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08 de Março de 2006 às 13:59

O banquete na PT

O batalhão de assessores da administração da Portugal Telecom produziu uma defesa ruidosa, violenta na mensagem, de descredibilização da Sonaecom e de hipnose aos investidores com uma miríade de dinheiro: três mil milhões de euros em dividendos. É quase s

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Horta e Costa chamou nomes feios com palavras bonitas a Belmiro de Azevedo. Este só fez diferente porque abdicou das palavras bonitas.  

Isto foi já depois de, logo pela manhã, o presidente executivo da PT ter feito uma entrada épica numa enorme acção de comunicação interna, a todos os trabalhadores da PT. Horta e Costa invocou o «General Inverno» que matou as forças de Napoleão a caminho da Rússia. Tanto barulho serve para «fazer» opinião pública. Curiosamente, o «Financial Times» de ontem alinhava nas comparações e dizia que neste negócio Lisboa parece Moscovo. Só faltou dizer que Sócrates era como Putín e Belmiro um oligarca.

É um truque de polichinelo dos encenadores: um tiro acorda os sentidos a toda a plateia. E também este é um tiro para o ar. Porque fora o barulho, sobra uma reacção pífia. Uma promessa de malas cheias de dinheiro aos accionistas que se confronta inevitavelmente com uma crítica: se estas medidas são melhores para a PT, porque não estavam já previstas? Se o que estava previsto era bom para a PT, porque mudou?

A defesa da PT é pífia e o ataque da Sonae pífio é. Porque também o prospecto da Sonaecom diz menos do que se os investidores querem saber.

Só há uma conclusão: nenhum dos lados está ainda a destrunfar os seus naipes. Há ases na manga para jogar. Exemplo: a PT diz que está disponível para vender a actividade grossista da rede fixa (que não é o que Sócrates já defendeu) quando no fundo o que está é a abrir caminho para vender toda a rede fixa, se isso for necessário.

E o necessário é, para já, o que a Autoridade da Concorrência disser. Até lá, é ruído.

A procissão vai de facto no adro. Não é verdade que uma OPA alternativa seja um cenário longínquo. Pelo contrário, essa possibilidade existe hoje como existia há um mês, no dia do anúncio da OPA. Não é especulação, é mercado. Basta comparar com Espanha: a Endesa considerou hostil a OPA da Gas Natural e fez o que a PT está agora a fazer: relações públicas e «subornos» com dividendos milionários para seduzir os accionistas. E isso não impediu que depois aparecesse a E.ON a pagar por cima. Muito por cima.

250 mil investidores vão decidir: os uns, do núcleo duro, e os outros, pequenos investidores. Para estes, só há uma linguagem: preço. Eles não querem saber o que é que a Sonae vai fazer com o «cash flow» da PT ou se a Sonaecom tem dinheiro para pagar a monstruosa dívida. É por isso que a tese de Belmiro de que mais vale um pássaro de 9,5 euros na mão do que dois pássaros de três mil milhões a voar é eloquente. Só que o pássaro de Belmiro ainda está a voar, depende de muitas condições.

É divertido imaginar Belmiro de Azevedo como Napoleão, Horta e Costa como  Kutuzov e a PT como uma altiva Moscovo. Até porque isto não é uma batalha. É guerra.

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