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Pedro Morão: “Estamos a trabalhar na cibersegurança do mundo quântico”

A cibersegurança, como a conhecemos, vai tornar-se obsoleta com os computadores quânticos, alerta Pedro Morão. O que vai exigir novas soluções.

Helena Garrido | Pedro Catarino - Fotografia 03 de Janeiro de 2024 às 12:30
Pedro Catarino
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    Bilhete de identidade Cargo: Warpcom, presidente-executivo (desde dezembro de 2021), Dimension Data Portugal, Solutions Director, Alcatel, Gestor de Produto
    Formação: Licenciado em Engenharia Eletrónica e de Telecomunicações, Universidade de Aveiro 

    A Warpcom faz parte de um consórcio nacional, lançado também a nível europeu, para criar o embrião daquilo que será a futura Internet Quântica, revela o presidente executivo da empresa, falando dos novos desafios que se colocam à cibersegurança com os computadores quânticos. "Estamos a usar mecanismos baseados na física quântica para gerar, digamos, chaves de encriptação resistentes àquilo que é o futuro pós-quantum", afirma. Convidado das "Conversas com CEO", integradas na iniciativa Negócios Sustentabilidade 20|30, Pedro Morão fala-nos do que hoje pedem as empresas à Warpcom, um integrador de soluções de tecnologias de informação e comunicação, e dos novos problemas colocados pelo pós-pandemia e por uma nova geração que resiste ao trabalho presencial. Durante mais de meia hora, numa entrevista aqui editada e que pode ser ouvida na íntegra em podcast, falamos ainda de inteligência artificial e daquilo que já se pode fazer com ela, com a recomendação de uma abordagem holística.

     

    Na sua carreira neste domínio da tecnologia o que é que o impressionou mais?

    Recordo-me que o email, hoje banal, era algo muito esotérico. O primeiro email profissional que tive era partilhado por várias pessoas. Houve uma transformação imensa. Eu acho que [o que mais me impressionou] foi a simplificação da vida das pessoas no âmbito pessoal e profissional. A produtividade efetivamente aconteceu. Hoje temos o tema da internet, da ubiquidade, da omnipresença, dos dispositivos. A hiperconectividade foi uma das grandes transformações.

     

    E como é que esta digitalização pode contribuir para a sustentabilidade ambiental?

    A digitalização veio simplificar toda a forma de atuação das pessoas e das organizações. O acesso ao email, a internet massificada, as redes móveis, a possibilidade de, onde quer que me encontre, aceder a toda a informação do meu negócio a partir do dispositivo de eleição, em qualquer momento, tudo isto veio simplificar a vida. Ao tornar o desempenho das funções mais ágeis, veio também reduzir a pegada de carbono das organizações.

     

    As grandes empresas vão ter de cumprir em 2024 critérios de sustentabilidade bastante mais exigentes. Precisam de saber, por exemplo, qual a pegada do fornecedor de nuvem. Têm essa preocupação na vossa oferta?

    Temos essa preocupação. Os novos data centers, ou a reformulação dos existentes, fazem-se numa ótica de otimização e de redução da pegada de carbono. Podia dar o exemplo do Sines, que até é nosso cliente…

     

    A Start Campus? O projeto vai continuar a avançar?

    Não gostaria muito de tecer comentários sobre o assunto, mas acredito que sim, porque acima de tudo há que ver a valia da oferta e qual o propósito da sua existência.

     

    A Start Campus é um exemplo de um data center sustentável?

    É o exemplo de um data center sustentável. Toda a estratégia de construção e operação está baseada em preocupações de sustentabilidade. Por exemplo, vão utilizar a água do mar no arrefecimento de toda a infraestrutura e a energia é de fontes renováveis. Aliás, atualmente, um dos critérios na maioria dos projetos é assegurar que a energia que utilizam é 100% de fontes renováveis. Os clientes têm essa preocupação.

     

    Há outras frentes que também levantam esse tipo de preocupações?

    Há várias preocupações. No data center, que é um dos grandes consumidores de energia, a preocupação tem de ser maior. Mas, no pós-pandemia assistimos ao conceito de ‘smart buildings’. É também uma das áreas onde estamos a trabalhar. Estamos a usar um conjunto de ferramentas que permite melhorar a experiência dos colaboradores dentro da organização, otimizar o consumo de energia e melhorar a qualidade do ar. 

     

    Os clientes pedem edifícios inteligentes que promovam o bem-estar dos colaboradores?

    E em simultâneo mais sustentável. As organizações no pós-pandemia necessitaram de readaptar os seus espaços. Primeiro, comentava-se que ia haver uma libertação de espaços. Mas não houve porque os espaços adaptaram-se. Na Warpcom aumentamos o número de espaços onde as pessoas se podem reunir. Um dos grandes sucessos na nossa organização – um investimento muito simples – é o conceito de cabine telefónica, um dispositivo de videoconferência de ambiente profissional. As pessoas têm um espaço em que podem fechar-se e fazer uma reunião com vários clientes à distância, incluindo outros colegas que podem estar noutra sala ou no edifício do Porto.

    As gerações mais jovens são as mais resistentes ao trabalho presencial.

    Uma das preocupações com o trabalho remoto é as pessoas perderem o sentimento de pertença à organização. Identifica esse problema?

    Plenamente. Uma das grandes preocupações da nossa equipa de gestão e minha é reforçar o envolvimento na organização e fazer com que aquilo que é a cultura, os valores, a missão seja assimilada pelas pessoas. É não só uma preocupação por causa da pandemia como também porque temos vindo a fazer uma transformação relativamente acelerada da força de trabalho. Tem-se incorporado muita gente jovem à nossa equipa. E temos constatado que as gerações mais jovens são as mais resistentes ao trabalho presencial. Preferem manter-se num ambiente muito mais distante de tudo o que as rodeia. E estamos continuamente à procura de formas de fazer com que as pessoas se aproximem. E não é pela imposição.

     

    E como é que têm feito?

    Fazemos, por exemplo, iniciativas periódicas, as Warpcom Talks. Partilhamos as áreas de inovação onde estamos a trabalhar, um projeto interessante que ganhámos ou uma das áreas da empresa vai falar sobre alguma reformulação que tenha feito. As pessoas vêm e aproximam-se mais. O feedback é de que gostariam de ter isto até com mais frequência. A grande preocupação de gestão na minha organização, e também nos nossos pares, é gerir os recursos humanos. É o maior desafio, não é sequer gerir a tecnologia.

     

    Nesta área das tecnologias, a concorrência tem sido grande e global. Mantém-se?

    Essa concorrência mantém-se. Em 23, a partir de meados do ano, a pressão baixou um pouco, afetada também pelo abrandamento económico na Europa central e nos EUA. Isso refletiu-se numa menor pressão, mas ela continua a existir.

     

    A inteligência artificial pode detetar de forma mais rápida e eficaz, por exemplo, fraudes. Também estão a trabalhar nessa área?

    Temos várias áreas de inovação e uma delas é a da inteligência artificial. Outra, relacionada com cibersegurança, é a área de Quantum, onde ainda pouca gente está a trabalhar.

     

    E quer explicar-nos o que é a tecnologia quântica?

    Todos nós já ouvimos falar da computação quântica. Os principais "players" estão a desenvolver computadores quânticos que, contrariamente aos clássicos que utilizam uns e zeros, baseiam-se na física quântica, em que um estado pode ser um ou zero ou ambos ao mesmo tempo. O que permite exponenciar a capacidade de processamento e trazer inúmeras mais-valias, de desenvolvimento de novos produtos, como medicamentos. Qual é o reverso? Essa capacidade de computação massiva vai permitir quebrar as chaves de encriptação usadas hoje na cibersegurança. O que vai implicar que a cibersegurança, como a conhecemos, se torne relativamente obsoleta. E nós estamos a usar mecanismos baseados na física quântica para gerar, digamos, chaves de encriptação resistentes àquilo que é o futuro pós-quantum. Estamos a trabalhar na cibersegurança do mundo quântico. Fazemos parte de um consórcio nacional, lançado também a nível europeu, para criar o embrião daquilo que será a futura Internet Quântica.

    Os computadores quânticos serão também capazes de potenciar a inteligência artificial?

    Exatamente. As vantagens da inteligência artificial começam a ser vistas no nosso dia a dia. Qual é a desvantagem? Consomem muita capacidade de processamento computacional e logo muita energia. Por isso é que devemos olhar para a inteligência artificial numa ótica mais holística, porque se a quisermos aplicar demasiado rápido, descurando o impacto na pegada de carbono, se calhar estamos a introduzir benefício por um lado e a causar danos por outro.

     

    E que outros desafios é que a inteligência artificial coloca aos vossos clientes?

    O principal tem a ver com questões de ética. Com a inteligência artificial podemos, por exemplo, fabricar vídeos cujo contexto seja incorreto e não corresponde à realidade.

     

    E os vossos clientes pedem-vos soluções para isso?

    Ainda não estamos aí. Ainda estamos na fase de tentar utilizar a inteligência artificial para executar tarefas simples que são feitas por humanos, libertando capacidade para coisas mais sofisticadas. Por exemplo, no nosso ‘Security Operation Center’ (SOC), o centro de operações de segurança que existe fisicamente, prestamos serviços de segurança aos nossos clientes. Utilizando inteligência artificial (IA), uma das coisas que fazemos é olhar, por exemplo, para as notícias do dia a dia. Tenho um cliente no setor de hotelaria. Se surgir uma notícia de que o setor foi alvo de ataque nos EUA e se se começar a identificar um padrão de ataques a grupos hoteleiros, no Reino Unido ou na América do sul, analisando esta informação, posso, utilizando IA, reconhecer padrões e depois fazer um resumo destas notícias, sem intervenção humana. É óbvio que isto depois é validado por um humano antes de se enviar para os clientes a dizer, ‘é apenas um alerta, estão a acontecer ataques’. O cliente vai ficar alerta, nós também, os nossos analistas vão estar muito mais atentos ao que se vai passar nas horas ou dias seguintes. Um outro exemplo: as nossas reuniões são gravadas através de um smartphone. Utilizando a inteligência artificial, no final da reunião a aplicação faz um resumo de tudo o que se passou.

    (…)Os conflitos atuais são cada vez mais de âmbito digital.

    A cibersegurança tem novos desafios com esta instabilidade que vivemos no mundo?

    Claro que sim. Aliás, os conflitos atuais são cada vez mais de âmbito digital do que real. Infelizmente, estamos a atravessar um período com dois conflitos reais, mas a maior parte deles – e muitas vezes com menos visibilidade – faz-se no ciberespaço. Há Estados que patrocinam atividades para levar a determinado tipo de resultados que afetem as políticas e a governação. E com os ‘smart building’, em que se faz muito uso da internet das coisas (IoT), em que usamos sensorização para praticamente tudo, como sensores nas câmaras de videovigilância, quanto mais espalho essa capacidade de conectividade, mais exponho as organizações. A cibersegurança é fundamental.

     

    Mas temos visto menos notícias sobre ataques. Tivemos um pico, nomeadamente com a Vodafone, o grupo Impresa e o grupo CUF...

    Diria que isto tem altos e baixos também. Mas, por outro lado, as organizações estão cada vez mais conscientes do que têm de fazer. Uma das nossas áreas que mais cresce é a de cibersegurança.

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