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O Quatar e o poder no futebol europeu

Dois dos clubes que estão entre os oito finalistas da Liga dos Campeões pertencem a fundos do Quatar: o PSG e o Málaga. E é preciso não esquecer que o Barcelona, depois de muitos anos sem publicidade nas camisolas (apoiava a Unicef), tem agora o patrocínio da Qatar Foundation. Uma nova era?

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São os jogadores que ganham os jogos e não o dinheiro. De outra forma o Chelsea, o PSG ou o Manchester City venciam tudo. Mas ninguém duvida que os fundos, mais ou menos ilimitados, colocados à disposição de algumas equipas, acabam por desequilibrar a balança no relvado. Mas que move esta irresistível atracção de magnates e de fundos em direcção a alguns dos mais representativos clubes da Europa? Ganhar dinheiro ou, simplesmente, ter o prazer de ter um clube? O Sr. Nasser al-Khelaifi, representante do Qatar Investment Authority, é hoje o homem que está à frente do Paris Saint-Germain. Há dias disse ao "El País", que: "Se se planifica e se administra bem podemos ganhar muito dinheiro com um clube de futebol. Não é muito complicado. Precisas de tempo. Para nós não será difícil ser rentáveis: somos o único clube da capital de França, onde vivem 20 milhões de pessoas e estão as mais importantes empresas do país". Ou seja, a ideia é estar perto do centro do poder. Pelo caminho o PSG comprou uma série de craques, a começar pelo Sr. Ibrahimovic, e foi buscar um treinador de sucesso, o Sr. Carlo Ancelotti. E o jogo da Liga dos Campeões contra o Barcelona provou o seu poderio.

Mas isso levanta outra questão: dois dos clubes que estão entre os oito finalistas da Liga dos Campeões pertencem a fundos do Quatar: o PSG e o Málaga. E é preciso não esquecer que o Barcelona, depois de muitos anos sem publicidade nas camisolas (apoiava a Unicef), tem agora o patrocínio da Qatar Foundation. É a sequência de uma caminhada onde os maiores expoentes são o Chelsea do Sr. Abramovich (que já terá gasto cerca de mil milhões de dólares em 10 anos no clube) e o Manchester City de um fundo Abu Dhabi. O Manchester United também pertence a milionários americanos. E os outros, Real Madrid, Bayern de Munique e Juventus pertencem a empresários e a sócios.

Face a tudo isto qual é o peso dos clubes portugueses? Com um poder financeiro relativo (e muito endividados), vivem de equipas competitivas, mas que não dispõem dos recursos dos grandes da Europa. Mas a grande ofensiva do Quatar no mundo do futebol (conseguiu a organização do Mundial de Futebol de 2022) reflecte a própria evolução da política internacional e a sua ligação ao desporto sem fronteiras que ele é. A FIFA tem sido o ponta-de-lança da conquista dos mercados da América, da Ásia e do Médio Oriente. E a frágil Europa (em termos políticos e económicos) continua a ser o centro do consumo do futebol, onde estão as grandes equipas que todos querem ver. Por isso os clubes europeus são hoje um troféu apetecível para quem tem dinheiro vivo. E tem, como sucede no caso do Quatar, uma estratégia mais vasta que não começa nem acaba no futebol. Basta olhar à volta para se perceber isso.

fsobral@negocios.pt

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