Opinião
O reverso de Merkel
Steinbrück é agora o candidato social-democrata à chancelaria para as eleições de Setembro de 2013 com a promessa de formar uma coligação com os Verdes à imagem da aliança que liderou como chefe do governo do maior estado da federação, a Renânia do Norte-Vestefália, entre 2002 e 2005.
Quatro anos terão passado na sexta-feira sobre o dia em que Angela Merkel e o seu ministro das Finanças Peer Steinbrück foram à televisão garantir os depósitos privados aos alemães temerosos ante as consequências da iminente falência do banco imobiliário "Hypo" de Munique.
Ao lado de Merkel o ministro social-democrata na coligação que governou Berlim entre Novembro de 2005 e Outubro de 2009 ganhou galões como um dos responsáveis pela forma como a Alemanha aguentou o choque da crise financeira de 2008/2009.
Steinbrück é agora o candidato social-democrata à chancelaria para as eleições de Setembro de 2013 com a promessa de formar uma coligação com os Verdes à imagem da aliança que liderou como chefe do governo do maior estado da federação, a Renânia do Norte-Vestefália, entre 2002 e 2005.
Descartada a hipótese de uma candidatura da actual ministra-presidente da Renânia do Norte-Vestefália, Hannelore Kraft, Steinbrück surgiu como um compromisso entre as tendências social-democratas.
Poucas possibilidades teriam frente a Merkel o presidente do partido Sigmar Gabriel ou o líder parlamentar Frank-Walter Steinmeier, cara em 2009 da maior derrota de sempre em eleições federais quando o SPD se quedou por 23% dos votos.
Steinbrück, conotado com a ala mais à direita, sobretudo pelo seu apoio às reformas laborais e da Segurança Social lançadas por Gerard Schröder, a Agenda 2010, é o candidato para atrair o eleitorado indeciso e desorientado ante o curso da crise europeia.
Crítico das atitudes timoratas de Merkel que afirma terem agravado a crise do euro e da dívida soberana, Steinbrück pretende fazer destas questões, a par da justiça social e regulação financeira, tema maior de campanha.
A chanceler continua a liderar as preferências do eleitorado a título pessoal, enquanto os conservadores se aproximam dos 40% nas intenções de voto, contra menos de 30% para os social-democratas e pouco mais de 10% para os Verdes.
O descalabro dos liberais ameaça, contudo, os actuais aliados de Merkel que revelam dificuldade para conseguir superar a barreira dos 5% necessária a representação parlamentar.
O retomar de uma "Grande Coligação" entre democratas-cristãos, social-cristãos bávaros e social-democratas é o cenário mais provável.
Altivo, brusco, sarcástico, Steinbrück é político de escasso tacto diplomático, mas
os seus mais recentes cavalos de batalha não irão inviabilizar uma eventual aliança com a direita.
O candidato do SPD, limitado ao cargo de deputado desde 2009, propôs recentemente a criação pelos bancos alemães de um fundo próprio de resgate de 200 mil milhões de euros para o sector.
Defendeu, ainda, a separação da banca de investimento e de retalho na linha de propostas similares nos Estados Unidos (Directiva Volcker), no Reino Unido (Comissão Vickers) e do grupo de trabalho da UE liderado por Erkki Liikanen.
As dificuldades da UE para definir a regulação e supervisão bancária retiram urgência à questão até à eclosão de algum drama que ameace entidades como o Barclays, o Deutsche Bank, o BNP Paribas, ou o UniCredit e salvo limitações às remunerações de executivos e saneamento dos "Landesbanken" dificilmente valerá como bandeira eleitoral.
Steinbrück constata publicamente o imperativo de financiamentos extraordinários à Grécia como mal menor perante os prejuízos que acarretaria a saída de Atenas da zona euro, admite, em princípio, emissões limitadas de obrigações europeias e pugna por maior acento em políticas de crescimento.
Quando toca a precisar as suas posições o candidato social-democrata, acatando a obrigação constitucional de equilíbrio orçamental e crítico do que classifica como keynesianismos obtusos, revela-se, no entanto, tão timorato quanto a rival conservadora.
O Tribunal Constitucional de Karlsruhe obriga o parlamento a votar eventuais aumentos das responsabilidades assumidas por Berlim no quadro do "Mecanismo Europeu de Estabilidade" (MEE) – 190 mil milhões de euros num total de 700 mil milhões de capital mobilizado -- e essa imposição é aceite pelo SPD.
O candidato evitou igualmente pronunciar-se sobre projectos de federalização política e acerca das objecções da Alemanha, Holanda e Finlândia à recapitalização de bancos em risco que obriguem a assumir "passivos herdados".
Ao MEE só cumpriria assumir dificuldades futuras a partir da sua data de entrada em funcionamento cabendo o resgate de responsabilidades prévias aos respectivos governos nacionais e esta posição tal como o diferendo entre o BCE e o Bundesbank sobre o "Plano de Transacções Monetárias Directas" de Mario Draghi ameaça transformar a artilharia pesada de Frankfurt em mera fisga financeira.
A falta de credibilidade por ausência de consenso mina eventuais intervenções no mercado primário obrigacionista e a oposição social-democrata não avança com alternativas que afrontem as tendências prevalecentes numa Alemanha cada vez mais renitente a assumir responsabilidades por mutualização de dívidas em que venha a sair como grande perdedora.
Steinbrück não mostra estofo de líder, está muito aquém do seu patrono Helmut Schmidt, e antes aparenta ser um mero reverso da moeda Merkel.
Ao lado de Merkel o ministro social-democrata na coligação que governou Berlim entre Novembro de 2005 e Outubro de 2009 ganhou galões como um dos responsáveis pela forma como a Alemanha aguentou o choque da crise financeira de 2008/2009.
Descartada a hipótese de uma candidatura da actual ministra-presidente da Renânia do Norte-Vestefália, Hannelore Kraft, Steinbrück surgiu como um compromisso entre as tendências social-democratas.
Poucas possibilidades teriam frente a Merkel o presidente do partido Sigmar Gabriel ou o líder parlamentar Frank-Walter Steinmeier, cara em 2009 da maior derrota de sempre em eleições federais quando o SPD se quedou por 23% dos votos.
Steinbrück, conotado com a ala mais à direita, sobretudo pelo seu apoio às reformas laborais e da Segurança Social lançadas por Gerard Schröder, a Agenda 2010, é o candidato para atrair o eleitorado indeciso e desorientado ante o curso da crise europeia.
Crítico das atitudes timoratas de Merkel que afirma terem agravado a crise do euro e da dívida soberana, Steinbrück pretende fazer destas questões, a par da justiça social e regulação financeira, tema maior de campanha.
A chanceler continua a liderar as preferências do eleitorado a título pessoal, enquanto os conservadores se aproximam dos 40% nas intenções de voto, contra menos de 30% para os social-democratas e pouco mais de 10% para os Verdes.
O descalabro dos liberais ameaça, contudo, os actuais aliados de Merkel que revelam dificuldade para conseguir superar a barreira dos 5% necessária a representação parlamentar.
O retomar de uma "Grande Coligação" entre democratas-cristãos, social-cristãos bávaros e social-democratas é o cenário mais provável.
Altivo, brusco, sarcástico, Steinbrück é político de escasso tacto diplomático, mas
os seus mais recentes cavalos de batalha não irão inviabilizar uma eventual aliança com a direita.
O candidato do SPD, limitado ao cargo de deputado desde 2009, propôs recentemente a criação pelos bancos alemães de um fundo próprio de resgate de 200 mil milhões de euros para o sector.
Defendeu, ainda, a separação da banca de investimento e de retalho na linha de propostas similares nos Estados Unidos (Directiva Volcker), no Reino Unido (Comissão Vickers) e do grupo de trabalho da UE liderado por Erkki Liikanen.
As dificuldades da UE para definir a regulação e supervisão bancária retiram urgência à questão até à eclosão de algum drama que ameace entidades como o Barclays, o Deutsche Bank, o BNP Paribas, ou o UniCredit e salvo limitações às remunerações de executivos e saneamento dos "Landesbanken" dificilmente valerá como bandeira eleitoral.
Steinbrück constata publicamente o imperativo de financiamentos extraordinários à Grécia como mal menor perante os prejuízos que acarretaria a saída de Atenas da zona euro, admite, em princípio, emissões limitadas de obrigações europeias e pugna por maior acento em políticas de crescimento.
Quando toca a precisar as suas posições o candidato social-democrata, acatando a obrigação constitucional de equilíbrio orçamental e crítico do que classifica como keynesianismos obtusos, revela-se, no entanto, tão timorato quanto a rival conservadora.
O Tribunal Constitucional de Karlsruhe obriga o parlamento a votar eventuais aumentos das responsabilidades assumidas por Berlim no quadro do "Mecanismo Europeu de Estabilidade" (MEE) – 190 mil milhões de euros num total de 700 mil milhões de capital mobilizado -- e essa imposição é aceite pelo SPD.
O candidato evitou igualmente pronunciar-se sobre projectos de federalização política e acerca das objecções da Alemanha, Holanda e Finlândia à recapitalização de bancos em risco que obriguem a assumir "passivos herdados".
Ao MEE só cumpriria assumir dificuldades futuras a partir da sua data de entrada em funcionamento cabendo o resgate de responsabilidades prévias aos respectivos governos nacionais e esta posição tal como o diferendo entre o BCE e o Bundesbank sobre o "Plano de Transacções Monetárias Directas" de Mario Draghi ameaça transformar a artilharia pesada de Frankfurt em mera fisga financeira.
A falta de credibilidade por ausência de consenso mina eventuais intervenções no mercado primário obrigacionista e a oposição social-democrata não avança com alternativas que afrontem as tendências prevalecentes numa Alemanha cada vez mais renitente a assumir responsabilidades por mutualização de dívidas em que venha a sair como grande perdedora.
Steinbrück não mostra estofo de líder, está muito aquém do seu patrono Helmut Schmidt, e antes aparenta ser um mero reverso da moeda Merkel.
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