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30 de Julho de 2007 às 13:59

O ‘hat-trick’ de Jordão

A compra dos hipermercados Carrefour pela Modelo Continente é um negócio grande e é um grande negócio. A Sonae cresce de supetão e engorda a sua vaca leiteira. E a distribuição “portuguesa” mostra definitivamente que vence no seu território os gigantes in

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A Carrefour é quem manda na distribuição mundial, excepto Estados Unidos, imperando na América Latina e em toda a Europa. Toda? Não. Um país habitado pelas irredutíveis Sonae Distribuição e Jerónimo Martins resiste ainda e sempre ao invasor. As duas companhias estão fortes e em expansão. Esse reconhecimento é devido pelos accionistas a Belmiro de Azevedo e a Soares dos Santos: são sobreviventes da, e na, globalização.

É curioso lembrar que a Sonae introduziu os hipermercados em Portugal apoiada pela Promodés, que detinha a marca “Continent”, que aqui se aportuguesou. A Carrefour comprou depois a Promodés, tornando-se accionista indesejado na Sonae, que acabou por pagar caro pela saída dos franceses, a quem depois venderia negócios no Brasil e a quem compra agora os hipers em Portugal. A marca “Continent” acabou na Europa e ficou em Portugal; os Carrefour lideram na Europa e saem de cá.

Mas há mais nesta operação do que um resgate do passado. Há uma afirmação do presente -- esta é a primeira grande aquisição de Paulo Azevedo (que deixou todo o palco para Nuno Jordão). E, quanto ao futuro, parece claro que a distribuição vai continuar a gerar dividendos para investimentos do grupo.

A compra da rede Carrefour traz sobretudo mais dimensão, quota de mercado e de escala, que num mercado em maturidade seria difícil alcançar organicamente. A Sonae agiganta-se e propulsiona o seu motor da distribuição. Essa é a razão deste negócio: crescimento da “cash cow”, da vaca leiteira do grupo.

Mas vale a pena analisar o impacto da aquisição em três públicos: empregados, clientes e fornecedores.

Não haverá saldos líquidos de despedimentos, diz a Sonae, porque o contingente não chega sequer para a expansão do Modelo Continente, diz Nuno Jordão. A promessa é portanto credível, mas é também evidente que há uma duplicação de estruturas comerciais, centrais de compras, tecnologias de informação, área financeira, etc.. Se não houver despedimentos, haverá certamente quem tenha de mudar de vida e aprender novos ofícios no grupo.

Mas a grande questão, que ocupará nomeadamente a Autoridade da Concorrência, é que efeitos isto terá nos preços, não só nos de venda mas também nos de compra.

O argumento central da Sonae é de que, ficando mais forte, consegue negociar melhor com os fornecedores, repassando esse benefício para os consumidores (é provável, aliás, que sejam os fornecedores os primeiros a protestar, através de uma CIP ou de uma Centromarca). É improvável portanto que esta concentração permita aumentos dos preços de venda finais. A Carrefour era tida como uma “terrorista” de preços, ao contrário da Sonae, que foca muito a agressividade em produtos em campanha. Mas a guerra no “discount” garante preços descendentes, contra uma produção que, ela sim, está muito concentrada.

Mas o resultado final é de que este mercado está a mudar, a mudar muito e a mudar muito depressa. Há cada vez mais operadores e vai haver um “boom” de novos espaços, como explica Nuno Jordão na entrevista de hoje ao Jornal de Negócios.

Um exemplo: Gaia. Tem um Carrefour quase em frente a um Continente, passando resvés por um Jumbo. E aí vai abrir o Ikea.

Neste mercado acelerado, vai haver vencedores e perdedores. Por estes dias, vence a Sonae. O negócio da Carrefour é de ponta-de-lança. À Jordão.

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