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Movimentos como o recém-criado "Unidos Contra o Desperdício", que envolve várias entidades, têm sido lançados para consciencializar os cidadãos, isto porque os maiores culpados somos todos nós, os consumidores. De acordo com dados de 2016 citados pela Comissão Nacional de Combate ao Desperdício Alimentar, o consumo é responsável em 53% pelo desperdício alimentar, contra 19% da transformação, 12% da hotelaria e restauração, 11% da produção e 5% do comércio grossista e retalho. Por isso é tão importante envolver os consumidores.
"O desperdício alimentar é, essencialmente, uma questão de gestão e tem muitas envolventes e complexidades. Mais do que recuperar nesta área e matéria, a palavra de ordem deve ser evitar já que quando se produz um qualquer alimento, ainda que não transformado ou confecionado, usamos e investimos recursos naturais e outros escassos no planeta", salienta Paula Policarpo, presidente da Zero Desperdício (associação DariAcordar).
As entidades públicas, privadas e da sociedade civil têm trabalhado em conjunto e já há sinais positivos: desde 2012 a rede Zero Desperdício salvou do ‘lixo’ mais de 6.873 toneladas de comida; desde 2011 o Movimento Refood resgatou mais de 5.000 toneladas de comida, para alimentar quem mais precisa; em 2018 a agricultura contribuiu com 8,9% das 7.768 toneladas de alimentos doados aos bancos alimentares, evitando o desperdício de 700 toneladas de produtos agrícolas; em 2019, os bancos alimentares evitaram que 17.219 toneladas de alimentos fossem desperdiçadas, reaproveitando-as para alimentar 320.000 pessoas. Também no ano passado as empresas de distribuição alimentar doaram 15.911 toneladas de alimentos a 1.000 Instituições Particulares de Solidariedade Social.
Conhecer os prazos de validade
Um dos pontos focados por todos os responsáveis contactados é a importância de os consumidores saberem distinguir bem a diferença entre os prazos de validade referidos nos alimentos, que tem sido alvo de várias campanhas: "consumir até" informa sobre a segurança dos alimentos, mas "consumir de preferência antes de" informa sobre a qualidade dos alimentos, ou seja podem ser consumidos depois da data indicada.
Do lado das empresas e instituições várias iniciativas têm vindo a ser lançadas para prevenir e reduzir o desperdício alimentar.
Cadeias alimentares empenham-se
Já as cadeias da distribuição inquiridas (Continente, Pingo Doce e Recheio, Lidl e Auchan) garantem todas que a redução do desperdício alimentar é um compromisso sério que assumiram, com diversas ações que têm implementado. Além das doações alimentares a IPSS, todos os operadores têm também estratégias de destaque, e normalmente baixa de preço, para produtos com prazo de validade próximo do fim, como é o caso do Continente. "Implementadas há mais de dez anos nas lojas Continente, as etiquetas cor-de-rosa (rótulos inteligentes de depreciação) comunicam uma redução de preço em produtos que se aproximam do fim do prazo de validade", explica Pedro Lago, diretor de Projetos de Sustentabilidade e Economia Circular da Sonae MC.
Fonte oficial do grupo Jerónimo Martins refere o caso dos "legumes considerados ‘feios’ (com tamanhos, cor ou forma não padronizados, mas com perfil nutricional igual aos outros e, portanto, totalmente aptos para serem consumidos) - que costumavam ser deixados nos campos pelos produtores pela dificuldade de escoamento - são comprados pelo Pingo Doce à produção e incorporados nas sopas feitas nas nossas cozinhas centrais, ou transformados em legumes prontos a utilizar, a chamada ‘IV gama’ (ex. saladas, legumes pré-cortados, etc.)", adiantando que: "Só em 2019, o Pingo Doce utilizou mais de 3.700 toneladas de legumes não calibrados em sopas e produtos de IV gama".
Outro exemplo, dado por Paulo Monteiro, diretor de Responsabilidade Social e Corporativa da Auchan Retail Portugal, é "a iniciativa ‘Pão para Culinária’, onde a Auchan vende o pão do dia anterior, que pode ser utilizado para culinária (tostas, migas) a um preço mais baixo. Já os pães com mais de dois dias são transformados em pão ralado. (…) Até setembro conseguimos evitar o desperdício de mais de 15 toneladas de pão".
Já o Lidl salienta, Vanessa Romeu, diretora do Departamento Comunicação Corporativa, aposta "numa entrega diária de frutas, legumes e carne em todas as lojas", procurando "que as encomendas sejam ajustadas às necessidades de cada loja e dos nossos clientes", adiantando que "convertemos as nossas sobras de pão, pastelaria específica e peixe em ração para animais, numa lógica de economia circular".
HoReCa aposta na redução
Os hotéis, restaurantes e cafés também se juntaram a este movimento de redução do desperdício alimentar. Ana Jacinto, secretária geral da AHRESP afirma que "na área social, muitos estabelecimentos fazem já chegar as suas sobras a IPSS, Organizações Não Governamentais e outras entidades sociais locais, quer diretamente, quer através de redes nacionais como a Refood ou a Zero Desperdício (entidades capacitadas e que cumprem os procedimentos técnicos existentes elaborados pelas autoridades competentes ASAE e DGAV)". E acrescenta: "Também vários estabelecimentos têm aderido a projetos inovadores no combate ao desperdício alimentar para dar uma segunda vida ao seu excedente alimentar, como por exemplo usando aplicações como a Too Good to Go e Phenix, que ligam consumidores a estabelecimentos, permitindo uma segunda oportunidade a alimentos em perfeitas condições de consumo".
Sobre a aplicação Too Good To Go, a country manager de Portugal e Espanha salienta que "em Portugal, a TGTG surgiu em finais de outubro de 2019, e atualmente conta com uma comunidade de mais de 470.000 utilizadores e 2.000 estabelecimentos parceiros, que juntos já salvaram mais de 260.000 refeições do desperdício, o que equivale a 700 toneladas de CO2e que não foram libertadas para a atmosfera, caso essas refeições fossem desperdiçadas". Madalena Rugeroni adianta que "a nível global a Too Good To Go, num universo de 15 países, já conta com uma comunidade de 26 milhões de utilizadores, mais de 71.000 estabelecimentos que já salvaram cerca de 47 milhões de refeições o que equivale a mais de 118.000 toneladas de CO2".
"O desperdício alimentar é, essencialmente, uma questão de gestão e tem muitas envolventes e complexidades. Mais do que recuperar nesta área e matéria, a palavra de ordem deve ser evitar já que quando se produz um qualquer alimento, ainda que não transformado ou confecionado, usamos e investimos recursos naturais e outros escassos no planeta", salienta Paula Policarpo, presidente da Zero Desperdício (associação DariAcordar).
As entidades públicas, privadas e da sociedade civil têm trabalhado em conjunto e já há sinais positivos: desde 2012 a rede Zero Desperdício salvou do ‘lixo’ mais de 6.873 toneladas de comida; desde 2011 o Movimento Refood resgatou mais de 5.000 toneladas de comida, para alimentar quem mais precisa; em 2018 a agricultura contribuiu com 8,9% das 7.768 toneladas de alimentos doados aos bancos alimentares, evitando o desperdício de 700 toneladas de produtos agrícolas; em 2019, os bancos alimentares evitaram que 17.219 toneladas de alimentos fossem desperdiçadas, reaproveitando-as para alimentar 320.000 pessoas. Também no ano passado as empresas de distribuição alimentar doaram 15.911 toneladas de alimentos a 1.000 Instituições Particulares de Solidariedade Social.
Conhecer os prazos de validade
Um dos pontos focados por todos os responsáveis contactados é a importância de os consumidores saberem distinguir bem a diferença entre os prazos de validade referidos nos alimentos, que tem sido alvo de várias campanhas: "consumir até" informa sobre a segurança dos alimentos, mas "consumir de preferência antes de" informa sobre a qualidade dos alimentos, ou seja podem ser consumidos depois da data indicada.
Do lado das empresas e instituições várias iniciativas têm vindo a ser lançadas para prevenir e reduzir o desperdício alimentar.
A rede Zero Desperdício, que trabalha com cerca de 555 doadores e 207 recetores – instituições públicas e privadas, que envolvendo mais de 22.600 voluntários, levou o equivalente a 13.337.856 refeições a perto de 563.330 beneficiários, como nos informa Paula Policarpo.
Cadeias alimentares empenham-se
Já as cadeias da distribuição inquiridas (Continente, Pingo Doce e Recheio, Lidl e Auchan) garantem todas que a redução do desperdício alimentar é um compromisso sério que assumiram, com diversas ações que têm implementado. Além das doações alimentares a IPSS, todos os operadores têm também estratégias de destaque, e normalmente baixa de preço, para produtos com prazo de validade próximo do fim, como é o caso do Continente. "Implementadas há mais de dez anos nas lojas Continente, as etiquetas cor-de-rosa (rótulos inteligentes de depreciação) comunicam uma redução de preço em produtos que se aproximam do fim do prazo de validade", explica Pedro Lago, diretor de Projetos de Sustentabilidade e Economia Circular da Sonae MC.
53%Consumo
Em Portugal, o consumo é responsável por 53% do desperdício alimentar, contra 19% da transformação e 12% da hotelaria.
33%Alimentos
88 milhões de toneladas (173 quilos por pessoa) são desperdiçados todos os anos. Este número representa um terço dos alimentos do mundo.
Outro exemplo, dado por Paulo Monteiro, diretor de Responsabilidade Social e Corporativa da Auchan Retail Portugal, é "a iniciativa ‘Pão para Culinária’, onde a Auchan vende o pão do dia anterior, que pode ser utilizado para culinária (tostas, migas) a um preço mais baixo. Já os pães com mais de dois dias são transformados em pão ralado. (…) Até setembro conseguimos evitar o desperdício de mais de 15 toneladas de pão".
Já o Lidl salienta, Vanessa Romeu, diretora do Departamento Comunicação Corporativa, aposta "numa entrega diária de frutas, legumes e carne em todas as lojas", procurando "que as encomendas sejam ajustadas às necessidades de cada loja e dos nossos clientes", adiantando que "convertemos as nossas sobras de pão, pastelaria específica e peixe em ração para animais, numa lógica de economia circular".
HoReCa aposta na redução
Os hotéis, restaurantes e cafés também se juntaram a este movimento de redução do desperdício alimentar. Ana Jacinto, secretária geral da AHRESP afirma que "na área social, muitos estabelecimentos fazem já chegar as suas sobras a IPSS, Organizações Não Governamentais e outras entidades sociais locais, quer diretamente, quer através de redes nacionais como a Refood ou a Zero Desperdício (entidades capacitadas e que cumprem os procedimentos técnicos existentes elaborados pelas autoridades competentes ASAE e DGAV)". E acrescenta: "Também vários estabelecimentos têm aderido a projetos inovadores no combate ao desperdício alimentar para dar uma segunda vida ao seu excedente alimentar, como por exemplo usando aplicações como a Too Good to Go e Phenix, que ligam consumidores a estabelecimentos, permitindo uma segunda oportunidade a alimentos em perfeitas condições de consumo".
Sobre a aplicação Too Good To Go, a country manager de Portugal e Espanha salienta que "em Portugal, a TGTG surgiu em finais de outubro de 2019, e atualmente conta com uma comunidade de mais de 470.000 utilizadores e 2.000 estabelecimentos parceiros, que juntos já salvaram mais de 260.000 refeições do desperdício, o que equivale a 700 toneladas de CO2e que não foram libertadas para a atmosfera, caso essas refeições fossem desperdiçadas". Madalena Rugeroni adianta que "a nível global a Too Good To Go, num universo de 15 países, já conta com uma comunidade de 26 milhões de utilizadores, mais de 71.000 estabelecimentos que já salvaram cerca de 47 milhões de refeições o que equivale a mais de 118.000 toneladas de CO2".
Estratégia nacional assenta na colaboração Em Portugal, 2016 foi o ano nacional de combate ao desperdício alimentar, tendo sido criada pelo Governo a Comissão Nacional de Combate ao Desperdício Alimentar (CN-CDA), que integra várias entidades públicas e da sociedade civil e que tem por missão promover a redução do desperdício alimentar através de uma abordagem integrada e multidisciplinar, propondo uma Estratégia Nacional de Combate ao Desperdício Alimentar (ENCDA).
A ENCDA foi aprovada em 2018 e Eduardo Diniz, diretor-geral do Gabinete de Planeamento, Políticas e Administração Geral (GPP), que tutela a CNCDA, explica ao Jornal de Negócios que "está assente em três objetivos estratégicos; prevenir, reduzir e monitorizar, que se desenvolvem num plano de ação com 14 medidas de natureza transversal e multidisciplinar, todas em execução".
No que respeita a iniciativas, Eduardo Diniz destaca a criação do site institucional (cncda.gov.pt); o envolvimento da Educação, Saúde, Segurança Social e outras áreas de forma articulada; as campanhas de informação (datas de validade - consumir preferencialmente antes de vs. consumir até), com ASAE e DGAV, a DGC, a APED; o selo distintivo anunciado a 29 de setembro deste ano - "Produção Sustentável, Consumo Responsável"; e a plataforma eletrónica (em fase de concurso público).
O diretor-geral do GPP considera que "para o futuro a curto e médio prazo, os principais desafios estão certamente associados ao investimento na monitorização e de alinhamento com a Diretiva Resíduos, assim como o reforço da visibilidade desta Comissão e Estratégia, que ainda não teve uma campanha de sensibilização com grande abrangência nacional".
A ENCDA foi aprovada em 2018 e Eduardo Diniz, diretor-geral do Gabinete de Planeamento, Políticas e Administração Geral (GPP), que tutela a CNCDA, explica ao Jornal de Negócios que "está assente em três objetivos estratégicos; prevenir, reduzir e monitorizar, que se desenvolvem num plano de ação com 14 medidas de natureza transversal e multidisciplinar, todas em execução".
No que respeita a iniciativas, Eduardo Diniz destaca a criação do site institucional (cncda.gov.pt); o envolvimento da Educação, Saúde, Segurança Social e outras áreas de forma articulada; as campanhas de informação (datas de validade - consumir preferencialmente antes de vs. consumir até), com ASAE e DGAV, a DGC, a APED; o selo distintivo anunciado a 29 de setembro deste ano - "Produção Sustentável, Consumo Responsável"; e a plataforma eletrónica (em fase de concurso público).
O diretor-geral do GPP considera que "para o futuro a curto e médio prazo, os principais desafios estão certamente associados ao investimento na monitorização e de alinhamento com a Diretiva Resíduos, assim como o reforço da visibilidade desta Comissão e Estratégia, que ainda não teve uma campanha de sensibilização com grande abrangência nacional".