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Matos Fernandes: "O setor que tem de dar o salto maior é o da agricultura"

O ministro do Ambiente e da Ação Climática considera que é clara a completa separação entre emissões e crescimento da economia. A recuperação do país, diz, será feita com investimento na sustentabilidade.

27 de Maio de 2020 às 22:00
Micaela Neto
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A política anterior à pandemia, de sermos neutros em carbono em 2050, “tem todas as condições para poder ser acelerada”, diz Matos Fernandes.

Nestes tempos de pandemia, qual vai ser o caminho da sustentabilidade? Vai acelerar ou pode atrasar?

A partir desta fase de retoma e no programa que terá de ser estabelecido, que terá necessariamente uma componente de investimento público, os investimentos na economia verde têm de continuar a ser prioritários. O ambiente e as questões da sustentabilidade sairão a liderar, com uma política criadora de riqueza e de bem-estar e de emprego qualificado a partir de investimentos que façam a economia crescer, que têm de ser tendencialmente neutros em carbono e regeneradores de recursos. A política que vinha de trás, de sermos neutros em carbono em 2050, tem todas as condições para poder ser acelerada. Os três “drivers” da política do Governo – o combate às desigualdades, a digitalização e a descarbonização – continuam a ser o que mais deve motivar a recuperação económica. No caso da descarbonização é onde é mais simples pôr no terreno os projetos porque já estavam desenhados.

O fundo de recuperação europeu vai acelerar esse caminho?

Saúde humana, saúde animal e saúde ambiental são três vetores que se cruzam. As políticas públicas vão-se manter, os investimentos no domínio do ambiente e da sustentabilidade estão desenhados e existem todas as condições para que possam vir a ser concretizados. Se o fundo de recuperação europeia, que não está fechado mas vai existir, trouxer dinheiro para Portugal, e trará, uma parte desse dinheiro será também utilizado para poder antecipar alguns projetos de grande dimensão e que tem impacto positivo nas condições ambientais do país.

As metas do Plano Nacional de Energia e Clima (PNEC) para 2030 são realistas ou tenciona revê-las?

Não pensamos rever, são absolutamente realistas. Entre 2005 – que temos como ano zero porque foi o pico das emissões em Portugal – e 2018, Portugal já reduziu em 21% as suas emissões. No ano 2019, segundo dados provisórios, Portugal reduziu em 8,7% as suas emissões , quando a União Europeia as reduziu em 4,3%. Ou seja, mais do dobro da redução no ano em que a economia mais se distinguiu pela positiva relativamente à média europeia do crescimento. A intensidade carbónica da economia – ou seja, as emissões de CO2 por unidade de PIB – estão na trajetória decrescente, que se acelerou nos últimos dois anos. Cada vez mais é claro que há uma completa separação entre emissões e crescimento da economia. Em 2020 serão números muito positivos mas conjunturalmente positivos, pela pior das razões. Não há nenhuma razão para que as metas de redução de emissões entre 45% e 55% em 2030, os 47% de fontes renováveis no consumo final bruto de energia, dos quais 80% serão de eletricidade, estejam em causa. De forma alguma.

A meta é que em 2030 80% da eletricidade que consumimos seja produzida a partir de fontes renováveis e 100% em 2050. Não se consegue lá chegar antes?

Se calhar consegue. O Roteiro para a Neutralidade Carbónica tem por base que as tecnologias que são utilizadas já estão hoje disponíveis ou contamos que estarão nesses anos. Quero acreditar que a tecnologia nos vai surpreender. Dou o exemplo do transporte aéreo: como está contabilizado, duas megatoneladas de CO2 dentro das 13 megatoneladas de CO2 que poderemos emitir em 2050, é apenas o pressuposto de que os aviões vão ser cada vez mais eficientes. Ora temos ouvido que a Airbus quer colocar aviões elétricos já na década de 30. Isso não está contemplado nas nossas estimativas. Por isso quero acreditar que a tecnologia vai possibilitar a aceleração de algumas destas metas. Sabemos , e esta crise prova-o, que há coisas impossíveis de prever.

Quais sãos os setores mais avançados e mais atrasados ?

O que está mais avançado é o eletroprodutor. O que tem de dar um salto maior é o da agricultura, sobretudo da agropecuária. Não é o setor mais emissor, longe disso, mas é de todos os setores o que se tem afigurado como o mais conservador desta mudança.

O custo dos combustíveis e até os receios das pessoas de andar nos transportes públicos devido à covid-19 podem ditar um regresso em força ao transporte individual?

Cabe-nos, em primeiro lugar, garantir que os transportes coletivos são hoje utilizados com toda a segurança e com isso ir cativando paulatinamente as pessoas. Os investimentos estão aí, estão a ser feitos e vão continuar. A mobilidade coletiva é fundamental. Percebo quando fala no receio das pessoas, mas o transporte coletivo está a recuperar paulatinamente. No dia 18 de maio o metro de Lisboa teve mais 21% de passageiros do que no último dia útil do estado de emergência (que terminou a 2 de maio). Há sinais de que as pessoas estão lentamente a voltar. E não me parece que a recuperação dos transportes públicos esteja a ser mais lenta que o comum do tráfego rodoviário.

 

“Quero acreditar que a tecnologia vai possibilitar a aceleração de algumas metas.”

 

“Há uma completa separação entre emissões e crescimento da economia.”

 

O setor que tem de dar um salto maior é o da agricultura, sobretudo agropecuária. É o que se tem afigurado como o mais conservador desta mudança.
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