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Europa, um gigante ambiental com pés de barro

Seguindo a tradição da burocracia de Bruxelas, tem sido colocado muito esforço na legislação, mas há pouca ação no terreno. No papel, a Europa lidera. Na inovação, na economia e nas empresas, perde, sobretudo para a China, líder no solar, eólicas e veículos elétricos.

31 de Janeiro de 2024 às 14:00
Bruno Proença, Consultor de Sustentabilidade
Bruno Proença, Consultor de Sustentabilidade
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A Comissão Europeia vai apresentar, na próxima semana, a nova ambição para a Europa em termos de metas de redução das emissões de gases com efeitos de estufa, que devem ser atingidas em 2040. O documento ainda não é conhecido e a polémica já está garantida. Nota-se uma certa fadiga relativamente aos temas relacionados com a sustentabilidade.

Muitos países mantêm o assunto na agenda política, mas deixaram de apoiar a ambição da Comissão Europeia com o mesmo entusiasmo. Vários líderes políticos de França, Alemanha e Bélgica, por exemplo, pedem que Bruxelas abrande no ritmo legislativo associado ao ‘Green Deal’. O argumento que sustenta esta pretensão é que é necessário dar tempo aos setores industriais e agrícolas para assimilarem as alterações e para se fazerem as devidas avaliações.

Na verdade, os governos destes países estão a sofrer a pressão dos seus eleitorados que sentem as novas regulamentações verdes como restrições ao desenvolvimento dos seus negócios. As fortes manifestações dos agricultores em França são somente o exemplo mais recente.

Esta contestação surge num momento crucial para a agenda europeia para a sustentabilidade. A Comissão Europeia, liderada por Ursula von der Leyen, sempre apresentou os temas da sustentabilidade como forças motrizes para a modernização da Europa. E, na verdade, a União Europeia, através do Green Deal e de outras políticas, tem sido líder mundial em muitos tópicos.

Tem o mercado de transação de licenças para emissões de carbono mais desenvolvido. O novo Carbon Border Adjustment Mechanism (CBAM) é inovador e deverá ser copiado por outros gigantes como os Estados Unidos. E as diretivas europeias como a Taxonomia, a Diretiva de reporte de informação não financeira e a Diretiva relativa ao dever de diligência das empresas em matéria de sustentabilidade estão claramente à frente do que se passa nos EUA, Reino Unido ou na China. Porém, a União Europeia é um gigante com pés de barro. Seguindo a boa tradição da burocracia de Bruxelas, tem sido colocado muito esforço na legislação, mas há pouca ação no terreno. No papel, a Europa lidera. Na economia e nas empresas, perde para os Estados Unidos e China.

A Europa está a sofrer sobretudo com a concorrência da China. O país que se considera o Império do Meio é hoje um dos líderes tecnológicos no solar, eólicas e veículos elétricos. Além disto, devido à sua forte capacidade produtiva, consegue colocar esses produtos na União Europeia a preços mais baratos do que os oferecidos pelas empresas europeias.

A situação é de tal forma grave que os fabricantes europeus de painéis solares estão a reclamar apoios estatais sob pena de terem de encerrar as fábricas. Outro exemplo gritante, é a refinação de lítio, um metal essencial para muitos dos produtos associados à transição energética. Quantas refinarias de lítio existem hoje em funcionamento na Europa? Zero.

Este é o verdadeiro paradoxo. A China mantém-se como o maior emissor de C02 do mundo, tendo representado 31% do total de emissões em 2022. Mas é líder no fabrico de muitos dos produtos essenciais para a descarbonização da economia. A Europa é o inverso. Tem reduzido as suas emissões de gases com efeitos de estufa, porém só lidera na regulamentação. A sua dependência da China para atingir os objetivos climáticos é gritante.

A Comissão Europeia tem de mudar de políticas. Caso contrário, a União Europeia vai perder a corrida da sustentabilidade enquanto força transformadora da economia e sociedade.

CIências e Factos Fundos verdesDe acordo com dados da Morningstar, no último trimestre de 2023, as saídas de fundos sustentáveis suplantaram os novos investimentos. O desinvestimento líquido foi de 2,5 mil milhões de dólares. Como tem sido habitual, temos um comportamento divergente entre a Europa e os Estados Unidos. Na Europa registaram-se investimentos líquidos de 3,3 mil milhões de dólares, ao passo que nos EUA a saídas líquidas foram de 5 mil milhões de dólares.

Embalagens recicladasA procura de embalagens recicladas em 2030 vai superar em muito a capacidade de produção. Esta é a análise da McKinsey. A procura deve atingir as 90 milhões de toneladas por ano e a oferta deverá ficar-se pelas 60 milhões de toneladas por ano. Isto significa que há um forte potencial de crescimento neste setor.
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