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Perante uma plateia de gestores e académicos, Mundy assinalou o papel central das empresas: "Eu acho que a inovação e a estratégia inteligente dentro das empresas terão um papel crucial para que a humanidade enfrente estes enormes desafios". Por outro lado, o jornalista defendeu também que é preciso que as empresas poluidoras paguem os custos dos danos causados ao ambiente, que têm sido pagos pelas pessoas que sofrem com as alterações climáticas. Mundy destacou, por isso, a "insustentabilidade de um sistema que não tem preços adequados sobre o que se chama externalidades, especialmente o preço do carbono", frisando que "todos os empresários deveriam estar muito conscientes disto, porque não é sustentável".
O jornalista do Financial Times lembrou a existência do Regime Comunitário de Licenças de Emissão da União Europeia (ETS, sigla em inglês), porém argumentou que terá de "haver uma mudança de algum tipo no futuro". "Penso que todos esperam que venha a haver uma fixação muito mais rigorosa dos preços do carbono ao longo da linha."
Durante dois anos, Simon Mundy percorreu 26 países e falou "com os bons e com os maus" para partilhar a história coletiva que o mundo está a viver. Nessa jornada, viu como na Mongólia, na Coreia do Sul, no Brasil, no Bangladesh, entre outros países, as alterações climáticas estão já a causar danos devastadores às comunidades, sobretudo às mais desfavorecidas, alterando o seu modo de vida, "muitas vezes secular", e obrigando muitos a deslocarem-se para outras regiões. "A maior corrida da história da humanidade é a corrida para responder às alterações climáticas", disse.
Com uma vasta experiência jornalística a percorrer o mundo, o editor do "Moral Money" considera que as alterações climáticas são "a maior história do século", que toca todas as áreas sem exceção. "Pensávamos muitas vezes nas alterações climáticas como sendo bastante marginais em relação aos grandes temas que cobrimos. Não eram centrais para a história económica, para a história dos negócios, para a história social, para a história cultural. Bem, agora, como todos sabemos, é absolutamente central para cada uma dessas histórias", referiu.
Sustentabilidade, um tema incontornável
A transição para uma sociedade mais sustentável esteve no cerne da discussão do Conselho Estratégico, numa altura em que a Europa se vê a braços com a guerra na Ucrânia, uma crise energética, uma inflação crescente, o crescimento da extrema-direita e ainda com alguns resquícios da pandemia.
António Costa Silva, ministro da Economia e do Mar, deixou uma mensagem em vídeo onde destacou a Covid-19 como "um grande grito de alerta sobre as consequências da destruição da biodiversidade do planeta". "O nosso modelo económico e social prevalecente no globo tem que ser mudado e tornado mais amigo do ambiente", frisou. Costa e Silva destacou também a guerra na Ucrânia como alerta para a sustentabilidade do abastecimento energético. "É necessário mudarmos a matriz energética mundial, que ainda hoje repousa, em cerca de 81%, em combustíveis fósseis".
O governante salientou ainda que a dependência extrema da Alemanha e de muitos países da Europa central e de leste do gás russo "foi um erro geoestratégico sem precedentes no domínio da energia". Neste caso, a ilação a tirar será "a criação do mercado europeu único da energia com a integração da Península Ibérica, que continua a ser uma ilha energética separada na Europa". Para o ministro, neste campo da energia, Portugal está "do lado certo da história", na medida em que o país já produz cerca de 60% de eletricidade a partir de fontes renováveis.
Teresa Brantuas, CEO da Allianz Portugal, chamou a atenção para a necessidade de atuar e ajudar os países menos desenvolvidos. "Tendemos a esquecer-nos de que há países que já estão a sofrer muito com os impactos e que não foram esses países que os provocaram e não sabem como os evitar." Por isso, acrescentou, "é inquestionável que temos que atuar para além daquilo que são os nossos objetivos fixos".
A fechar o encontro, o mote passou para o vice-presidente da Câmara de Cascais, que detalhou o empenho da autarquia rumo à sustentabilidade, que começa a ser conhecida pelos vários projetos que vai implementando, seja colocando transportes gratuitos à disposição da população, seja em projetos que fomentem a economia circular. "Neste acrónimo ESG, preocupo-me muito com o ‘G’, pois entendo que temos processos de decisão muitos lentos", assinalou Miguel Pinto Luz, referindo ainda que a Europa tem uma incapacidade crónica de tomar decisões. "Nós em Cascais tomámos decisões rápidas porque a nossa dimensão, a nossa massa crítica, a nossa independência governativa e os nossos recursos permitem-nos tomar decisões céleres e anteciparmos rapidamente aquilo que aí vem", referiu. Porém, "são desafios que não conseguimos fazer sós". Por isso, insistiu, "precisamos de mudar a mentalidade e só com decisões rápidas o podemos fazer".