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Chegou-se a pensar que o Plano de Recuperação Económica da Europa poderia pôr em causa algumas das metas do Green Deal mas, em setembro, Ursula von der Leyen salientou que, pelo contrário, a neutralidade carbónica até 2050 é o objetivo primordial da UE e, para isso, seria necessário definir metas mais ambiciosas.
"Estamos a fazer tudo o que está ao nosso alcance para cumprir a promessa que fizemos aos europeus: fazer da Europa o primeiro continente com impacto neutro no clima até 2050. Atingimos, hoje, um marco importante nesta viagem. Com a nova meta de redução das emissões de gases com efeito da UE em, pelo menos, 55% até 2030 [face aos níveis de 1990], desbravamos o caminho que conduz a um planeta mais limpo e a uma recuperação ecológica. A Europa emergirá mais forte da pandemia de covid-19 ao investir numa economia circular e eficiente em termos da utilização dos recursos, ao promover a inovação em tecnologias limpas e ao criar empregos verdes", afirmou.
Já Frans Timmermans, vice-presidente executivo do Pacto Ecológico Europeu, declarou que "neste momento crucial para a nossa saúde, a nossa economia e a ação climática mundial, é essencial que a Europa mostre um caminho que conduza a uma recuperação ecológica. Agir agora é o nosso dever para com os nossos filhos e netos. Hoje, a Europa mostra ao mundo de que modo reforçará o bem-estar e a prosperidade dos seus cidadãos na próxima década, trabalhando para alcançar o seu objetivo de neutralidade climática até 2050."
Nessa mesma semana, também a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE) tinha lançado o policy brief - "Fazendo a recuperação verde funcionar para empregos, rendimento e crescimento", na qual se foca em como os países podem criar oportunidades para uma recuperação económica verde e inclusiva da pandemia covid-19, sublinhando que "uma recuperação verde aumentará significativamente a resiliência das economias e sociedades face tanto a uma recessão severa como aos desafios ambientais cada vez maiores".
Energia no centro do Green Deal
Por seu lado, a comissária da Energia, Kadri Simson, salientou que "com base nas atuais medidas e nos planos dos Estados-membros, estamos em vias de ultrapassar a nossa presente meta de 40% para 2030, comprovando, assim, que ser mais ambicioso é não só necessário, mas também realista. O sistema energético estará no centro deste esforço. Tiraremos partido da história de sucesso do setor europeu das energias renováveis, analisaremos todos os instrumentos de que dispomos para aumentar a nossa eficiência energética e criaremos alicerces sólidos para uma Europa mais verde."
O Pacto Ecológico Europeu e os impactos que pode vir a ter no desenvolvimento da transição energética e na recuperação nacional e europeia gerada pela covid-19 estiveram em debate na semana passada na Portugal Renewable Energy Summit 2020, a conferência anual da Associação Portuguesa de Energias Renováveis (APREN), este ano sob o tema "A eletricidade renovável no centro da descarbonização" e realizada em formato digital a partir da Culturgest.
Numa mensagem transmitida no início da conferência, a comissária da Energia elogiou Portugal como "um dos países líderes das renováveis na Europa e no mundo", uma vez que 30% da energia consumida é energia limpa, e esta percentagem deverá subir para 47% em 2030. "Desta forma estabeleceram um objetivo muito ambicioso para todos os outros países", disse, elogiando também os projetos de Portugal para o hidrogénio verde.
No primeiro painel "O Green Deal enquanto game-changer para a Europa", Paula Abreu Marques, chefe de Unidade de Política de Renováveis e CCS da Comissão Europeia, considerou que a nova meta de redução das emissões em 55% até 2030 "é um passo considerável" referindo haver "urgência para atuar", mas uma "oportunidade política: não podemos negar o enorme apoio da opinião pública exigindo a aceleração da ação climática". Além disso, os "efeitos da crise climática global" já se manifestam, dando o exemplo dos fogos em Portugal. Falando sobre o investimento nas energias limpas, salientou que "criou mais empregos e mais benefícios sociais locais. Grandes projetos de energias renováveis são formas fáceis de atrair capital e dar impulso à economia".
Impulsionar a expansão das renováveis
Giles Dickson, CEO da WindEurope (Associação Europeia de Energia Eólica), em entrevista à APREN à margem da conferência (citado pela Ambiente Magazine), destaca alguns dos benefícios que o Green Deal pode trazer a Portugal, afirmando que o Acordo Verde Europeu vai "impulsionar a mudança energética", através da "expansão das renováveis", permitindo "descarbonizar a energia" no país. Assim, "os consumidores portugueses não vão estar a pagar para importar combustíveis fósseis" do exterior da Europa para Portugal: "A energia vai ser gerada essencialmente a partir de eletricidade feita aqui em Portugal", sublinha.
O Green Deal também vai permitir a criação de empregos, considera o responsável: "Portugal tem uma cadeia de abastecimento fantástica para a energia eólica", dando como exemplo Viana do Castelo e outros lugares, onde se desenvolvem geradores e turbinas. "As empresas são altamente competitivas", diz, acreditando que "vamos ter cada mais parques eólicos a serem construídos na Europa".
Giles Dickson recorda ainda que as renováveis são "agora a forma mais barata da energia", ou seja, "quantas mais renováveis, menos os portugueses vão ter de gastar nos recursos energéticos" e em relação ao papel do setor renovável na recuperação em Portugal, o CEO da Associação Europeia de Energia Eólica não tem dúvidas de que "as indústrias das energias renováveis vão ter um papel cada vez mais importante nesta transição".
Durante o 1.º painel da Portugal Renewable Energy Summit 2020, Giles Dickson tinha afirmado que "17% da energia consumida na Europa" vem do vento. "Continuamos a construir parques eólicos. Continuamos a investir", afirmou. Questionado sobre como suportar a industrialização, Giles Dickson disse ser necessário "apoiar ativamente a cadeia de abastecimento", investindo na inovação em toda a linha, desde "a próxima geração sexy de tecnologia de renováveis" à tecnologia já "madura e estabelecida", sob pena de a Europa perder a "vantagem competitiva para os chineses".
China adere à descarbonização
Quanto à China e aos Estados Unidos, Giles Dickson disse acreditar que os comportamentos na China já estão a mudar, uma vez que "anunciaram há três semanas que querem chegar à neutralidade carbónica muito antes de 2060", o que é bastante significativo. "No futuro vamos ter muitos Estados elétricos e a Europa precisa de se posicionar para que seja um desses Estados", afirmou o responsável. Quanto à China, acredita que a pressão do Governo quer tornar o país no "Estado elétrico líder", estando ativamente a exportar "eletricidade renovável". Nesta transição energética, Giles Dickson referiu que a Europa é quem tem de liderar o mundo.
Intervindo no mesmo painel, também Walburga Hemetsberger, CEO da SolarPower Europe, considerou que a Comissão Europeia assume um papel crucial: "Não teríamos tido o anúncio da China se a Europa não estivesse a investir muito e a planear a neutralidade carbónica até 2050". Vista como uma "concorrência leal", a responsável defendeu que "não devemos encerrar as nossas fronteiras no que diz respeito às políticas comerciais", até porque "vivemos num mundo global" acreditando que "podemos assegurar e continuar com a transição energética" e com "parceiros fora da Europa".
"Estamos a fazer tudo o que está ao nosso alcance para cumprir a promessa que fizemos aos europeus: fazer da Europa o primeiro continente com impacto neutro no clima até 2050. Atingimos, hoje, um marco importante nesta viagem. Com a nova meta de redução das emissões de gases com efeito da UE em, pelo menos, 55% até 2030 [face aos níveis de 1990], desbravamos o caminho que conduz a um planeta mais limpo e a uma recuperação ecológica. A Europa emergirá mais forte da pandemia de covid-19 ao investir numa economia circular e eficiente em termos da utilização dos recursos, ao promover a inovação em tecnologias limpas e ao criar empregos verdes", afirmou.
Já Frans Timmermans, vice-presidente executivo do Pacto Ecológico Europeu, declarou que "neste momento crucial para a nossa saúde, a nossa economia e a ação climática mundial, é essencial que a Europa mostre um caminho que conduza a uma recuperação ecológica. Agir agora é o nosso dever para com os nossos filhos e netos. Hoje, a Europa mostra ao mundo de que modo reforçará o bem-estar e a prosperidade dos seus cidadãos na próxima década, trabalhando para alcançar o seu objetivo de neutralidade climática até 2050."
Nessa mesma semana, também a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE) tinha lançado o policy brief - "Fazendo a recuperação verde funcionar para empregos, rendimento e crescimento", na qual se foca em como os países podem criar oportunidades para uma recuperação económica verde e inclusiva da pandemia covid-19, sublinhando que "uma recuperação verde aumentará significativamente a resiliência das economias e sociedades face tanto a uma recessão severa como aos desafios ambientais cada vez maiores".
Energia no centro do Green Deal
Por seu lado, a comissária da Energia, Kadri Simson, salientou que "com base nas atuais medidas e nos planos dos Estados-membros, estamos em vias de ultrapassar a nossa presente meta de 40% para 2030, comprovando, assim, que ser mais ambicioso é não só necessário, mas também realista. O sistema energético estará no centro deste esforço. Tiraremos partido da história de sucesso do setor europeu das energias renováveis, analisaremos todos os instrumentos de que dispomos para aumentar a nossa eficiência energética e criaremos alicerces sólidos para uma Europa mais verde."
O Pacto Ecológico Europeu e os impactos que pode vir a ter no desenvolvimento da transição energética e na recuperação nacional e europeia gerada pela covid-19 estiveram em debate na semana passada na Portugal Renewable Energy Summit 2020, a conferência anual da Associação Portuguesa de Energias Renováveis (APREN), este ano sob o tema "A eletricidade renovável no centro da descarbonização" e realizada em formato digital a partir da Culturgest.
Numa mensagem transmitida no início da conferência, a comissária da Energia elogiou Portugal como "um dos países líderes das renováveis na Europa e no mundo", uma vez que 30% da energia consumida é energia limpa, e esta percentagem deverá subir para 47% em 2030. "Desta forma estabeleceram um objetivo muito ambicioso para todos os outros países", disse, elogiando também os projetos de Portugal para o hidrogénio verde.
No primeiro painel "O Green Deal enquanto game-changer para a Europa", Paula Abreu Marques, chefe de Unidade de Política de Renováveis e CCS da Comissão Europeia, considerou que a nova meta de redução das emissões em 55% até 2030 "é um passo considerável" referindo haver "urgência para atuar", mas uma "oportunidade política: não podemos negar o enorme apoio da opinião pública exigindo a aceleração da ação climática". Além disso, os "efeitos da crise climática global" já se manifestam, dando o exemplo dos fogos em Portugal. Falando sobre o investimento nas energias limpas, salientou que "criou mais empregos e mais benefícios sociais locais. Grandes projetos de energias renováveis são formas fáceis de atrair capital e dar impulso à economia".
Impulsionar a expansão das renováveis
Giles Dickson, CEO da WindEurope (Associação Europeia de Energia Eólica), em entrevista à APREN à margem da conferência (citado pela Ambiente Magazine), destaca alguns dos benefícios que o Green Deal pode trazer a Portugal, afirmando que o Acordo Verde Europeu vai "impulsionar a mudança energética", através da "expansão das renováveis", permitindo "descarbonizar a energia" no país. Assim, "os consumidores portugueses não vão estar a pagar para importar combustíveis fósseis" do exterior da Europa para Portugal: "A energia vai ser gerada essencialmente a partir de eletricidade feita aqui em Portugal", sublinha.
O Green Deal também vai permitir a criação de empregos, considera o responsável: "Portugal tem uma cadeia de abastecimento fantástica para a energia eólica", dando como exemplo Viana do Castelo e outros lugares, onde se desenvolvem geradores e turbinas. "As empresas são altamente competitivas", diz, acreditando que "vamos ter cada mais parques eólicos a serem construídos na Europa".
Giles Dickson recorda ainda que as renováveis são "agora a forma mais barata da energia", ou seja, "quantas mais renováveis, menos os portugueses vão ter de gastar nos recursos energéticos" e em relação ao papel do setor renovável na recuperação em Portugal, o CEO da Associação Europeia de Energia Eólica não tem dúvidas de que "as indústrias das energias renováveis vão ter um papel cada vez mais importante nesta transição".
Durante o 1.º painel da Portugal Renewable Energy Summit 2020, Giles Dickson tinha afirmado que "17% da energia consumida na Europa" vem do vento. "Continuamos a construir parques eólicos. Continuamos a investir", afirmou. Questionado sobre como suportar a industrialização, Giles Dickson disse ser necessário "apoiar ativamente a cadeia de abastecimento", investindo na inovação em toda a linha, desde "a próxima geração sexy de tecnologia de renováveis" à tecnologia já "madura e estabelecida", sob pena de a Europa perder a "vantagem competitiva para os chineses".
China adere à descarbonização
Quanto à China e aos Estados Unidos, Giles Dickson disse acreditar que os comportamentos na China já estão a mudar, uma vez que "anunciaram há três semanas que querem chegar à neutralidade carbónica muito antes de 2060", o que é bastante significativo. "No futuro vamos ter muitos Estados elétricos e a Europa precisa de se posicionar para que seja um desses Estados", afirmou o responsável. Quanto à China, acredita que a pressão do Governo quer tornar o país no "Estado elétrico líder", estando ativamente a exportar "eletricidade renovável". Nesta transição energética, Giles Dickson referiu que a Europa é quem tem de liderar o mundo.
Intervindo no mesmo painel, também Walburga Hemetsberger, CEO da SolarPower Europe, considerou que a Comissão Europeia assume um papel crucial: "Não teríamos tido o anúncio da China se a Europa não estivesse a investir muito e a planear a neutralidade carbónica até 2050". Vista como uma "concorrência leal", a responsável defendeu que "não devemos encerrar as nossas fronteiras no que diz respeito às políticas comerciais", até porque "vivemos num mundo global" acreditando que "podemos assegurar e continuar com a transição energética" e com "parceiros fora da Europa".