Opinião
Picolé de chuchu vai à luta
Gerardo Alckmin, candidato do Partido da Social-Democracia Brasileira às eleições presidenciais de Outubro, prometeu batalhar sem tréguas contra o que chama a onda de corrupção do governo Lula, argumentando que o Brasil tem pressa de crescimento do empreg
Um choque de capitalismo. Eficiência de «ponta a ponta» eis a promessa de Geraldo Alckmin, o candidato do Partido da Social-Democracia Brasileira às eleições presidenciais de Outubro.
O governador de São Paulo, tem 53 anos, menos sete do que Lula, é médico anestesista e anda na política desde 1972. Há seis anos que governa o coração financeiro e industrial do Brasil, depois de herdar o manto do seu inspirador Mário Covas.
Resignou-se à alcunha de picolé de chuchu, que é como quem diz cara ameno, mas insonso, incolor e inodoro, contudo seria um erro subestimá-lo e Lula, que por alturas do Mundial de Futebol anunciará a recandidatura, está de olho nele.
O estado de São Paulo com 22 por cento da população do Brasil gera 40 por cento da riqueza nacional e sob a liderança de Alckmin registou um crescimento anual de sete e meio por cento, bem acima da média nacional que orça nuns frouxos 2,6 por cento.
O governador Alckmin goza de uma elevada taxa de aprovação pelo trabalho desenvolvido em São Paulo, 69 por cento nas últimas sondagens, mas tem fraca projecção fora do estado, ainda que depois do anúncio da candidatura na semana passada tenha registado um ligeiro aumento nas intenções de voto.
Uma sondagem da Datafolha dava 23 por cento das intenções de voto ao tucano, contra 42 por cento para Lula, enquanto a eventual candidatura do populista ex-governador carioca Anthony Garotinho pelo Partido do Movimento Democrático Brasileiro se quedaria pelos 12 por cento. O presidente trabalhista venceria a segunda volta com 50 por cento contra 38 por cento de Alckmin.
O índice de rejeição de Alckmin é baixo - apenas 16 por cento, comparado a 33 por cento de inquiridos que recusam votar Lula -, mas tal deve-se ao fraco reconhecimento da sua pessoa por parte do eleitorado, sobretudo no Nordeste que com os seus 40 milhões de votantes (27 por cento do total) é, presentemente, aposta ganha para o presidente.
Alckmin prometeu batalhar sem tréguas contra o que chama a onda de corrupção do governo Lula, argumentando que o Brasil tem pressa de crescimento do emprego, pressa de aumento do rendimento.
A tarefa é complicada porque Lula conseguiu escapar à sujeira do mensalão e dos escândalos de corrupção que mancharam o Partido dos Trabalhadores. Mas foi-se a alegada superioridade moral do PT em terra de piranhas que devoram até ao osso o erário público.
Lula defendeu-se dizendo sempre que não sabia de nada, emagreceu 14 quilos e anda em pré-campanha sem ter ainda cedido às tentações despesistas que propõem alguns dos membros do seu governo e o Partido dos Trabalhadores em peso contra a vontade do fragilizado ministro das finanças António Palocci.
Certo é que Lula manteve a ponderada política económica e financeira do antecessor, o social-democrata Fernando Henrique Cardoso. Conta, presentemente, com uma taxa de aprovação da política governamental de 38 por cento, mas joga a reeleição com dois trunfos fortes: o programa Bolsa Família com subsídios a 8 milhões e 700 mil de pobres e aumentos salariais e de pensões. Por atacado um quinto dos brasileiros mais pobres beneficia das iniciativas governamentais. A miséria tem vindo a diminuir lentamente apesar de um quarto dos 186 milhões de brasileiros subsistir abaixo da linha de pobreza. Mais de três milhões de empregos foram criados nos últimos dois anos. No lado mau as taxas de juro estão muito altas, a 11 por cento, e o défice orçamental ressente-se com tanta despesa pública.
Face a este panorama Alckmin propagandeia reforma fiscal e promete dar prioridade a acordos bilaterais para promoção do livre comércio, mas além da imagem de competente e eficaz terá de descobrir maneira de ganhar o voto do pobre para não se quedar pelo apoio das classes médias mais politizadas nos estados mais urbanizados e desenvolvidos.
Vai ter mesmo de fugir à alcunha de picolé de chuchu. Alckmin com toda a imensa razão que tenha em matéria de moral e nas tiradas contra a corrupção do Partido dos Trabalhadores sabe que a verdade é triste e singular: moral não enche a barriga do pobre.