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Portugal Blue pesca 50 milhões para a economia azul

Novo fundo de capital de risco, financiado por dinheiro europeu e nacional, vai investir em projetos da economia do mar através de outros fundos. Mas não interessa apenas o sucesso financeiro: as metas de sustentabilidade também entram na equação.

23 de Setembro de 2020 às 11:00
As atividades recreativas e o transporte marítimo são duas áreas relevantes da economia do mar. Luís Guerreiro
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Acaba de "dar à costa" em Portugal um novo fundo de capital de risco de 50 milhões de euros, que vai servir para investir em negócios da economia azul. Metade do dinheiro é europeu - Portugal conseguiu mesmo captar um terço das verbas que Bruxelas tinha disponíveis para este fim - e vem com a novidade de todos os investimentos estarem sujeitos a metas ambientais.

O Fundo Europeu de Investimento (FEI) vai entrar com 25 milhões de euros e a Instituição Financeira de Desenvolvimento (IFD) com exatamente a mesma quantia, para formarem o Portugal Blue - um fundo dirigido a negócios da área da economia azul, que pode financiar desde start-ups até empresas com um tecto de 3.000 trabalhadores.

Os 25 milhões de euros que chegam da parte do FEI representam um terço da quantia que a DJ Mare - a direção-geral responsável por assuntos do Mar na Comissão Europeia - tinha reservado para um programa equivalente mas a nível europeu, o Blue Investment Fund. Ao aliar-se ao dinheiro português, a condição é que 75% dos 50 milhões do Portugal Blue sejam investidos em empresas nacionais da economia azul.

O dinheiro avançado pelo IFD nesta parceria com o FEI provém de um fundo nacional, o Fundo Azul, presidido pela diretora-geral de Política Marítima, Helena Vieira. Este fundo, que recebe anualmente 10 milhões de euros do Orçamento do Estado desde que foi criado, há cerca de três anos, vai dirigir ao Portugal Blue 5 milhões durante os próximos cinco anos, até perfazer os 25 milhões com que o país se comprometeu. "O objetivo do Fundo Azul é investir na economia azul, em projetos de risco, e está previsto desde a génese que se possa associar a outros fundos", explica Helena Vieira, ao mesmo tempo que considera que "há uma necessidade de capital muito grande que não pode ser coberta apenas por meios privados".

O FEI considera que a quantia disponível através desta iniciativa, tanto a nível europeu como nacional, é relativamente reduzida, vendo-a como um piloto. É a primeira vez que esta entidade investe num fundo maioritariamente dedicado ao mar e "no próximo quadro comunitário vai haver mais dinheiro para esta área", assinala o responsável pelos programas de capital de risco do FEI para Portugal, Miguel Alves.

Sustentabilidade traz brinde

A diretora-geral de Política Marítima aponta a economia do mar como um vetor essencial no caminho para a sustentabilidade: "O futuro só pode ser mais azul. O verde sem azul será sempre amarelo", graceja. E, de facto, o respeito pelas metas ambientais é uma componente importante do Portugal Blue.

Os fundos não vão ter apenas o objetivo financeiro, mas também criar impacto climático positivo. Miguel Alves
Fundo Europeu Investimento 
"Os fundos de capital de risco não vão ter apenas o objetivo financeiro, que é muito importante, mas vão também ter um incentivo para criar algo bom para o mundo, criar impacto climático positivo", explica Miguel Alves. Este incentivo virá na forma de uma comissão de sucesso, que será entregue aos fundos que conquistem a gestão do dinheiro do Portugal Blue de cada vez que sejam atingidos os objetivos ambientais. Estes serão definidos caso a caso, de forma a estarem adaptados às atividades das empresas financiadas.

"É muito importante desenhar isto de forma a que não seja ‘greenwashing’", ressalva o mesmo responsável do FEI. "Não se pode investir numa empresa petrolífera que põe como meta diminuir o volume de fotocópias num determinado ano, tem de ser uma coisa mesmo significativa ligada à atividade da empresa", exemplifica.

Parceiros na mira

Agora, chega a fase de procurar fundos de capital de risco candidatos a gerir as verbas, já que tanto o IFD como o FEI são fundos grossistas, logo, não investem diretamente nas empresas - atribuem mandatos a outros fundos, os retalhistas. Prevê-se que exista espaço para até dois candidatos, pois a quantia que é considerada a mínima para uma gestão eficiente são os 20 milhões de euros.

"Estou bastante satisfeito com as manifestações informais de interesse", afirma o responsável de investimentos no IFD, Frederico Serras Gago. A chamada de interesse deverá ser aberta em outubro, mas já há oito parceiros potenciais de olho na candidatura, conta Miguel Alves. O objetivo é que a partir de meados de 2021 o programa esteja pronto a avançar. "É muito importante investir em equipas que tenham também capacidade de levantar capital junto de investidores privados", sublinha o mesmo responsável.

Dos contactos feitos pelo Negócios junto de fundos de capital de risco, apenas a aceleradora Beta-i confirmou que está a considerar apresentar uma candidatura através da sociedade de capital de risco LC Ventures. O CEO, Pedro Rocha Vieira, explica que estes planos fazem sentido para a Beta-i na medida em que a economia azul é um dos setores nos quais a aceleradora tem mais ligações estratégicas, com coinvestidores e outros parceiros.
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