os programas de sustentabilidade com turmas completamente esgotadas, existindo duas edições de cada um por ano. Isto demonstra a procura dos profissionais portugueses por formação na área da sustentabilidade", assinala Sofia Santos, acrescentando que este tipo de oferta será cada vez mais procurado, "chegando a cada vez mais perfis dentro das organizações, para que a passagem do plano estratégico para a operacionalização seja eficaz".
Como multinacional na área da certificação e formação especializada, a SGS consegue palpar o interesse global crescente pela área da sustentabilidade. "Denota-se uma preocupação cada vez maior, seja ao nível da consultoria ou da formação. No entanto, a temática em Portugal ainda é vista como uma tendência e não uma realidade. O nosso trabalho passa também pela sensibilização e partilha de ações que façam a diferença e possam ser implementadas pelas organizações", assinala Sofia Franco, Academy Product Manager na SGS Portugal. No seu leque de oferta estão previstos vários cursos temáticos para 2022.
O próprio BCSD tem um calendário de formação teórica e prática desenhado para diferentes níveis de transição, que começa na formação sobre diagnóstico e vai até aos maiores desafios da sustentabilidade.
A perspetiva destes centros de formação é de uma procura crescente por competências nesta área dadas as necessárias transformações que as empresas têm de fazer, seja por programas generalistas ou especializados. Mas o que acontece com as empresas com menor capacidade de investimento em novos quadros ou na formação dos mesmos? João Meneses enaltece o papel que as associações empresariais poderão ter: "Uma empresa pequena que precise de fazer um diagnóstico ou um plano estratégico para acelerar a incorporação dos ESG na sua cadeia de valor e modelo de negócio deveria poder contar com ferramentas e o apoio técnico das associações empresariais do seu setor. Já temos centrais de compras e balcões de apoio ao investidor, agora é só estender esse tipo de apoios à sustentabilidade. Inclusive, o próprio Governo devia muito rapidamente lançar uma rede de balcões de apoio ao investidor sustentável - o nível de iliteracia é elevado no seio do tecido empresarial português no que respeita às oportunidades de financiamento de investimentos e esforços de transição para a sustentabilidade."