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12 de Maio de 2008 às 13:59

O futebol muda por dentro?

Hoje respira-se melhor em Portugal. Não tanto pelas condenações mas porque se condenou. Acabou a impunidade. Começou a justiça, para já a da Liga, e em parte a popular. Mas o “Apito Final” foi apenas a primeira pedra do “Apito Dourado”. Só se assim for po

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Com aqueles regulamentos, a Liga não podia ter feito mais do que fez. Fazer mais era a descida de divisão do Porto. Em Espanha ou em Itália, tentativa de corrupção não daria menos. Cá, embora pareça o contrário, as condenações podem nem abalar os poderosos. Admoesta-se o Leiria, sacrifica-se o Boavista e atira-se um punhado de árbitros para a fogueira. Suspende-se João Loureiro (que já se tinha auto-suspenso deixando o Boavista descapitalizado), atiram-se nódoas para dirigentes num desporto habituado a detergentes de rápida remoção. Tirar seis pontos ao Porto é inconsequente (mais ficou o Belenenses a perder com a inscrição de Meyong). Dar dois anos de suspensão a Pinto da Costa é como propor-lhe uma reforma compulsiva (ou apenas um período em que ele governe por interposta pessoa). Mas mesmo assim: mais não podia a Liga fazer.

Hermínio Loureiro, quem diria?, entrou na Liga com conversa de laranja redonda e guardou o sumo para as suas acções. É, já, um temerário. Loureiro sucedeu a Loureiro mas Hermínio está a desmantelar o modus de Valentim; está a ‘desvalentinizar’ o futebol português. Esse tempo está a ruir, com condenações da Liga e o colapso do (triste ironia?) Boavista.

Há anos que a Deloitte denuncia nos seus relatórios sobre o futebol português que há clubes à beira da extinção. Quando, há um par de anos, a auditora colocou o Boavista nesse limite, Valentim Loureiro chamou os auditores de ignorantes, mal-intencionados, difamadores. Mas só não via quem não queria: o clube fizera uma reavaliação de activos (multiplicou o valor contabilístico dos seus jogadores) e assim maquilhou uma solvência que não existia. Mas é importante que se perceba que a criação das SAD não foi combustível para a desgraça. Ao contrário: a desgraça acontece não por causa das SAD mas apesar delas. As SAD trouxeram mais transparência e controlo. E as cotações dos “três grandes” só mostram como os clubes têm mais interesse para adepto do que para accionista.

A condenação da Liga é um, mas apenas um, prego no caixão do “sistema” que obcecava Dias da Cunha; na náusea colectiva ao ler as escutas que o “Correio da Manhã” (notável neste processo) foi reproduzindo; neste futebol de putas e vinho verde jogado fora dos estádios. Mas para que o Rui Costa a partir de hoje dirigente trabalhe num futebol diferente do que deixou ontem de jogar nos relvados é preciso mais.

A condenação do Conselho de Disciplina tem de ter sido mais do que os 15 minutos de fama do presidente Ricardo Costa. Não pode ter sido um fogacho de intrepidez, localizado e extinto. Hermínio Loureiro emancipou-se e isso não é apenas glorificação, é responsabilidade. É como Sócrates ter a maioria absoluta: exige-se-lhe. Hermínio não pode sentir-se consagrado, herói sob escolta policial. Se for para presidente da Federação, como se especula, não pode ser por ter cumprido a missão. Depois do júbilo não pode vir a jubilação.

Para que o dirigismo futebol português mude mesmo, esta condenação histórica da Liga tem de ter sido o princípio e não o fim. O “Apito Final” tem de passar o recurso na Federação. O “Apito Dourado” tem de ser julgado. A pressão dos patrocinadores, da imprensa, dos accionistas, da CMVM, da Liga, da Federação, dos adeptos tem de persistir para que tudo resulte em mais do que em meia-dúzia de pessoas atiradas para o purgatório. Viva o futebol!, suponho...

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