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04 de Agosto de 2013 às 18:58

Crescimento diminui na China

Durante mais de três décadas, o produto interno bruto (PIB) da China cresceu a uma média de mais de 10% ao ano. Contudo, o antigo primeiro-ministro Wen Jiabao descreveu correctamente este impressionante crescimento como “instável, desequilibrado, sem coordenação e insustentável”, dando ênfase aos custos económicos, sociais, e ambientais que o acompanharam. Agora, a China deverá escolher entre um modelo baseado nas exportações, assente na forma de investir utilizada no passado, ou um novo modelo, mais viável economicamente.

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Crédito barato e incentivos perversos – como a promoção de funcionários que contribuam mais para o crescimento do PIB – levaram a massivos e redundantes investimentos, que, por sua vez, conduziram a um excesso de capacidade na manufacturação e nas infra-estruturas. Este modelo é não só ineficiente, como canaliza os recursos do Governo para apoiar o investimento, minando o desenvolvimento social chinês.

 

Face a este problema, os líderes chineses deixaram de usar o crescimento do PIB como critério primário para a avaliação da prestação dos seus funcionários. De facto, o 12º plano de cinco anos, que se estende até 2015, pretende conduzir a economia chinesa para um novo e mais sustentável modelo de crescimento, baseado na qualidade e inovação, aceitando que o crescimento anual do PIB vai cair para valores em torno dos 7% durante a transição.

 

A maioria das discussões hoje em dia sobre modelos de crescimento é baseada em torno do trabalho do laureado com o prémio Nobel, Robert Solow. Para Solow, o PIB é determinado pelos factores terra, trabalho e capital, juntamente com os factores económicos de produtividade (alterações na produção como a inovação tecnológica e as reformas institucionais).

 

Desde 1978, a China, através da implementação de grandes reformas, conseguiu três períodos de um grande crescimento do total da produtividade dos factores (TFP, na sigla inglesa), cada um com a duração de cinco a sete anos. O primeiro, no início dos anos 80, que se seguiu à introdução do sistema de responsabilidade rural, estimulou a produção agrícola e libertou uma grande quantidade de trabalho não especializado nos sectores urbanos e industriais de grande produtividade, levando o crescimento do TFP para valores entre os 3 e 4%.

 

O segundo período, que se seguiu à excursão pelo sul de Deng Xiaoping em 1992, durante a qual enfatizou a necessidade de mudar o sistema para uma economia de mercado – embora controlado pelo Estado – através da abertura da China ao investimento directo estrangeiro, e do estabelecimento de zonas económicas especiais para ajudar ao desenvolvimento da indústria exportadora. Por esta altura, o crescimento do TFP foi de 5 a 6%, em parte devido à adopção de conhecimento e tecnologia por parte da China, o que facilitou o processo.

 

Por fim, depois de grandes reformas nas empresas estatais e no sistema orçamental, a China entrou na Organização Mundial do Comércio em 2001. Com o país plenamente integrado na cadeia de fornecimento global, o crescimento do TFP atingiu os 4%, onde se manteve até 2007. Desde então, o crescimento do TFP caiu para metade.

 

De facto, a economia chinesa experienciou – e ainda experimenta – um abrandamento do crescimento, no acordar da crise económica mundial que começou há cinco anos. Em 2012, a contribuição do capital humano para o crescimento do PIB chinês caiu para perto de zero, com a acumulação de capital fixo a contribuir com 60% dos cerca de 200% de aumento da vulnerabilidade do sistema financeiro.

 

Para atingir um crescimento do PIB mais sustentável e equilibrado, os líderes chineses deverão implementar um conjunto de reformas profundas, compreensivas, e institucionais que ajudem a fomentar o TFP. Em particular, as reformas devem ser pensadas para facilitar a transição chinesa do seu tradicional modelo de crescimento baseado na oferta, que assume que a construção de infra-estruturas materiais conduz a um crescimento da procura.

 

Na realidade, o crescimento do PIB pode estar a abrandar precisamente porque o investimento existente na manufacturação e nas infra-estruturas,  assumido em grande parte pelos governos locais e pelas empresas detidas pelo Estado, não corresponde ao padrão de procura doméstica. Como resultado, a China agora enfrenta um problema de excesso de capacidade a curto prazo.

 

Melhorar a qualidade do crescimento do PIB vai depender da disposição dos líderes chineses para orientar reformas de mercado. Mais do que conduzir directamente o investimento, o Estado deve enfatizar as suas funções reguladoras e de aplicação das leis, incluindo ajustar e controlar padrões, construindo uma estrutura eficiente de direitos de propriedade, gerindo as condições económicas. Ao mesmo tempo, o Estado deve melhorar a qualidade e o fornecimento da educação, da saúde, e da segurança, minimizando a corrupção e os abusos administrativos.

 

Em suma, a China deve virar o seu foco do crescimento do PIB para a criação de um ambiente que promova a inovação e a competição, permitindo às forças de mercado definir os preços e alocar os recursos de forma mais eficiente. O Estado deve tornar-se um agente intermediário, facilitando o desenvolvimento de uma ordem económica sustentável onde menos é mais – ou seja, um sistema onde menos intervenção cria mais oportunidades para a criatividade.

 

As empresas detidas pelo Estado têm um papel importante no modelo de crescimento na China, com a distribuição de serviços e infra-estruturas necessários para que a cadeia de oferta para o mundo inteiro funcione. Mas o acesso a crédito barato por parte dos bancos controlados pelo Estado cria um incentivo para estas empresas gerarem um excedente de capacidade, que aumenta o risco sistémico na economia. Para corrigir o problema do excesso de capacidade na China é necessário que algumas empresas relevantes, estatais ou privadas, deixem o mercado.

 

A não ser que os líderes chineses implementem grandes reformas estruturais que ajudem a estabelecer um modelo de crescimento baseado no mercado, não serão capazes de evitar a “armadilha da meia receita” que impediu muitas economias em desenvolvimento de tornarem os seus países desenvolvidos. A desaceleração do crescimento do PIB causado por essas reformas vai ser mais do que ofuscada pelo aumento do dinamismo do mercado e da estabilidade económica.

 

Andrew Sheng é presidente do Fung Global Institute, é ex-presidente da Comissão de Valores Mobiliários e Futuros de Hong Kong, e é actualmente professor adjunto na Universidade de Tsinghua, em Pequim. Xiao Geng é director de investigação do Fung Global Institute.


Direitos de Autor: Project Syndicate, 2013.
www.project-syndicate.org

Tradução: Jorge Garcia

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