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Stephanie Hare: “Na inteligência artificial, não há decisões neutras”

A investigadora e autora do livro “Technology is Not Neutral: A Short Guide to Technology Ethics” esteve em Cascais para falar sobre os desafios que esta tecnologia está a colocar à espécie humana, à sociedade e às empresas.

26 de Janeiro de 2024 às 12:00
A investigadora Stephanie Hare explicou as previsões da IA para 2024. Pedro Ferreira
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Stephanie Hare esteve na conferência ‘Desafios da governação ESG - da Inteligência Artificial (IA) às novas regras europeias’, onde foi keynote speaker. Com base na sua investigação, que deu origem ao livro "Technology is Not Neutral: A Short Guide to Technology Ethics", abordou questões éticas, regulatórias e de sustentabilidade, reforçando a ideia de que na tecnologia em geral, e na Inteligência Artificial (IA), em particular, "não há decisões neutras". Adicionalmente, a investigadora alertou para dados importantes que, apesar de conhecidos dos especialistas, "não estão a ser partilhados com o público". É o caso da pegada de carbono da IA, "o segredo atual mais bem escondido da indústria", diz, citando Kate Crawford, professora e autora do livro ‘Atlas of AI’.

Na verdade, Stephanie Hare explica que, quando se fala em IA, não estão a ser considerados os elevados custos ambientais do hardware, do software, da energia, ou da água utilizada para arrefecer os sistemas. A título de exemplo, a investigadora norte-americana refere que o ChatGPT ‘bebe’ uma garrafa de água de meio litro por cada conversa simples de 20 a 50 perguntas e respostas. Um consumo injustificável quando o mundo exige uma transição energética e uma descarbonização acelerada a outros setores e indústrias. "Precisamos de saber com exatidão qual o consumo de água desta tecnologia, quais as fontes de energia (fósseis ou verdes) e, acima de tudo, transparência para otimizar a sua utilização". Para tal, acredita que são essenciais novas leis e regulação, e divulgação, à semelhança do AI Act, da União Europeia que, ainda assim, "peca pela ausência do tema da sustentabilidade".

Cuidado com o excesso regulatório

Já na perspetiva das empresas nacionais, da academia e de entusiastas do tema, a IA traz um conjunto de novos desafios, cuja resolução não será imediata. "Estamos num momento de transformação da humanidade com a IA, à semelhança do que aconteceu com a eletricidade", defende Paulo Dimas. Para o CEO do Centro para a Inteligência Artificial Responsável, e vice-presidente para a Inovação da tecnológica portuguesa Unbabel, plataforma de tradução humana movida a inteligência artificial, nesta, como em qualquer outra transformação do mundo, há receios sobre o seu impacto no trabalho ou de extinção da espécie. No entanto, acredita que a IA será um complemento na maior parte dos setores, "dando boost a problemas que poupam semanas de trabalho, com o respetivo impacto económico".

Rui Lopes, CEO da AgentifAI, empresa que desenvolve software com recurso a modelos neuronais, defende que o maior efeito da IA será o aumento da produtividade, mas alerta para o perigo de discriminação que pode gerar. "Questões éticas, riscos e ameaças precisam de ser regulados". Ainda assim, acrescenta Paulo Dimas, "é preciso ter cuidado com o excesso regulatório que pode penalizar as pequenas e médias empresas". Uma opinião partilhada por Fernando Resina da Silva, sócio da VDA, que sublinha o risco de a UE perder a competitividade global por excesso de legislação.

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