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Num planeta cada vez mais quente, o setor da refrigeração deverá mais do que duplicar as suas emissões de gases com efeito de estufa (GEE) até 2050, devendo representar mais de 10% das emissões globais nessa altura.
Como tal, são necessárias medidas-chave para desacelerar o crescimento da energia e reduzir as emissões entre 60% a 96% do setor, aponta um novo relatório elaborado pela Coligação para o Arrefecimento, liderada pelo Programa das Nações Unidas para o Ambiente (PNUA), e apresentando esta terça feira na conferência do clima, no Dubai.
Segundo o relatório "Global Cooling Watch, Keeping it Chill: Como satisfazer as necessidades de arrefecimento e, ao mesmo tempo, reduzir as emissões", a adoção de medidas permitiria reduzir pelo menos 60% das emissões setoriais previstas para 2050, forneceria acesso universal a refrigeração que salva vidas, aliviaria a pressão sobre as redes de energia e pouparia triliões de dólares até 2050.
O relatório estabelece medidas de arrefecimento sustentável em três áreas: arrefecimento passivo, normas de eficiência energética e uma redução mais rápida dos fluidos refrigerantes que provocam o aquecimento do clima. Seguindo as medidas delineadas nestas áreas, obter-se-iam os cortes de 60%, mas com a rápida descarbonização da rede elétrica as emissões setoriais seriam reduzidas em 96%.
"O setor da refrigeração tem de crescer para proteger todos do aumento das temperaturas, manter a qualidade e a segurança dos alimentos, manter as vacinas estáveis e as economias produtivas", afirmou Inger Andersen, diretora executiva do PNUA. "Mas este crescimento não deve ser feito à custa da transição energética e de impactes climáticos mais intensos. Os países e o setor da refrigeração devem agir agora para garantir um crescimento da refrigeração com baixo teor de carbono. Felizmente, as soluções estão disponíveis atualmente. Conseguir uma refrigeração sustentável e eficiente do ponto de vista energético oferece uma oportunidade para reduzir o aquecimento global, melhorar a vida de centenas de milhões de pessoas e realizar enormes poupanças financeiras", acrescentou.
Segundo as contas do PNUA, os utilizadores finais poderiam poupar 1 bilião de dólares anualmente e o setor energético até 5 biliões de dólares com estas medidas.
Os países do G20 representam 73% do potencial de redução das emissões em 2050. Atualmente, mais de 60 países assinaram o Compromisso com o objetivo de reduzir o impacto climático do setor da refrigeração.
Crescimento insustentável da refrigeração
As alterações climáticas, o crescimento da população e dos rendimentos e a urbanização estão a aumentar a procura de refrigeração. Cerca de 1,2 mil milhões de pessoas em África e na Ásia não têm acesso a serviços de refrigeração, colocando vidas em risco devido ao calor extremo, reduzindo os rendimentos dos agricultores, provocando a perda e o desperdício de alimentos e dificulta o acesso universal às vacinas, destaca o PNUA.
Com as atuais tendências de crescimento, o equipamento de refrigeração representa atualmente 20% do consumo total de eletricidade - e prevê-se que mais do que duplique até 2050.
As emissões de gases com efeito de estufa provenientes do consumo de eletricidade aumentarão, juntamente com fugas de gases refrigerantes, a maioria dos quais tem um potencial de aquecimento global muito mais elevado do que o dióxido de carbono, refere o PNUA.
O aumento da procura de equipamento frequentemente ineficiente, incluindo aparelhos de ar condicionado e frigoríficos, exigirá grandes investimentos em infraestruturas de produção e distribuição de eletricidade.
O equipamento ineficiente resultará também em faturas de eletricidade elevadas para os utilizadores finais, particularmente em África e no Sul da Ásia, onde se prevê o crescimento mais rápido.
"O setor privado tem um enorme papel a desempenhar no financiamento e na promoção da inovação para promover a refrigeração sustentável, que pode ajudar a satisfazer necessidades vitais de desenvolvimento local e apoiar os objetivos globais de redução do carbono", afirmou Makhtar Diop, diretor-geral da Sociedade Financeira Internacional.