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Dívida verde ganha balanço em 2023 para subir este ano

O ano passado, a emissão de “green bonds” a nível global subiu mais de 9% para 400 mil milhões. Por cá, as empresas seguiram esta tendência. Para 2024, os analistas preveem um bom ano para a dívida verde.

07 de Fevereiro de 2024 às 13:30
A EDP, liderada por Miguel Stilwell d’Andrade voltou a ser a maior emitente, em Portugal, de dívida verde. Miguel Baltazar
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Em 2023, a emissão de dívida verde ganhou força a nível global, apesar do ambiente de elevadas taxas de juro. Portugal não escapou à tendência mundial, tendo as colocações de "green bonds" empresariais aumentado ligeiramente. Para este ano, o ritmo de colocações deve aumentar, a nível mundial, à medida que os bancos centrais aliviam o ciclo de aperto monetário.

9,36%Um bom ano
Em 2023, a emissão de dívida verde subiu 9,36%, a nível global, para 400 milhões de euros, apesar dos juros elevados.
Ao todo, o ano passado, foram colocados em todo o mundo, 492,30 mil milhões de dólares, o equivalente a 457,89 mil milhões de euros à taxa de câmbio atual, uma subida de 9,36%, quando comparado com os 446,18 mil milhões de dólares (414,82 mil milhões de euros) colocados por Estados e empresas em todo o mundo em 2022, de acordo com os dados disponibilizados pela Climate Bonds Initiative. A Europa voltou a ser a principal emitente, entre as várias regiões do globo, tendo sido responsável por quase metade das colocações de dívida verde.

Já numa análise por países e com foco só no último trimestre do ano, as emissões de obrigações verde aumentaram ligeiramente (3,21%) para 108,24 mil milhões de dólares (100,85 mil milhões de euros).

"A China ultrapassou os EUA e a Alemanha, tornando-se o principal emitente [entre outubro e dezembro] com 21,83 mil milhões de dólares" em volume de dívida emitida, observa a S&P Global, numa publicação sobre este tema. A Alemanha caiu mesmo para o terceiro lugar, com 7,14 mil milhões de dólares em colocações de dívida verde, menos de metade dos 15,12 mil milhões de dólares colocados um ano antes, e que ajudaram o país a conquistar o primeiro lugar desta mesma tabela em 2022.

3,6Portugal
As empresas nacionais alocaram cerca de 3,6 mil milhões de euros em 2023, uma subida ligeira face ao ano anterior.
Também por cá, no ano passado, fez-se sentir uma subida ligeira no financiamento verde, com as empresas nacionais a contrair empréstimos obrigacionistas num total de aproximadamente 3,6 mil milhões de euros, face aos 2,8 mil milhões contabilizados em 2022, de acordo com os dados recolhidos pelos Negócios e que incluem tanto emissões públicas como privadas.

A EDP voltou a ser protagonista , tendo sido responsável pela esmagadora maioria do montante alocado com "green bonds", o qual superou os três mil milhões de euros ao longo ano.

 

2024 promete ser um bom ano para a dívida verde

 

O mercado espera que 2024 seja o ano de corte de juros diretores. No caso dos EUA, a própria Reserva Federal (Fed) norte-americana já projetou no seu "dot plot" reduções da taxa dos fundos federais ao longo deste ano.

Assim, "os cortes das taxas de juro deverão ser um fator de apoio ao mercado das ‘green bonds’", considera Takahide Kiuchi. O economista-chefe do Nomura Research Institute destaca que no caso concreto dos EUA "a mudança na política monetária, se executada, deverá ter um forte impacto no mercado". Também o UBS antecipa, no seu "outlook" sobre sustentabilidade, que em 2024, as emissões de obrigações sustentáveis devem continuar a crescer em níveis iguais ou superiores aos de 2023". Além disso, o banco suíço admite ainda que seja provável que os Estados continuem a registar maiores montantes, face às empresas.

Por outro lado, a emissão de dívida japonesa deve contrair este ano, "à medida que o mercado obrigacionista japonês de obrigações verdes vai enfrentar obstáculos," alerta a S&P Global. Recorde-se que o mercado aponta para que o banco central comece a subir os juros diretores nos próximos meses.

Por cá, existe uma grande neblina sobre este ano, já que do ponto de vista das empresas o montante de colocações "depende sobretudo de um número mais restrito de emitentes", pelo que "enquanto não se alargarem a empresas mais pequenas que possam fazer emissões privadas" será " difícil que haja emissão de dívida verde", considera João Moreira Rato, presidente do Instituto Português de Corporate Governance, em declarações ao Negócios. Do lado do Estado, também não se vislumbra qualquer emissão de "green bonds", tendo em conta que "os grandes projetos que poderiam ser financiados por ‘green bonds’ são afetados pelo PRR, pelo que não há projetos suficientes para serem financiados por dívida verde", acrescenta o ex-presidente da Agência de Gestão de Tesouraria e Dívida Pública - IGCP.
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