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02 de Junho de 2009 às 12:00

Os três reis magos

Os tratamentos são diferentes porque os riscos também o são: o BPN foi salvo porque tinha risco sistémico, o BPP vai saldar-se porque tem risco político, os fundos de Madoff serão negociados porque têm risco reputacional para os bancos que os venderam.

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Enquanto os clientes do BPP gritam para reaver o seu dinheiro e os de Madoff o recebem a 30 anos, os do BPN nada sentem. Mas para isso foram precisos 2,55 mil milhões de euros da Caixa.

Os tratamentos são diferentes porque os riscos também o são: o BPN foi salvo porque tinha risco sistémico, o BPP vai saldar-se porque tem risco político, os fundos de Madoff serão negociados porque têm risco reputacional para os bancos que os venderam.

No BPN pagou-se o que foi preciso para prevenir uma corrida aos bancos. A decisão foi acertada mas foi como passar um cheque em branco. As primeiras estimativas oficiais eram de um buraco de 700 milhões mas as necessidades de liquidez foram o triplo disso. O Estado pode perder mil milhões numa banqueta que consegue o prodígio de ter prejuízos de 575 milhões de euros. Mesmo não sendo a fundo perdido, o dinheiro da Caixa (que dava para comprar o BPI e o Banif juntos) estaria mais bem empregue a fazer crescer projectos do que a remediar problemas de liquidez.

No BPP, o Governo prepara-se para decidir o início da devolução de dinheiro aos clientes dos supostos produtos de retorno absoluto. Estes, desesperados, fazem tudo o que podem para reaver o dinheiro que perderam. E tudo o que podem agora é gritar: a pressão sobre os políticos através dos media é a arma que sentem como mais eficaz. Até o "El País" faz uma página inteira garantindo que a "banca portuguesa está à deriva", numa conclusão incrível falando do que fala e vindo de quem vem.

Como dizia ontem o presidente do Finantia, é preciso resolver depressa os casos BPP e BPN para que estes parem de contaminar a credibilidade dos demais bancos. Que, já agora, deram um bigode aos bancos espanhóis no que a exposição a activos tóxicos e esquemas piramidais diz respeito. Em Portugal, não há crise bancária. Repito: não há crise bancária. Os dois casos relatados são casos de polícia, independentemente da crise. Já em Espanha, as tão admiradas "cajas" estão na ruptura total, bancos intermédios procuram companheira, bancos grandes perderam fortunas. Veja-se o Santander: dois mil milhões de euros nos fundos Madoff, a que os clientes agora terão direito a 30 anos, e só se assinarem contratos leoninos que os obrigam a relações bancárias "eternas" com o banco.

Este "pecado" do Santader, que prejudicou muitos clientes, foi minúsculo em Portugal, onde o Totta tem bons resultados e melhor balanço. Os portugueses têm, de facto, gerido bem os activos daquele grupo. Incluindo Horta Osório, agora nomeado para um Banco de Inglaterra que precisa de ser virado do avesso: foi displicente antes da crise e encheu-se de soberba quando o sistema financeiro começou a colapsar.

PS. Há três semanas, critiquei Elisa Ferreira por ter dito num bairro social: "Esqueceram-se de vos dizer que o dinheiro é do Estado, é do PS". A frase estava na primeira página do "Jornal de Notícias". Dias depois, numa invisível secção do mesmo jornal, era feita a rectificação: Elisa Ferreira garante que não disse a frase, o que o "JN" aceitou sem contestar. Lamento ter feito eco de um erro, que prejudica o nome de Elisa Ferreira e o seu projecto político. Não há pedido de desculpa que compense o mal feito mas não conheço outra forma de tentá-lo. São os jornais tendenciosos na crítica ou cobardes no reconhecimento do erro que abrem portas às ignorâncias da ERC. E o Negócios não quer dar razões a quem quer mais regulação.

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