Opinião
O caso dos CMEC
Os CMEC são pagos todos os meses pelas famílias e empresas na factura da electricidade. São uma parte importante do que a EDP ganha e têm a sua razão de ser. Mas, sabemos agora, existem suspeitas de que a razão para estes custos serem o que são pode ter a ver com corrupção. Depois dos espoliados da banca, teremos agora os da conta da luz?
Os Custos de Manutenção do Equilíbrio Contratual têm um nome complicado, mas que se explica de forma simples. Em 2004, por força da Comissão Europeia e da criação do mercado liberalizado, foi preciso por fim aos Contratos de Aquisição de Energia, criados para garantir à EDP uma remuneração que viabilizasse os investimentos em centrais e barragens. Os CMEC vieram garantir um equilíbrio contratual para a EDP pelo fim dos CAE.
O ponto sempre foi se o preço que todos pagamos pela garantia que a EDP recebe é ou não excessivo? A Comissão Europeia chegou a investigar se havia ajuda de Estado e concluiu que não. A troika achava que sim, que era uma renda excessiva, penalizadora da competitividade das empresas portuguesas. Essa era também a opinião do anterior Governo, que teve um secretário de Estado da Energia, Henrique Gomes, que o defendia de forma particularmente arreigada e queria ir mais longe no corte do excesso. Acabou remodelado.
A EDP tem o legítimo direito de negociar um acordo o mais favorável possível, na defesa dos seus interesses e dos interesses dos seus accionistas. Desde que essa negociação seja correcta e transparente. O Ministério Público tem indícios de que poderá ter existido corrupção activa, passiva e participação em negócio. Investigue-se, até ao fim.
A cátedra de Manuel Pinho na prestigiada Universidade de Columbia, nos Estados Unidos, paga pela EDP, depois de enquanto ministro ter tutelado a actualização em alta do valor a receber pela eléctrica nos CMEC, é conhecida há alguns anos. E quando o foi gerou polémica, porque não basta ser sério, há que parecê-lo. Será que não o foi? Porque só agora está a ser investigado? Nessa altura ser ministro de José Sócrates e ex-quadro do BES ainda não suscitava as interrogações de hoje. Hoje interrogamo-nos até onde pode chegar o polvo que até 2014 foi todo-poderoso em Portugal.
Embora bastas vezes ser arguido pareça o suficiente para se ser culpado, sobretudo nos casos mediáticos, nenhum dos arguidos obviamente o é. Mas nos casos de António Mexia e João Manso Neto, a condição de arguido no caso em apreço não deixa de ser uma ferida aberta na sua imagem de gestores-estrela. O rumo do caso dirá se ela acabará por sarar ou se vamos vê-la gangrenar.