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Carvão ainda ensombra ambiente com Ásia ao leme

O carvão é uma fonte de energia conhecida pelo caráter poluente, e por isso mesmo cada vez menos utilizada no Ocidente. Contudo, na Ásia, a procura é relevante e a construção de novas centrais ainda faz parte dos planos, ameaçando a transição energética.

07 de Abril de 2021 às 12:00
As energias renováveis têm crescido e substituído o carvão em vários territórios, mas esta antiga fonte de energia continua a ser muito usada na Ásia. Reuters
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O carvão impõe-se como uma das fontes de energia mais poluidoras, e, embora no Ocidente esteja a notar-se uma redução na procura por esta fonte, a "era" do carvão parece longe de acabar: ainda há planos para construir novas centrais, e sobretudo a Ásia continua a investir neste caminho.

"Como o carvão é, de longe, a maior fonte única de emissões globais de carbono relacionadas com energia", enquadra a Agência Internacional de Energia, no Relatório de Carvão 2020, "as tendências observadas são um enorme desafio para que as emissões sigam um caminho compatível com os objetivos de clima e energia sustentável", apesar do alívio que houve em 2020, dada a pandemia.

No ano passado, a procura por carvão teve a maior quebra desde a Segunda Guerra Mundial, de 5% em comparação com 2019, quando já se tinha observado um ligeiro deslize. A produção foi "seriamente afetada" pela pandemia de covid-19. Entre 2018 e 2020, o consumo caiu 7%, uma descida sem precedentes nos registos da AIE, que remontam a 1971. Ainda assim, a expectativa é que "uma recuperação económica global em 2021 conduza a um curto reavivar da procura".

"As renováveis estão a caminho de ultrapassar o carvão como a maior fonte de eletricidade no mundo até 2025. E, por essa altura, o gás natural terá provavelmente ultrapassado o carvão como a segunda maior fonte de energia primária depois do petróleo", afirma o diretor de Mercados de Energia e Ativos da AIE, Keisuke Sadamori, na introdução ao relatório. Contudo, "com a procura por carvão previsivelmente estável, e que pode mesmo crescer nas economias asiáticas, não há sinais de que o carvão vá desaparecer rapidamente", conclui. Em termos absolutos, o uso de carvão não deverá ter um declínio rápido num futuro próximo.

Hoje em dia, a China e a Índia juntas representam 65% da procura por carvão, uma percentagem que sobe para 75% se se juntar o Japão, a Coreia e o Taiwan, indica a AIE. E é na China que se concentra metade do consumo desta energia. Em oposição, a Europa e os Estados Unidos deverão ser responsáveis por menos de 10% da procura mundial, depois de terem reduzido em 37% os níveis de 2000. Neste sentido, "o futuro do carvão vai ser largamente decidido na Ásia", projeta a AIE.

Mesmo em 2019, ano em que já se notava uma quebra na produção de carvão a nível global, a China e o Sudeste Asiático viram um "crescimento significativo na eletricidade produzida a partir de carvão". E, de acordo com o Emissions Gap Report 2020 das Nações Unidas, 2019 foi também um ano recorde em termos de emissões de gases com efeito estufa, e o terceiro ano consecutivo em que estas cresceram, com os combustíveis fósseis a dominarem este aumento.

As Nações Unidas apontam que, analisando as medidas adotadas pelos países do G20 na segunda metade do ano passado, "há muitas que terão implicações negativas (nas emissões), tais como projetos de extração de combustíveis fósseis, planos de construção de centrais de energia a carvão e a redução de regulação ambiental durante a pandemia". No que diz respeito à China em particular, o Emissions Gap Report 2020 assinala que, em comparação a 2019, mais províncias chinesas estão autorizadas a construir novas centrais a carvão, deixando apenas cinco fora da lista de permissões. Na Índia, apesar de não se terem construído novas centrais em 2020, a produção de carvão no país poderá revelar novos recordes relativos a esse ano, e ainda existem planos para alargar a construção no futuro.

O carvão aparece como o combustível responsável pela maior fatia de emissões de carbono, de acordo com os dados de 2018 compilados pela Universidade de Oxford e a Global Change Data Lab, no Our World In Data. Esta fonte energética ultrapassou o petróleo na quantidade de emissões a partir de 2004, contando com uma grande contribuição da China, onde a partir dos anos 2000 houve um crescimento exponencial destas emissões. Em 2018, o carvão na China era responsável por quase seis vezes mais emissões anuais do que aquele queimado nos Estados Unidos, que ocupava o terceiro lugar, imediatamente abaixo da Índia. Contudo, durante largos anos, tanto os Estados Unidos como o Reino Unido estiveram à frente da China em termos de emissões por esta via, invertendo posições apenas entre os anos 60 e 80. Existe, portanto, também uma responsabilidade histórica dos países ocidentais, que contaram com o carvão para sustentar as respetivas revoluções industriais.

Renováveis em auxílio

Nos relatórios que alertam para a situação climática, é constante a sugestão de que se invista em energias renováveis, afastando o carvão. A ONU afirma que parte da solução para o problema climático será "apoiar tecnologias e infraestrutura de zero emissões".

No relatório "A Verdade por Detrás das Alterações Climáticas", escrito essencialmente por ex-responsáveis do Painel Internacional para as Alterações Climáticas (IPCC) das Nações Unidas, a "geração de eletricidade a partir de fontes renováveis" é uma das formas avançadas para reduzir "rapidamente e drasticamente as emissões. Estes cientistas sugeriram, em 2019, aumentar em cinco vezes a energia solar e eólica, com o fecho simultâneo de 2.400 centrais a carvão até 2030, de forma a reduzir-se o uso de carvão em 70%. Uma ação que os mesmos descrevem como "viável e eficiente em termos de custos".
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