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No desconcerto de Davos

O Fórum Económico Mundial de Davos é o mais próximo que se pode conceber de uma festa da elite internacional. Na vila alpina confluem, anualmente, empresários na lista da Forbes, CEO das maiores empresas do mundo e chefes de Estado e de governo para um concerto de influência política e económica.

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Este ano, a música foi de um festivo "allegro", entrecortado pelo som inquietante de um "requiem".

O tom foi dado logo na abertura, com o FMI a rever em alta, para 3,9%, as previsões de crescimento em 2018 e 2019. A confirmar-se, será o ritmo mais elevado da década. Uma perspectiva que vem sendo celebrada nas bolsas, com destaque para as americanas, que vêm saltando de recorde em recorde.

Nesta espécie de festival também se promovem marcas, incluindo países. Cada chefe de Estado aproveita o palanque global para vender a sua nação e vender-se a si próprio. Embalado pelas "good vibes", Emmanuel Macron puxou pelos galões da aceleração do crescimento francês, da mesma forma que António Costa sublinhou as conquistas económicas e financeiras de Portugal e o rei Felipe VI louvou a grandeza da democracia espanhola menorizando a crise catalã.

O estilo de música costuma ser sempre o mesmo: ouve-se o liberalismo económico e as virtudes da globalização, mesmo que com afinações políticas diferentes. Desta vez, ouviram-se outros sons e uma orquestra desafinada, com EUA e os principais líderes europeus a cantarem cada um para seu lado.

Ao palco principal subiu o proteccionismo, pela voz de Wilbur Ross, secretário do Comércio, para quem "existe uma guerra comercial a decorrer há algum tempo. A diferença é que as tropas dos EUA estão agora a chegar às muralhas." O secretário do Tesouro, Steven Mnuchin, somou-lhe a ameaça de uma guerra cambial ao defender um dólar mais baixo. Intervenções a servir de primeira parte para o show que Donald Trump deverá dar hoje, naquela que é primeira intervenção de um Presidente americano em Davos em quase 20 anos.

Quinta-feira, no pré-aquecimento, Trump ainda desdisse Mnuchin, defendendo, "em última instância", uma moeda americana mais forte. Mas já é claro que a pauta do nacionalismo e do proteccionismo é a que vale.

A música que se ouviu sobre o presente pode soar a um vivo "allegro", mas sobre o futuro escutou-se um tempo grave. O fulgor que agora se vive soçobrará se o proteccionismo e o populismo acabarem por ditar o ritmo, crescendo à sombra da incapacidade para melhorar a vida daqueles que o liberalismo e a globalização desiludiram. 
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