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É inegável. A pandemia trouxe consigo alterações nos padrões de consumo, com um despertar para o comércio eletrónico. Mas, se para o negócio esta mudança parece ser um bom indício, o mesmo não acontece para o ambiente. Como refere Nabo Martins, presidente executivo da Associação dos Transitários de Portugal (APAT), estima-se que cerca de 20% dos congestionamentos resultem de cargas/descargas e o "last mile" represente entre 40 e 50% do custo. Face a este cenário, e na opinião de Nabo Martins, o principal desafio da mobilidade é... a falta de mobilidade.
Poder-se-ia pensar que a mobilidade elétrica já estaria implementada na última milha. Esse é, na opinião de Raul Magalhães, presidente da Associação Portuguesa de Logística (APLOG), o caminho. No entanto, existem muitas limitações "quer na autonomia das baterias, quer na infraestrutura de carregamento", frisa. "Mas é algo que está claro em termos de caminho a percorrer", acrescenta.
Já Olivier Establet, CEO da DPD Portugal, considera que um dos principais problemas reside no facto de o público "não estar familiarizado com novos formatos de entrega mais sustentáveis - como as soluções Out-of-Home - e que, por esse motivo, opta pelos modelos de entrega "tradicionais" porta a porta, sendo estes uma opção menos sustentável, sobretudo se não estivermos a falar de veículos elétricos".
Lockers e pontos de recolha: soluções mais sustentáveis?
Para contrapor à entrega na residência (ou no escritório) que corre o risco de não encontrar o consumidor aquando da entrega (as chamadas entregas falhadas) há duas alternativas: os lockers e os pontos de recolha. Na opinião de Olivier Establet, cuja empresa tem cerca de 200 cacifos espalhados pelo país, apresentam uma clara vantagem em relação às entregas porta a porta ao permitirem poupar recursos concentrando várias entregas numa só localização e, dessa forma, reduzir emissões.
A opinião é partilhada por Raul Magalhães, que considera que "são uma boa solução permitindo que o cliente possa levantar a encomenda quando lhe for mais conveniente, evitando as entregas falhadas". O que não invalida que ainda haja um "caminho longo a percorrer no sentido de estudar e otimizar as melhores soluções para cada centro urbano".
Nabo Martins, da APAT, prefere uma visão mais cautelosa. Para o executivo, os lockers são soluções alternativas que podem e devem ser estudadas. "Se forem colocados junto dos centros mais congestionados, em locais de boa acessibilidade e de preferência com locais de estacionamento de veículos mais ligeiros e mais amigos do ambiente, permitindo recolhas em horas do dia menos movimentadas, motivando as pessoas a utilizar, permitindo que os vários distribuidores utilizem as mesmas plataformas, obrigando a que a distribuição seja feita com recurso a veículos mais ligeiros e ecológicos, que essa distribuição seja feita de noite, penso que poderão ser uma alternativa muito eficaz na diminuição de emissões, congestionamentos e até de distancias percorridas", refere. Para que isso seja possível, o presidente executivo da APAT considera que deverão ser criados hubs de carga nos limites das cidades e a partir daí efetuar a distribuição. E equacionar que seja possível que uma mesma distribuidora entregue carga de vários transportadores/empresas no mesmo destino, na casa do cliente final, ou num locker ou uma outra solução tipo smart city hub.
A somar a estes desafios junta-se um outro: estará o consumidor disposto a pagar um pouco mais pela sustentabilidade da distribuição? Na opinião do presidente da APLOG, o consumidor começa a ter outra mentalidade, nomeadamente as novas gerações, e entende que para se atingirem melhorias significativas na sustentabilidade vai ser necessário fazer um esforço de pagar um pouco mais.
E esta nova mentalidade, acrescenta o CEO da DPD traduz-se também no começar a ter em conta as várias opções existentes, como a entregas em lojas pickup ou através dos lockers. E, por muita resistência que, eventualmente, possa haver, a convicção de Nabo Martins é de que será inevitável que o consumidor terá de pagar a sustentabilidade. "Quase nunca ninguém está disponível para pagar mais, até quando se defende um transporte mais ‘verde’, mas diria que vai ser uma inevitabilidade", aponta.
O papel das autarquias
Qualquer que seja a solução escolhida o papel das autarquias é fundamental neste processo, tendo existido nos últimos anos um forte interesse neste tema da mobilidade sustentável, com imensos projetos e ideias, alguns dos quais já implementados e outros em fase de estudo e discussão que serão implementados em muitas autarquias, nomeadamente nas de maior dimensão, refere Raul Magalhães.
Nabo Martins, por seu lado, acrescenta que as autarquias deviam pensar muito seriamente em criar parques de estacionamento nas entradas das grandes cidades e a partir daí promover mais mobilidade sustentável. E dá um exemplo: quem paga o estacionamento do automóvel deveria poder utilizar uma bicicleta, trotinete ou outro, gratuitamente. Para o presidente executivo da APAT uma solução poderia ser, por exemplo, ter faixas horárias diárias. "Parece-me ser uma verdade inquestionável dizer que quanto menos veículos e mais distribuídos por faixas horárias diárias, mais mobilidade e seguramente se aumentaria a oferta já disponível de transportes públicos, pois com menos veículos, maior seria esta disponibilidade e rapidez, logo eficiência" aponta.
O que dizem as distribuidoras
A DPD é uma das empresas de distribuição que, nos últimos anos, tem investido em várias iniciativas no sentido de ser o mais sustentável possível. Passou pela criação de uma rede nacional de pontos de recolha e outra de lockers (hoje já são mais de 200 espalhados pelo país com a tendência de aumentar), mas, também, por uma frota de veículos de entregas totalmente elétrica, a atuar em Lisboa e Porto. O objetivo, segundo Olivier Establet, é alargar a iniciativa a outras cidades portuguesas.
Já a DHL Supply Chain afirmou que 60% das suas entregas de última milha já são feitas através de veículos elétricos. Sendo que o objetivo é, até 2030, ter mais de 80 mil veículos (elétricos) na estrada a nível mundial. A par da atualização da frota a empresa utiliza combustíveis sustentáveis nas restantes linhas de transporte e aposta na otimização da rede.
A sustentabilidade do transporte de mercadorias (longo curso) ainda não tem uma solução à vista. A mobilidade elétrica não é solução. Seja porque as baterias atuais não têm a capacidade necessária, seja porque não há uma estrutura europeia de redes de carregamento, seja porque quem faz este tipo de transportes não pode estar à parado à espera que as baterias carreguem. Mas o mesmo não acontece com a última milha. Aqui a mobilidade sustentável já começa a ser visível (embora ainda haja um longo caminho a percorrer). Já há empresas que têm viaturas elétricas na sua frota e o consumidor começa a despertar para novas soluções, nomeadamente os lockers e os pontos de recolha. Com a massificação destas soluções talvez a última milha se torne, efetivamente, sustentável.
Poder-se-ia pensar que a mobilidade elétrica já estaria implementada na última milha. Esse é, na opinião de Raul Magalhães, presidente da Associação Portuguesa de Logística (APLOG), o caminho. No entanto, existem muitas limitações "quer na autonomia das baterias, quer na infraestrutura de carregamento", frisa. "Mas é algo que está claro em termos de caminho a percorrer", acrescenta.
O público não está familiarizado com novos formatosde entrega mais sustentáveis. Olivier Establet, CEO da DPD Portugal
Isso só não basta. "É também importante, em particular nas grandes cidades, termos a capacidade de construir um modelo diferente de distribuição que permita a redução do número de veículos a fazer pequenas entregas", refere Raul Magalhães. Para que isso aconteça, é preciso que se criem hubs que centralizem os produtos, para que depois as viaturas rentabilizem as entregas aos pontos de venda ou aos clientes finais. Uma solução, acrescenta o presidente da APLOG, que "terá também interesse para a logística inversa, cada vez mais relevante e crítica para a economia circular".Já Olivier Establet, CEO da DPD Portugal, considera que um dos principais problemas reside no facto de o público "não estar familiarizado com novos formatos de entrega mais sustentáveis - como as soluções Out-of-Home - e que, por esse motivo, opta pelos modelos de entrega "tradicionais" porta a porta, sendo estes uma opção menos sustentável, sobretudo se não estivermos a falar de veículos elétricos".
Lockers e pontos de recolha: soluções mais sustentáveis?
Para contrapor à entrega na residência (ou no escritório) que corre o risco de não encontrar o consumidor aquando da entrega (as chamadas entregas falhadas) há duas alternativas: os lockers e os pontos de recolha. Na opinião de Olivier Establet, cuja empresa tem cerca de 200 cacifos espalhados pelo país, apresentam uma clara vantagem em relação às entregas porta a porta ao permitirem poupar recursos concentrando várias entregas numa só localização e, dessa forma, reduzir emissões.
Lockers são uma boa solução permitindo levantar a encomenda quando for conveniente sem entregas falhadas. Raul Magalhães, Presidente da APLOG
Sem esquecer, acrescenta o CEO da DPD, que conferem um elevado grau de flexibilidade, eficiência e conveniência num só serviço, permitindo escolher o horário mais favorável para o cliente realizar o levantamento das encomendas, num período disponível sete dias por semana, 24 horas por dia e, dessa forma, respondendo às necessidades da empresa, do consumidor final e do planeta.A opinião é partilhada por Raul Magalhães, que considera que "são uma boa solução permitindo que o cliente possa levantar a encomenda quando lhe for mais conveniente, evitando as entregas falhadas". O que não invalida que ainda haja um "caminho longo a percorrer no sentido de estudar e otimizar as melhores soluções para cada centro urbano".
Nabo Martins, da APAT, prefere uma visão mais cautelosa. Para o executivo, os lockers são soluções alternativas que podem e devem ser estudadas. "Se forem colocados junto dos centros mais congestionados, em locais de boa acessibilidade e de preferência com locais de estacionamento de veículos mais ligeiros e mais amigos do ambiente, permitindo recolhas em horas do dia menos movimentadas, motivando as pessoas a utilizar, permitindo que os vários distribuidores utilizem as mesmas plataformas, obrigando a que a distribuição seja feita com recurso a veículos mais ligeiros e ecológicos, que essa distribuição seja feita de noite, penso que poderão ser uma alternativa muito eficaz na diminuição de emissões, congestionamentos e até de distancias percorridas", refere. Para que isso seja possível, o presidente executivo da APAT considera que deverão ser criados hubs de carga nos limites das cidades e a partir daí efetuar a distribuição. E equacionar que seja possível que uma mesma distribuidora entregue carga de vários transportadores/empresas no mesmo destino, na casa do cliente final, ou num locker ou uma outra solução tipo smart city hub.
A somar a estes desafios junta-se um outro: estará o consumidor disposto a pagar um pouco mais pela sustentabilidade da distribuição? Na opinião do presidente da APLOG, o consumidor começa a ter outra mentalidade, nomeadamente as novas gerações, e entende que para se atingirem melhorias significativas na sustentabilidade vai ser necessário fazer um esforço de pagar um pouco mais.
Quase ninguém está disposto a pagar mais, até quando se fala de um transporte mais verde. Nabo Martins, Presidente executivo da APAT
E se é certo que o aumento das encomendas online permitiu que as empresas de distribuição tivessem uma maior massa crítica, minimizando o custo das entregas, também é verdade que o "aumento brutal do gasóleo, caso se venha a manter, será um fator muito negativo que afetará o valor do custo da última milha, especialmente enquanto a solução elétrica não for mais consistente".E esta nova mentalidade, acrescenta o CEO da DPD traduz-se também no começar a ter em conta as várias opções existentes, como a entregas em lojas pickup ou através dos lockers. E, por muita resistência que, eventualmente, possa haver, a convicção de Nabo Martins é de que será inevitável que o consumidor terá de pagar a sustentabilidade. "Quase nunca ninguém está disponível para pagar mais, até quando se defende um transporte mais ‘verde’, mas diria que vai ser uma inevitabilidade", aponta.
O papel das autarquias
Qualquer que seja a solução escolhida o papel das autarquias é fundamental neste processo, tendo existido nos últimos anos um forte interesse neste tema da mobilidade sustentável, com imensos projetos e ideias, alguns dos quais já implementados e outros em fase de estudo e discussão que serão implementados em muitas autarquias, nomeadamente nas de maior dimensão, refere Raul Magalhães.
Nabo Martins, por seu lado, acrescenta que as autarquias deviam pensar muito seriamente em criar parques de estacionamento nas entradas das grandes cidades e a partir daí promover mais mobilidade sustentável. E dá um exemplo: quem paga o estacionamento do automóvel deveria poder utilizar uma bicicleta, trotinete ou outro, gratuitamente. Para o presidente executivo da APAT uma solução poderia ser, por exemplo, ter faixas horárias diárias. "Parece-me ser uma verdade inquestionável dizer que quanto menos veículos e mais distribuídos por faixas horárias diárias, mais mobilidade e seguramente se aumentaria a oferta já disponível de transportes públicos, pois com menos veículos, maior seria esta disponibilidade e rapidez, logo eficiência" aponta.
O que dizem as distribuidoras
A DPD é uma das empresas de distribuição que, nos últimos anos, tem investido em várias iniciativas no sentido de ser o mais sustentável possível. Passou pela criação de uma rede nacional de pontos de recolha e outra de lockers (hoje já são mais de 200 espalhados pelo país com a tendência de aumentar), mas, também, por uma frota de veículos de entregas totalmente elétrica, a atuar em Lisboa e Porto. O objetivo, segundo Olivier Establet, é alargar a iniciativa a outras cidades portuguesas.
Já a DHL Supply Chain afirmou que 60% das suas entregas de última milha já são feitas através de veículos elétricos. Sendo que o objetivo é, até 2030, ter mais de 80 mil veículos (elétricos) na estrada a nível mundial. A par da atualização da frota a empresa utiliza combustíveis sustentáveis nas restantes linhas de transporte e aposta na otimização da rede.
A sustentabilidade do transporte de mercadorias (longo curso) ainda não tem uma solução à vista. A mobilidade elétrica não é solução. Seja porque as baterias atuais não têm a capacidade necessária, seja porque não há uma estrutura europeia de redes de carregamento, seja porque quem faz este tipo de transportes não pode estar à parado à espera que as baterias carreguem. Mas o mesmo não acontece com a última milha. Aqui a mobilidade sustentável já começa a ser visível (embora ainda haja um longo caminho a percorrer). Já há empresas que têm viaturas elétricas na sua frota e o consumidor começa a despertar para novas soluções, nomeadamente os lockers e os pontos de recolha. Com a massificação destas soluções talvez a última milha se torne, efetivamente, sustentável.