Opinião
Psicoterapias alternativas
Portugal, na situação de encruzilhada em que se encontra, tem de escolher uma via, um roadmap para o futuro.
Apesar dos seus enviezamentos culturais, nunca os preceitos aparentemente simplistas da nova economia industrial se revelaram tão certos como hoje.
Para as nações, como para as empresas, não há caminhos intermédios – ou se afirmam pela matéria cinzenta ou pelo baixo custo de factores.
Portugal, na situação de encruzilhada em que se encontra, tem de escolher uma via, um roadmap para o futuro.
Seremos capazes de fazer como os suíços, os finlandeses, os dinamarqueses ou os holandeses, povos tão ou mais pequenos do que nós, que souberam construir um espaço de afirmação económica baseado no querer e no saber?
Ou teremos de nos resignar a um estatuto de menoridade, braçal e desqualificado, uma espécie de ocidente pobre e inerte da Ibéria, administrado por capital castelhano? O que fazer do nosso tecido industrial, das nossas vantagens, das nossas ambições?
É certo que as pequenas economias do norte da Europa souberam, ao contrário de nós, alicerçar a sua sustentabilidade em dois factores essenciais - boa burguesia e boas instituições.
Essa combinação frutuosa, associada a práticas seculares de comércio internacional, à moral protestante e ao clima agreste, produziu tecidos empresariais robustos e assentes em factores dinâmicos de competitividade - engenharia, knowhow, inovação e redes - dificilmente replicáveis.
Faz inveja olhar para a Suiça, um país que tem tudo para não dar certo, desde três línguas oficiais (e inúmeros dialectos) a condições de relevo fortemente constringentes, e que consegue dar cartas no mundo global em sectores tão pujantes quanto a indústria química, a farmacêutica, a agro-alimentar, a relojoeira ou a financeira (banca e seguros).
Mete raiva observar a história recente da Finlândia, outro país que tinha quase tudo para falhar na arena global e que soube transformar, em menos de vinte anos, uma economia rural e aparentemente sem futuro num caso brilhante de sucesso, suportado na inteligência e na valorização do capital humano.
Não é só a Nokia e a fileira electrónica, é toda uma rede de conhecimento e de estímulos cruzados à inovação e à capacidade empreendedora, é toda uma máquina estatal ao serviço da economia e do bem-estar da população.
Restará certamente muita burocracia a eliminar, o país é frio e um pouco maçador (passado o efeito visual dos primeiros cem lagos), os finlandeses são sisudos e nem parecem gente feliz, tudo isto é certo.
Mas, por mim, trocaria alegremente o nosso espírito carnavalesco por uma boa dose de rigor, inteligência e qualidade de vida à suomi. É com estes exemplos e modelos que nos temos de comparar e não com matrizes de desenvolvimento condenadas ao fracasso.
Os ventos da deslocalização industrial sopram cada vez mais forte de ocidente para oriente, da República Checa voarão para a Eslováquia, depois para a Moldávia, depois para o Paquistão, depois para o Bangladesh, até acabarem na China.
A menos que ocorram transformações sócio-económicas abruptas e imprevisíveis, só o tempo - muito tempo, infelizmente - poderá repor algum equilíbrio no xadrez económico mundial. Até lá, os ventos não mudarão de sentido.
Ou nos deixamos transportar por eles, sem norte, ou encontramos uma forma de os utilizarmos na medida da nossa própria vontade, fazendo da capacidade de inovação e do querer a placa giratória para o futuro.
Por isso me revejo nas preocupações que Manuel Pinho tem vindo a levantar acerca do estado da nação, bem como nas terapêuticas que propõe. O problema de Portugal não é o orçamento, é a economia.
Do que o país precisa não é de um choque fiscal, é de um choque tecnológico. São estes, de facto, os equívocos em que a mentalidade contabilística vigente tem vindo sistematicamente a laborar, em prejuízo do investimento na ciência, na tecnologia, na educação e na qualificação profissional.
Se sai caro, experimentem a ignorância, conforme nos lembram regularmente os professores do ensino básico. Ou experimentem, à francesa, a demissão e o êxodo de cientistas, investigadores e agentes de inovação.
O orçamento ficará feliz.