Opinião
Adeus, Senhor Américo
As conversas telefónicas com Américo Amorim eram invariavelmente iguais. Bom dia (ou boa tarde) Senhor Américo, como está. Diga lá. Queria saber a sua opinião sobre… Não tenho nada a dizer. Mas não acha que… Olhe, é assim, palavra seguida por uma, duas ou três frases curtas e a interrogação: já lhe chega?
Mesmo que não chegasse, do lado de lá da linha ouvia-se: adeus, gostei de falar consigo. Por vezes, o final destas conversas incluía um recorrente pedido, então, quando é que nos dá uma entrevista, Senhor Américo? Um dia destes, quando houver oportunidade, um dia destes, quando tiver alguma coisa importante para dizer.
Também havia telefonemas que eram queixas, por causa de títulos ou de notícias. Eram queixas, que não exigiam nada. Desabafos resolvidos na hora, ou que se dissolviam com o passar do tempo. No telefonema seguinte, não subsistiam vestígios dessas queixas e a conversa decorria como sempre, curta e eloquente.
O Senhor Américo morreu quinta-feira, 13 de Junho, aos 82 anos. A notícia já era esperada há muito nas redacções, mas ainda assim, quando chegou, surpreendeu. Por uma razão simples, o senhor Américo nunca deixou ninguém indiferente e na sua morte as coisas não podiam ser diferentes.
O Senhor Américo tinha um faro empresarial excepcional. Fez negócios com a ex-União Soviética contornando as proibições de António Salazar e parcerias com a Cuba de Fidel Castro, país que sempre considerou um manancial de oportunidades. E, nos últimos anos, estava enamorado por Moçambique. O senhor Américo fez-se rei da cortiça, mas o seu reino era muito maior. Apostou em áreas tão diversas como a banca, o imobiliário e a energia, tornando-se o maior accionista da Galp. Era persistente. "Quando tenho uma ideia , é difícil fazerem-me parar", desabafou em declarações à Exame, no já longínquo 1991.
Pertence a uma geração de empresários que marcou o pós-25 de Abril, a par de Belmiro de Azevedo e Alexandre Soares dos Santos, entre outros. Mais interventiva, menos tecnocrata. Mais intuitiva, menos taticista.
É claro que, na hora da morte, se exaltam as virtudes e desvalorizam os defeitos de quem parte. É sempre assim e nunca será de outra maneira. Pelo que fez, Américo Amorim, vai ter um lugar de destaque na história empresarial portuguesa do século XX. E deixar saudades. Adeus, Senhor Américo.
Também havia telefonemas que eram queixas, por causa de títulos ou de notícias. Eram queixas, que não exigiam nada. Desabafos resolvidos na hora, ou que se dissolviam com o passar do tempo. No telefonema seguinte, não subsistiam vestígios dessas queixas e a conversa decorria como sempre, curta e eloquente.
O Senhor Américo tinha um faro empresarial excepcional. Fez negócios com a ex-União Soviética contornando as proibições de António Salazar e parcerias com a Cuba de Fidel Castro, país que sempre considerou um manancial de oportunidades. E, nos últimos anos, estava enamorado por Moçambique. O senhor Américo fez-se rei da cortiça, mas o seu reino era muito maior. Apostou em áreas tão diversas como a banca, o imobiliário e a energia, tornando-se o maior accionista da Galp. Era persistente. "Quando tenho uma ideia , é difícil fazerem-me parar", desabafou em declarações à Exame, no já longínquo 1991.
Pertence a uma geração de empresários que marcou o pós-25 de Abril, a par de Belmiro de Azevedo e Alexandre Soares dos Santos, entre outros. Mais interventiva, menos tecnocrata. Mais intuitiva, menos taticista.
É claro que, na hora da morte, se exaltam as virtudes e desvalorizam os defeitos de quem parte. É sempre assim e nunca será de outra maneira. Pelo que fez, Américo Amorim, vai ter um lugar de destaque na história empresarial portuguesa do século XX. E deixar saudades. Adeus, Senhor Américo.
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