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22 de Junho de 2004 às 13:59

Scolari

O homem já não é uma besta. Scolari ascendeu, aos 57 minutos, a bestial e, na melhor tradição, tem uns dias de estrelato. Pois que já é simpático, competente, visionário e etc.

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O homem já não é uma besta. Scolari ascendeu, aos 57 minutos, a bestial e, na melhor tradição, tem uns dias de estrelato. Pois que já é simpático, competente, visionário e etc. A equipa de Felipe bateu os espanhóis, passou aos quartos-de-final do Euro e durante mais uma noite o país gritou, buzinou, enjorcou, bebeu e multi-embandeirou em arco. A equipa afinal é boa e Felipe é Felipão. Esta inconstância, que é tanto das mulheres de Shakespeare como dos futeboleiros do reino, não pode ser censurada. Não quando são as emoções que agitam as massas. E são as emoções que agitam as massas. Estas emoções. E são estas emoções que a iconomania precisa para criar os seus mitos.

Mourinho é já um mito português. Scolari pode ser o próximo. E dado que lhes atribuem, por magna carta, poderes além do futebol (incluindo a capacidade de relançar a economia, sabe-se lá porquê), legitima-se a idolatria. Pôr os treinadores de futebol no patamar dos gestores de empresas não é incomum – até porque é vendável: Sir Alex Ferguson ou Sven-Goran Erikkson dão capas de livros muito mais sex-appealing do que Philip Kotler ou Tom Peters.

Que gestor-líder é Scolari? Que ensinamentos haveremos de consagrar se Portugal for longe no Euro 2004?

Primeiro, a capacidade de comunicação, que cativa pela não-presunção. Depois, a forma como cerrou fileiras e deu o corpo ao tiroteio mediático para proteger os «seus». O caso da contratação fantasma pelo Benfica foi, nisso, marcante. Mais: ao pôr, em Óbidos, a selecção disponível para o país, tornou o país disponível para a selecção. Mais ainda: cultiva equipas multi-disciplinares. E parece claro que a eleição de um inimigo nacional faz parte da sua estratégia. Só não se sabe porquê. Em Portugal, esse inimigo é Baía, no Brasil havia sido Romário. Será afirmação anti-vedetismo? O mérito à frente da antiguidade? Dividir para reinar? Teimosia egocêntrica? É uma dúvida metódica, talvez consequente em caso de derrota, talvez consequente em caso de vitória.

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