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O conflito na Ucrânia é “uma situação dramática do ponto de vista humano”, mas trouxe a necessidade de acelerar a transição energética. A análise é dos três CEO que participaram no painel da descarbonização da Grande Conferência Negócios Sustentabilidade.
"Portugal tem condições únicas na produção de energia solar e eólica e poderia ser um exportador energia renovável se não houvesse as limitações das s interligações elétricas, nomeadamente entre Espanha e França, que na prática limitam e transformam, em termos energéticos, Portugal e Espanha numa ilha ibérica", referiu Pedro Norton, CEO da Finerge, uma empresa que é líder na produção de energia eólica, durante o painel "Descarbonização: como vai diminuir a pegada de CO2?".
Na sua opinião, Portugal tem de aproveitar esta reflexão sobre a independência e a segurança energética na Europa, que durante muitos anos foi o parente pobre da reflexão sobre a energia, muito centrada no combate e mitigação das alterações climáticas.
Recorda que em 2014 quando a Rússia invadiu a Crimeia, a Comissão Europeia alertou para os perigos da dependência europeia das importações de gás da Rússia, na altura eram cerca de 40%, mas subiram para 45%. Pedro Norton acredita que o atual contexto pode, no curtíssimo prazo, gerar reações como as atuais discussões na Alemanha e na Itália de regresso ao carvão, e de voltar a apostar no nuclear, "mas deverão ser reações de curto prazo porque, a médio e longo prazo, há tendência de aceleração da transição energética e do investimento em produção de energia renovável, hidrogénio verde".
Preços previsíveis nas renováveis
Miguel Stilwell d’Andrade, CEO da EDP, centrou a sua intervenção em dois pontos que reforçam o caminho da descarbonização e da transição energética e para que se cumpram as metas de redução das emissões, e que são a independência energética e previsibilidade do preço da energia. A independência energética de Portugal e da Europa passa pela produção "de energia de forma endógena através da eólica, da solar, da hídrica, melhores alternativas do que as importações de carvão, petróleo e gás", disse Miguel Stilwell d’Andrade.
Por outro lado, "as renováveis têm um preço perfeitamente previsível. Fez-se recentemente um leilão com os preços para os próximos 15 anos e poderia ter sido para 30 anos, Seria um preço perfeitamente conhecido à partida e não haveria variabilidade como existe em relação ao brent, ou ao gás", explica Miguel Stilwell d’Andrade. Acrescentou que existe capital, tecnologia e que as renováveis são hoje as tecnologias mais baratas de produção de energia, por isso "temos de desbloquear licenciamentos, interligações, assegurar que um articulado regulatório estável, e se houver isto em termos de execução as empresas cá estão para executar".
Os desafios da eficiência energética
A AIE tem uma projeção de uma procura superior a 50% até 2050 liderada pelo aumento de procura na Ásia, por isso a eficiência energética é imprescindível e desde 1970 que os combustíveis fósseis constituem 70% das fontes primárias globais de energia, revelou na sua intervenção de abertura ao tema da descarbonização, Filipe Duarte Santos, presidente do Conselho Nacional do Ambiente e Desenvolvimento Sustentável. Por sua vez Júlia Seixas, Pró-Reitora da Universidade Nova de Lisboa e presidente do júri de Descarbonização e que moderou o debate, estimou que Portugal precisa de 70 mil milhões de euros para investir eficiência energética nos edifícios.
A Saint-Gobain é uma indústria de grande consumo energético, mas como explicou José Martos, Chief Executive Officer da Saint Gobain, os custos energéticos elevados justificam muitos dos investimentos para acelerar esta transição energética. E a empresa Saint-Gobain tem no seu portefólio produtos e soluções de eficiência energética especialmente na habitação. "Esta representa cerca de 40% das emissões da União Europeia, 12% na fase de construção, 28% na fase de utilização dos edifícios e se queremos atingir uma neutralidade carbónica temos de descarbonizar a habitação", sublinhou José Martos.
Portugal tem um parque habitacional muito antigo, com um desempenho energético muito fraco. "É uma oportunidade de mobilizar um setor que cada vez mais justifica a melhoria de eficiência energética para resolver o problema da pobreza energética e para criar uma dinâmica de economia circular. No processo de construção pode-se utilizar materiais reutilizáveis. Esta situação pode ser um acelerador da descarbonização", salientou José Martos.
Para o gestor da Saint-Gobain deveria haver alterações na forma como os incentivos da eficiência energética estão estruturados. "A parte mais importante para ser reformada e fazer um edifício mais eficiente é a envolvente, se não a conseguirmos isolar a envolvente, a energia poupada por equipamentos mais eficientes vai perder-se", considerou José Martos.