Opinião
O Fizz será um gelado?
O julgamento da chamada Operação Fizz começou ontem e cumpriu-se o esperado. O tribunal resolveu separar o processo do ex-vice-presidente da República de Angola, Manuel Vicente.
O dossiê transitou agora para a Relação de Lisboa, a quem caberá decidir se o referido processo será, ou não, enviado para Angola, um pedido há muito feito pelas autoridades daquele país, mas que o Ministério Público indeferiu, entendendo que não se verificava o requisito da "boa administração da justiça".
Esta Operação Fizz é como o gelado aromatizado de limão a que foi buscar o nome de baptismo. Tornou-se popular (tal como o gelado Fizz que a Olá resolveu recuperar depois de o ter retirado do mercado nos anos 80), tem um travo amargo para todas as partes envolvidas (uma característica visível no gelado através do limão) e vai começar a derreter no contacto com a realidade. O que no caso em apreço se traduz na morosidade da justiça e nos novos factos que o arguido, Orlando Figueira, antigo procurador resolveu introduzir neste julgamento, trazendo para a liça os nomes do advogado Daniel Proença de Carvalho e do banqueiro angolano Carlos Silva.
Significa isto que, em termos estritamente processuais, a Operação Fizz vai ter o comportamento de um gelado que é tirado do frio e exposto à temperatura ambiente, derreterá inexoravelmente. Mesmo que o Tribunal da Relação de Lisboa, ao contrário do parecer inicial, decida agora remeter o processo de Manuel Vicente para Angola.
Derretido o gelado sobra o pau, que neste particular serve de metáfora para as relações entre Portugal e Angola. O pau irá resistir, graças às características da madeira, como símbolo de um problema que continuará a existir. Esse pau irá atravessar-se na engrenagem, colocando entraves aos níveis diplomático, político e económico. Ou seja, a Operação Fizz, mesmo assumindo o estado líquido, terá no pau (a desconfiança revelada pela justiça portuguesa em relação à angolana) o elemento de perenidade. Uma ferida que estará sempre aberta e sensível ao mínimo toque.