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Indico lança primeiro fundo português dedicado em exclusivo à economia do mar

Com 50 milhões de euros, dos quais 36 milhões já angariados, o fundo de capital de risco está vocacionado para startups e para pequenas e médias empresas exportadoras.  

24 de Janeiro de 2022 às 16:33
Miguel Baltazar/Negócios
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Descrito como "o primeiro fundo ativo em Portugal integralmente consagrado à economia do mar", o Indico Blue Fund, 100% capital privado, foi apresentado oficialmente esta segunda-feira, mas em quatro meses de subscrição já angariou 36 milhões de um total de 50 milhões de euros.

Lançado pela capital de risco portuguesa de Stephan Morais, Cristina Fonseca e Ricardo Torgal, o novo fundo está "não só orientado para a inovação, exportações e para o desenvolvimento tecnológico, mas também para a sustentabilidade procurando medir o impacto das empresas nos oceanos e desenvolver soluções que mitiguem os efeitos das alterações climáticas", de acordo com a Indico Capital Partners.

Na apresentação, que teve lugar ao início da tarde, na sede da Cuatrecasas Portugal, em Lisboa, com transmissão online em simultâneo, Stephan Morais explicou que podem ser alocados entre 100 mil e 5 milhões de euros a cada uma das empresas, dependendo designadamente do estágio de desenvolvimento, estando o período de investimento fixado em cinco anos.

"A economia portuguesa tem estado ligada ao oceano há seculos e, claramente, como noutras áreas está subcapitalizada, e o que os fundos fazem é facultar capital, 'equity' e apoio para que as empresas possam crescer", sublinhou o fundador da Indico Capital Partners, descrevendo uma "enorme oportunidade".

"Boa parte da economia portuguesa está relacionada com o mar e não é só em Lisboa e Porto, mas em todo o país, de Viana do Castelo ao Algarve até à Madeira e aos Açores, há muitas empresas, a maioria delas pequenas, mas com capacidade para crescer. Umas são bastante distintintivas e se tivessem capital podiam vender muito mais; e outras poderão ser únicas e tornarem-se em 'startups' bem-sucedidas ou até em unicórnios e nós temos as ferramentas para testar e ver se isso pode acontecer", afirmou.

O principal critério de elegibilidade é o contributo das empresas para "a sustentabilidade do oceano". "Posso dizer, por exemplo, que estamos a olhar para uma série de 'startups' que, embora não estejam ligadas diretamente, o que fazem têm um grande impacto nos oceanos", indicou Stephan Morais, dando conta de que, até ao momento, mais de 180 negócios foram analisados ou estão em processo de análise, dos quais dez em "avaliação aprofundada".

Sendo "a economia do mar extremamente vasta", as áreas de atuação das empresas podem ir desde o turismo costeiro às operações marítimas ou à pesca e aquacultura sustentáveis, num pacote temático que se alinha também com os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável das Nações Unidas e que, portanto, privilegia, por exemplo, empresas que contribuam para reduzir a poluição marítima, a acidificação do oceano ou que trabalhem para a conservação ds áreas costeiras e marinhas.

Para o líder da Indico Capital Partners, o facto de, em quatro meses, o Indico Blue Fund ter levantado 36 milhões de 50 milhões de euros, figura também como resultado do "sucesso" dos outros dois fundos da sociedade têm tido que, até ao momento, se traduziu no investimento na ordem de 33 milhões de euros em 28 empresas. "Temos sido capazes de transformar 1 euro em 2,5 euros o que não é nada mau perante baixas taxas de juro", realçou.

Stephan Morais deu o exemplo do principal fundo da sociedade - o VC Fund I - posto em marcha em 2019: "Foram investidos 31 milhões que agora valem 78 milhões, pelo que os investidores estão contentes e quando olham para a nossa performance pensam que talvez tenhamos mais empresas em que seja interessante apostar. Este é essencialmente o segredo para atrair investimento para as empresas portuguesas".

Além da "ficha" da sociedade de capital de risco, o m
anaging general partner da Indico destacou ainda que para a captação de investimento alcançada pelo novo fundo em pouco tempo contribuiu também a disponibilidade de programas incentivos criados pelo Governo "fulcrais" para atrair capital estrangeiro para Portugal, como os vistos gold.

Na sessão de apresentação do Indico Blue Fund esteve também, a partir de uma ligação aos Açores, o ministro do Mar, Ricardo Serrão Santos, para quem se afigura "muito importante" o "aparecimento de mais fundos privados em Portugal e especializados na economia azul, com enfoque no investimento em 'startups' e em pequenas e médias empresas ligadas ao mar com elevado potencial".

"Estou certo que se tornará um importante protagonista no cenário do financiamento da economia do mar no nosso país e na dinamização dos mais promissores setores e projetos nesta área", afirmou.

A sessão, que contou também com António Nogueira Leite, presidente do Fórum Oceano, associação do 'cluster' da economia do mar, da qual a Indico Capital Partners é membro, incluiu ainda um painel sobre as oportunidades do mar, com a presença da diretora-geral da Política do Mar, Helena Vieira, para quem a "retórica de que nada acontece tem de mudar um bocadinho".

"A economia do mar é o terceiro 
maior setor da economia nacional, portanto, alguma coisa bem devemos estar a fazer", assinalou Helena Pereira, apontando que o peso que tem de "5% nas exportações nacionais é mais do que o vinho, azeite e agroprodutos juntos".

Além disso, observou, há uma aposta que tem vindo a ser feita e que pode é ainda não ter resultados visíveis. Invocado o legado de Mariano Gago, a dirigente da DGPM realçou o "grande investimento em tecnologia e recursos humanos altamente qualificados nos últimos anos", apontando, por exemplo, Portugal figura ao lado da Noruega como o país que "mais produz 'outputs' científicos na área das ciências do mar", segundo um relatório da Unesco. "Estamos agora numa fase em que este número não se traduz na transformação deste valor em valor económico ou direto para a sociedade", reforçou.


A encerrar a sessão esteve o ministro da Economia, Pedro Siza Vieira, para quem o Indico Blue Fund figura como "o exemplo exato daquilo que Portugal mais precisa: mais capital para investir em empresas nascentes que sejam capazes de aproveitar este nosso oceano e a partir daí criar ideias que levem para o mercado uma multiplicidade de segmentos que a economia azul pode oferecer e, com isso, ajudar a acelerar o crescimento da nossa econonomia".


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