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O preço do petróleo tombou. Pode ser uma dificuldade para a transição energética por estar mais barato do que algumas renováveis?
A crise [no petróleo]será momentânea e o setor até estará já a ter uma retomada. Com o retorno económico da Europa e, a pouco e pouco, das outras regiões do mundo acredita-se que o setor eventualmente recuperará e encontrará alguma estabilidade. Mas vejo problemas múltiplos no facto do setor do petróleo passar uma grande crise. Muitas economias emergentes baseiam a sua economia no petróleo e também financiam uma série de projetos de tecnologias limpas, programas de educação, de saúde. No Brasil, por exemplo, existe uma série de obrigações das petrolíferas para investir parte dos seus lucros em programas sociais, de educação, pesquisa de energias renováveis. E há toda uma economia baseada no recurso natural, de geração de emprego. Mas acredito que haverá um retorno para um preço do barril mais competitivo, e que haverá um maior equilíbrio do mercado.
Devia-se acelerar o fecho das centrais a carvão, nomeadamente em Portugal?
Temos de pensar em acelerar esse fecho, que está planeado, mas temos de criar alternativas para garantir a segurança na rede. Não basta fechar uma central termoelétrica, temos de criar condições para ter acesso à energia de forma estável. O problema das renováveis, nomeadamente o solar fotovoltaico e a eólica, é que são fontes intermitentes que têm instabilidade na rede.
O hidrogénio verde devia ser uma aposta?
Há grandes investimentos nessa área de investigação mas o hidrogénio pode ser uma solução complementar ao uso de baterias para armazenamento de energia elétrica, isto no uso da energia elétrica. É uma tecnologia ainda em fase piloto, de demonstração, e precisamos ainda de uma curva de aprendizagem para ter uma tecnologia consolidada a nível comercial e com custos competitivos com tecnologias convencionais.
A nível da mobilidade o hidrogénio já está mais testado. Pode ser importante haver incentivos para esse tipo de mobilidade?
Nesta fase eu acredito que os incentivos devem ser colocados em programas de investigação intersetoriais, engenheiros químicos a desenvolver o hidrogénio, engenheiros mecânicos e ambientais a avaliar os impactos desse hidrogénio, e envolver a segurança civil, porque o hidrogénio tem uma chama invisível. Portanto, há uma série de desafios. Estamos muito mais próximos de os conquistar do que antes, mas ainda precisam de ser trabalhados ao nível de investigação, de bancada, como dizemos.