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25 de Outubro de 2007 às 13:59

Uma guerra para perdedores

Ao lançar na madrugada de domingo o mais mortífero ataque de guerrilha desde o recomeço das hostilidades em 2004 junto à aldeia de Daglica, a apenas cinco quilómetros da fronteira com o Iraque, o Partido dos Trabalhadores do Curdistão (PKK) atingiu um obj

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As pressões norte-americanas e europeias sobre Ancara para negociar com as autoridades de Bagdad e do Curdistão iraquiano vão obrigar, na óptica do PKK, a que uma eventual incursão militar turca assuma duração e dimensões limitadas. Para Murat Karayilan, o actual líder dos separatistas, o governo turco teria, ainda, de aceitar incluir o PKK em conversações sobre o estatuto das províncias curdas do sudeste da Turquia.
 
Erradicar bases separatistas

Para os estrategos turcos a lógica e utilidade de qualquer incursão militar obrigam à erradicação das bases militares do PKK.

Se a abertura política na Turquia e os investimentos nas províncias curdas do sudeste permitem encarar a possibilidade de secar os apoios a uma guerrilha dependente de bases no exterior, o êxito de uma intervenção militar no Iraque é, no entanto, altamente duvidoso.

Desta feita, ao contrário das operações dos anos 90, o exército turco não contará com apoio das milícias peshmerga dos dois principais partidos do Curdistão iraquiano (Partido Democrático, de Massoud Barzani, e União Popular, de Jalal Talabani).

Os separatistas ao retomarem as hostilidades no Verão de 2004, após cinco anos de tréguas que se seguiram à captura do seu líder Adullah Öcalam, encetaram acções de guerrilha no sudeste da Turquia e uma campanha terrorista nas províncias ocidentais contra alvos económicos, sobretudo da indústria turística, a partir de bases no norte do Iraque.

As principais bases do PKK ficam nas montanhas de Qandil, no nordeste do Iraque, junto à fronteira com o Irão, e os militares turcos, sem possibilidade de arriscarem uma ocupação com infantaria, limitar-se-ão a bombardeá-las com caças F-16, recorrendo a unidades de forças especiais apoiadas por helicópteros de ataque Cobra para operações de limpeza.
 
As bases avançadas do PKK nas montanhas ao longo dos 350 quilómetros de fronteira servem apenas para incursões na Turquia, têm escassas infras-estruturas e albergam unidades com grande mobilidade.

Uma incursão militar antes que o Inverno tombe sobre o Curdistão só fará sentido se conseguir provocar grandes baixas aos cerca de 3 mil guerrilheiros do PKK e gerar capturas de material de tal modo significativas que impeçam os separatistas de retomarem de imediato na Primavera uma contra-ofensiva na Turquia.

Poucos trunfos para a Turquia

Nos poucos meses que um eventual êxito militar (independentemente das elevadas baixas que as forças armadas turcas parecem estar dispostas a aceitar) ofereça para negociações diplomáticas (que terão de envolver o Irão em guerra contra os separatistas curdos do PEJAK, aliados do PKK) a Turquia tentaria exigir garantias por parte dos Estados Unidos e das autoridades de Curdistão iraquiano, nomeadamente do presidente do governo regional Massoud Barzani, de acções para pôr cobro a qualquer actividade separatista.

Ao contrário da ameaça de guerra lançada por Ancara contra Damasco em 1998, que levou a Síria a expulsar Öcalam, capturado no ano seguinte em Nairobi para pôr fim à primeira fase da guerrilha separatista, desta feita os trunfos turcos são menos expressivos.

Pouco prováveis concessões dos partidos curdos iraquianos para bloquearem acções do PKK obrigariam em troca Ancara a reconhecer os desígnios curdos sobre Kirkuk, a capital petrolífera em disputa no norte do Iraque.

Além de sacrificar os interesses da minoria turcomena, a Turquia jogaria nesse caso o seu peso a favor dos curdos na partilha do poder no Iraque e criaria um foco de agregação para as populações curdas também potencialmente destabilizador para o Irão e a Síria.

Uma incursão militar seria incapaz de criar uma zona tampão no norte do Iraque contra a vontade das autoridades curdas iraquianas e teria consequências negativas para a economia do sudeste da Turquia.

Tal efeito negativo deitaria a perder os apoios ao governo de Ancara que se fazem sentir precisamente numa altura em que as populações curdas começam a reconhecer os resultados das políticas dos governos do Partido Justiça e Desenvolvimento desde 2002, conforme demonstraram os resultados dos islamitas de Recip Erdogan nas últimas eleições nas circunscrições de maioria curda.

A hostilização declarada aos Estados Unidos, dependentes do apoio da Turquia para 70 por cento das suas linhas logísticas no Iraque, não é opção para Ancara numa altura em Washington se prepara para um possível conflito com Teerão.

A irritação provocada pela discussão na Câmara de Representantes de Washington de uma moção sobre o genocídio arménio em 1915 veio complicar a manobra diplomática e o antiamericanismo crescente da opinião pública turca embaraça o governo de Erdogan que não pode ignorar os apelos a uma retaliação militar contra os separatistas.
 
Falhar em demasiadas frentes

As difíceis negociações de adesão à União Europeia, as conversações sobre o estatuto de Chipre, serão seriamente prejudicadas por uma intervenção militar turca que gere retaliações por parte das autoridades curdas no norte do Iraque e acabe por destabilizar a região menos turbulenta da Mesopotâmia.

Esta instabilidade em várias frentes, muito mais do que o agravamento das sabotagens no oleoduto Kirkuk – Ceyhan ou a possibilidade de ataques nas províncias turcas ao oleoduto Baku – Ceyhan, conta-se como um dos factores para a alta do petróleo.

Para a Turquia, todas as saídas para esta crise são perdedoras.

Uma intervenção militar não destruirá a capacidade guerrilheira e terrorista do PKK na falta de um apoio decisivo dos partidos curdos iraquianos.

A impunidade de um santuário terrorista num estado vizinho é intolerável para a Turquia e potencia crises político-militares internas.

Uma operação militar pontual com apoio dos Estados Unidos e a condescendência dos partidos curdos iraquianos será ineficaz para erradicar as bases do PKK.

Um compromisso vago de empenhamento dos partidos curdos do Iraque para controlarem as actividades do PKK é uma das saídas menos más para a Turquia desde que permita estancar acções terroristas e de guerrilha até à Primavera, mas representa, apenas, um adiar do problema.

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