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A caminho de faturas diferentes para água e resíduos

“Como é que se atribui a um cidadão, a um lar, a fatura dos resíduos, é uma equação complicada. Estamos empenhados em encontrar vias para chegar a essa separação”, afirmou Emídio Pinheiro, CEO da EGF.

03 de Maio de 2023 às 16:30
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"Na gestão dos resíduos o ponto de partida é muito mau face ao que temos de fazer, mas acelerar quer dizer recuperar o atraso", começou por afirmar Emídio Pinheiro, CEO da EGF, durante o debate, "Como acelerar a proteção do planeta?", moderado por Francisco Ferreira, presidente da ZERO. Defendeu ainda que, para se atingir os objetivos para 2030 e 2035, há a necessidade de uma cultura de cooperação e colaboração, e que é um desafio equivalente ao das Descobertas.

O gestor da EGF considerou que a participação dos "cidadãos na gestão dos resíduos urbanos é central" e que as pessoas reagem sobretudo a incentivos. Por isso defende a sua criação na área da reciclagem premiando que a faz e contribui para a economia circular. Para Emídio Pinheiro, o grande enigma é como se faz.

"O Plano Estratégico para os Resíduos Sólidos Urbanos dá indicações claras nessa matéria, temos de nos afastar da fatura da água pela falta de incentivos que gera. Como é que se atribui a um cidadão, a um lar, a fatura dos resíduos, é uma equação complicada. Estamos empenhados em encontrar vias para chegar a essa separação", afirmou Emídio Pinheiro.



A Águas de Portugal está no coração de um dos temas chave para o futuro do planeta e está no centro do ciclo hidrológico da água e das alterações climáticas. Debate-se com temas como o desperdício, a eficiência hidrológica e a circularidade da água "num território muito assimétrico como realidades diferentes a Norte do Tejo em que o problema é gestão as águas fora de tempo enquanto no a Sul do tejo é a falta de água, a que o Alqueva veio dar algumas soluções", afirmou José Furtado.

Alternativas à escassez de água

Fez ainda referência aos problemas colocados pelas zonas costeiras do Algarve e do Alentejo em que as soluções passam pela dessalinização, havendo um projeto para o Algarve apoiado por fundos do PRR. "É o último dos recursos mas a longo prazo vai ser mais recorrente", referiu José Furtado. Assinalou ainda o potencial de reutilização de águas sobretudo na agricultura, que é o grande consumidor de água.

Os plásticos são um dos grandes contribuintes para os resíduos mas também uma área de crescente inovação na reciclagem. A Silvex nasceu em 1968 e entrou nos bioplásticos em 2008 em colaboração com uma empresa norueguesa de compostagem. "Exportamos 98% sobretudo para os países nórdicos e para Espanha, onde os sacos da fruta na distribuição alimentar passaram a ser biocombustíveis e há muitos casos de sucesso na combustagem em Espanha", disse Hernâni Magalhães, CEO da Silvex.

Lembrou ainda o caso da cidade de Milão, que implantou um grande projeto de reciclagem de biocombustíveis, e consegue recuperar 105 quilos em 120 quilos de plásticos biocombustíveis. A Silvex está também na reciclagem de plásticos tradicionais, que segundo as estatísticas, é de 3%, através da compra dos plásticos aos seus clientes.

Sofia Reis Jorge, CSO da Altri, referiu a transformação de uma indústria que era de papel e celulose em produtora de fibras celulósicas com diversas aplicações. Deu o exemplo da Celbi em que, há uns anos 80% da produção era para papel de escrita, e hoje é para produtos de uso doméstico, como tissue para guardanapos, rolos de papel de cozinha, papel higiénico, mas que "é quase impossível de reciclar", como afirmou Francisco Ferreira.

Sofia Jorge lembrou a entrada no têxtil através da Caima que produz pasta solúvel cuja fibra substitui as que são feitas de hidrocarbonetos como a viscose, mas que em termos ambientais tem mais impacto que a liocel, uma fibra celulósica tão confortável como o algodão, e que é produzida de uma forma ambiental mais eficiente.


O grande desafio é a descarbonização "O grande desafio, em termos de proteção ambiental, tem a ver com a descarbonização, com as alterações climáticas associadas tanto à descarbonização dos transportes como à utilização de energias renováveis", referiu Nuno Lacasta, presidente da Agência Portuguesa do Ambiente (APA), na conversa com com Carlos Marçalo, Diretor de conteúdos e Projetos Especiais da Cofina. Na Europa cerca de 300 mil pessoas morrem prematuramente por doenças influenciadas pela má qualidade do ar. Em Portugal este número está estimado em cerca de 6 mil pessoas. "É uma pandemia anual, é um número bastante superior ao número de sinistralidade rodoviária. No dia em que conseguirmos em Portugal descarbonizar os transportes este número praticamente desaparece", explicou Nuno Lacasta.
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