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Uma noite de Natal atribulada

Ursos e touros são símbolos importantes do mundo da bolsa.

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Os ursos acreditam que o mercado vai cair enquanto os touros confiam em futuras subidas. Resolvi, por isso, criar duas personagens fictícias e dar-lhes voz, esgrimindo argumentos. Hoje, o urso Misha e o touro Bill regressam ao nosso convívio.

Estava eu a passear pelas ruas de Aveiro, observando a frenética agitação das compras de Natal, quando observo dois Pais Natais de dimensões diferentes do habitual. À medida que me vou aproximando, apercebo-me que são os meus amigos Misha e Bill que estavam vestidos de Pai Natal a brincar com as crianças e distribuir presentes.

Ulisses: Olá! Estava longe de vos imaginar nesse papel. A quadra natalícia é sinónimo de harmonia e tranquilidade e esses dois adjectivos não vos assentam bem, especialmente quando estão juntos.
Touro Bill: Não sejas mauzinho, Ulisses. É Natal e eu e o Misha entrámos dentro deste espírito natalício espalhando sorrisos pelas ruas da tua cidade.
Ulisses: Sinceramente, custa-me a acreditar. Se tivesse a certeza que era verdade até vos convidava para irem jantar lá a casa na noite de Natal.
Urso Misha: Convite aceite, Ulisses! Conta connosco que nós prometemos portar-nos de acordo com a ocasião e deixar as nossas desavenças à porta de tua casa.
Depois de longas horas a tentar convencer a minha família de que eles até seriam uma agradável companhia, consegui que aceitassem a presença dos meus dois amigos.
A casa da minha avó estava com o brilho que sempre tem numa noite de Natal: Uma Árvore de Natal bem iluminada e decorada, com as prendas em seu redor e com uma mesa de sobremesas recheada de sonhos, rabanadas e outros bolos típicos desta ocasião. Tinha a secreta esperança que, pela primeira vez na vida, o Misha e o Bill não ultrapassariam os limites do razoável.
O jantar estava a decorrer num óptimo ambiente e o bacalhau parecia o mais saboroso que já tinha provado, quando a minha avó teve a infeliz ideia de meter conversa com o Bill.
Avó: Bill, eu não percebo nada de Bolsa, mas com esta crise deve ter sido um ano muito mau para as Bolsas, não?
Bill: Bem pelo contrário! Apesar da crise, no último meio ano, a nossa Bolsa subiu cerca de 15% e o Nasdaq mais de 20%. Isso é o maior sinal de força que pode haver.
Misha: Bill, demagogia no Natal é pecado. O que tu acabaste de dizer é a prova de que a euforia e irracionalidade tomaram conta das Bolsa o que, como bem sabes, é a antecâmara das quedas. Os fundamentais económicos continuam muito fracos, como há muitas décadas já não se via.
Bill: Tu não vês o BCE a intervir no mercado comprando dívida pública dos países europeus em dificuldade? Não vês a FED a injectar dinheiro no sistema? Falar em quedas com intervenções desta grandeza é uma estupidez.
Misha: Isso pode originar subidas artificiais de curto prazo, mas no longo prazo essas subidas não são sustentáveis. O que a FED e o BCE estão a fazer é hipotecarem o futuro e, por isso, no médio e longo prazo isto só vai originar quedas.
Bill: Continua a ignorar as subidas e vês as tuas perdas a avolumarem-se. Se calhar ainda nem te apercebeste que o DAX está a menos de 15% de um máximo histórico? Imagina se não houvesse crise…
Misha: E tu continua a ignorar os péssimos fundamentais macroeconómicos e depois quando o mercado colapsar como no Verão de 2007, queixa-te que tiveste azar. Essa história da tendência ser nossa amiga é muito bonita até ela terminar. Continuas mesmo um touro cego.
O clima estava a ficar pesado e para tentar evitar males maiores, sugeri que fossemos abrir as prendas. Entre chocolates, livros, brinquedos, roupa, as prendas iam-se sucedendo até que chegou a altura do Misha dar a prenda ao Bill. O touro abre o embrulho e encontra um fato de mergulho.
Bill: Para que é que eu quero isto?
Misha: É para te ires preparando para 2011, altura em que os mercados se vão afundar. Pode ser que tu assim sobrevivas.
Algo exaltado, Bill dá um embrulho muito pequenino a Misha. O urso verifica que dentro do embrulho apenas se encontra um vale do McDonald`s a dizer: "Vale um BigMac".
Bill: Há um ano e meio a perderes dinheiro na Bolsa americana, já nem dinheiro para comeres deves ter. E eu, num acto de compaixão próprio desta época, resolvi abrir os cordões à bolsa e oferecer-te este magnífico manjar.
Misha ficou completamente descontrolado e empurrou Bill, caindo os dois por cima da mesa das frutas. As rabanadas e sonhos iam pelo ar, no meio daquela pancadaria. Eu sabia que não podia confiar neles…

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Analista Dif Brokers
ulisses.pereira@difbroker.com
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