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SNS sustentável: prevenção, boa gestão e integração de cuidados

O ex-ministro da Saúde e moderador do debate sobre o setor deu este exemplo: “Um sueco nasce com a possibilidade de viver sem doença até aos 70 anos, e um português até aos 59 anos”.

03 de Maio de 2023 às 17:00
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Da comparação entre Portugal e Suécia se partiu para falar de "Sustentabilidade - Saúde e bem estar", num debate moderado por Adalberto Campos Fernandes, ex-ministro da Saúde. "Um sueco nasce com a possibilidade de viver sem doença até aos 70 anos, e um português até aos 59 anos. Vivemos tanto como os suecos, e as mulheres até vivem mais, mas ganhamos a batalha da quantidade mas não da qualidade", revelou Adalberto Campos Fernandes.

"Estamos a falar de saúde e só oiço tratar da doença e, nos próprios seguros, se chama o ramo de doença. Na verdade estamos a falar de saúde e esta começa muito antes. Falta-nos uma visão de prevenção", afirmou José Pedro Inácio, CEO da AdvanceCare, durante a sessão "Sustentabilidade - Saúde e bem estar", depois de o moderador Adalberto Campos Fernandes, ex-ministro da Saúde e Professor NOVA ENSP ter pedido pediu sugestões de medidas para garantir a sustentabilidade do SNS até 2030. Adiantou que "a prevenção na saúde é a única forma de tratarmos a saúde como um todo de uma forma sustentável". Como referiu Adalberto Campos Fernandes, "Portugal tem um sistema de cuidados primários que é dos melhores da Europa, que faz por ano dezenas de milhões de contactos com a população, temos bons programas de saúde. Mas um sueco nasce com a possibilidade de viver sem doença até aos 70 anos, e um português até aos 59 anos. Vivemos tanto como os suecos, e as mulheres até vivem mais, mas ganhamos a batalha da quantidade mas não da qualidade".



Rui Diniz, CEO da CUF Saúde, disse que o sistema de saúde "precisa de boa gestão, com comparações, benchmark e indicadores". Um hospital como prestador de serviço de saúde tem de gerir a prestação de serviços de saúde com qualidade mas também com eficiência dos recursos. Vasco Antunes Pereira, CEO do grupo Lusíadas Saúde, defendeu uma verdadeira integração de cuidados. "Muitas vezes replica e sobrepõe esforços, introduz ineficiência e poderá até acontecer a dois níveis, tanto no custo da operação em si, como provavelmente até ao nível do financiamento. Não é algo que se faça no curto prazo mas olhando para uma perspetiva de médio e longo prazo".

As diferenças de regulação

As diferenças de regulação entre o SNS e a saúde privada estiveram no centro do debate. "Os hospitais privados não querem ter tratamento diferente dos hospitais públicos, queremos ter o mesmo tipo de regulação, de regras de internato, as carreiras", referiu Rui Diniz.

Para que haja uma nova geração de políticas públicas com a participação de privados "teria de se começar pela regulação e pelas políticas, porque temos regras pesadas sobre o setor privado que não são aplicadas ao setor público, o que inclui o sistema de carreiras", sublinhou Vasco Antunes Pereira. Na sua opinião, "deveríamos estar a preparar medidas para o futuro do sistema nacional de saúde em vez de andarmos constantemente a tentar recuperar o tempo perdido com os atrasos das intervenções cirúrgicas, das consultas, dos tratamentos". Por sua vez José Pedro Inácio defendeu "uma regulação forte mas justa" e considerou que não "falta regulação mas que as coisas sejam pragmáticas porque muitas vezes a regulação não é clara", sublinhado que na saúde "não se fala de clientes, mas de pessoas".

Para Isabel Vaz a pandemia provocou o reconhecimento decisivo da importância da saúde para a economia e a sociedade, e, por outro lado, fez acelerar as tecnologias digitais no setor da saúde. Nos aspetos negativos inclui a geração de "um mercado de doença gigante provocado não só pelo atraso dos tratamentos como da prevenção e rastreio de doenças crónicas, já que 50% das pessoas com mais de 65 anos tem mais de duas doenças crónicas", disse Isabel Vaz. Deu ainda como exemplo o facto de os cancros mais graves terem aumentado nos seus hospitais de 12% para 20%.



Álvaro Beleza: "A saúde não é um ‘business’ como qualquer outro" "A saúde não é um business como qualquer outro, estamos a falar da vida e da morte e a ideia de um serviço público universal para todos é extraordinária", defendeu Álvaro Beleza, médico e presidente da SEDES, numa conversa com a jornalista Helena Garrido.

Na sua opinião, "a reforma mais importante é a digitalização do sistema e proporcionar no futuro a livre escolha, para que o financiamento siga o doente. Ter no seu cartão do cidadão, o seu relatório clínico o que já vai evitar a repetição de exames atrás de exames e vai facilitar o acesso das pessoas. Quanto a mim, no futuro, devíamos ter um sistema em que no fundo todos podemos ser atendidos em todo lado porque nós já pagámos os impostos".
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