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Energias renováveis em Portugal: presas ou predadores?

Portugal pode ser uma potência nas energias renováveis. Não na produção dos materiais e equipamentos, que necessita de escala para ser competitiva, mas na criação de conhecimento e na inovação tecnológica, potenciando a experiência acumulada. Isto devia ser um desígnio nacional. Porém, é um tema ausente da campanha eleitoral.

Bruno Proença 14 de Fevereiro de 2024 às 14:00
Bruno Proença, Consultor de Sustentabilidade
Bruno Proença, Consultor de Sustentabilidade
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Os valores de 2023 só podem provocar um sorriso largo. De acordo com a informação da Redes Energéticas Nacionais (REN), a produção de energia renovável no ano passado atingiu o valor mais elevado de sempre no sistema português, representando 61% do consumo de energia elétrica. Ou seja, quase dois terços. Deste valor, 25% resultou da energia eólica, 23% da energia hidroelétrica e a energia fotovoltaica e biomassa abasteceram 7% e 6%, respetivamente.

O setor energético está assim no bom caminho para garantir o seu contributo para o objetivo de ‘net zero’, em termos de emissões de gases com efeitos de estufa, que está previsto para 2050, no âmbito dos Acordos de Paris e das metas da União Europeia que Portugal subscreveu. Obviamente que o resultado recorde de 2023 tem uma componente conjuntural - a meteorologia ajudou. Mas é também fruto de um investimento consistente de muitas décadas. Desde o século passado que a produção elétrica em Portugal teve uma forte componente hídrica, resultante da aposta em barragens. Na primeira década deste século chegou o investimento na energia eólica. E, mais recentemente, no solar, aproveitando as excelentes condições naturais do país.

Não me parece que seja uma moda. Multiplicam-se os projetos na energia fotovoltaica, aproveitando a forte diminuição do preço da tecnologia e dos materiais. Na energia eólica, o offshore parece ser a nova fronteira. E a venda de carros elétricos continua a bater recordes.

Portugal já atingiu uma certa maturidade na produção de energias renováveis. Tem um conjunto de empresas no mercado que acumularam conhecimento e são reconhecidas internacionalmente pelos projetos que já implementaram em território nacional, mas também no estrangeiro. A EDP e a Galp são os casos mais óbvios, a que se juntam empresas internacionais a operar no mercado nacional. E, portanto, a questão é simples: o que vamos fazer no futuro? Vamos ser predadores ou presas?

Este é o momento ideal para esta discussão, pois o país vive um dos períodos eleitorais mais determinantes das últimas décadas. Nos debates televisivos entre os diferentes líderes partidários, a discussão tem sido coxa, repetindo um erro clássico na política à portuguesa: fala-se muito onde gastar o dinheiro e quase nada sobre como produzir e criar riqueza.

Deixo uma humilde sugestão - Portugal pode ser uma potência nas energias renováveis. Não obviamente na produção dos materiais e equipamentos, que necessita de escala para ser competitiva. Aqui o problema é da União Europeia, que não consegue responder aos chineses, hoje líderes na produção do solar, eólicas e veículos elétricos. Portugal pode ser uma potência na criação de conhecimento e na inovação tecnológica relacionada com as energias renováveis, potenciando a sua experiência e a reputação que acumulou.

Há obstáculos que têm de ser ultrapassados (voltarei a este ponto na próxima semana), mas os diferentes partidos políticos deviam assumir este projeto como um desígnio nacional. Nas próximas décadas, as várias instituições antecipam que o investimento será de biliões de euros e há muita tecnologia para desenvolver, por exemplo no hidrogénio verde ou na nova geração do nuclear. Portugal devia posicionar-se como um ‘hub’ de inovação no setor das energias renováveis, tendo uma política de captação de projetos significativos e disruptivos.

Ciências e Factos União EuropeiaA Comissão Europeia aprovou nova legislação para as empresas que fornecem ratings de sustentabilidade ESG. O objetivo é responder a uma crítica recorrente dos vários ‘stakeholders’, que acusam estas empresas de falta de transparência nas suas metodologias. Assim, as novas regras obrigam a maior clarificação e a uma aprovação prévia pela European Securities and Markets Authority, o regulador financeiro europeu.

ExxonMobilNos Estados Unidos, a ExxonMobil decidiu levar à justiça um grupo de acionistas que pretendiam apresentar uma proposta em Assembleia Geral para que a petrolífera fosse mais ambiciosa em termos ambientais. A medida é um sinal do clima nos EUA contra a sustentabilidade. Mas provocou ondas de choque, pois é considerada uma ação desproporcionada e que ataca os direitos básicos dos acionistas.
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