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09 de Maio de 2008 às 13:59

O preço da “t-shirt” segundo Malthus

Os índices de inflação, globalmente, revelam uma tendência de subida. Enquanto na Europa, a inflação ronda 3%, nos EUA atinge 4%. Mas, na Rússia ou na China supera 10%. Inflação significa um movimento sustentado e generalizado de subida de preços, sendo u

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“O futuro não será o que imaginámos. Estamos a ficar sem espaço, sem comida, sem água, sem ar.”
Bob Geldof

Os índices de inflação, globalmente, revelam uma tendência de subida. Enquanto na Europa, a inflação ronda 3%, nos EUA atinge 4%. Mas, na Rússia ou na China supera 10%. Inflação significa um movimento sustentado e generalizado de subida de preços, sendo um fenómeno eminentemente monetário. Actualmente, assiste-se a uma subida de preços internacionais resultante da elevação de preços relativos de bens energéticos, metais básicos e produtos agrícolas. Nos últimos 10 anos, viveu-se um período de preços baixos, induzindo pela entrada da China e outros produtores asiáticos no comércio internacional. Produtos manufacturados registaram quedas de preço impressionantes. Uma simples “t-shirt”, há 10 anos, custaria aproximadamente 25 euros, quando actualmente, se pode adquirir por cerca de 5 euros. Contudo, a descida de preços dos bens manufacturados parou. Paralelamente ao esgotamento da queda dos preços relativos dos bens manufacturados, observa-se a intensificação da procura de consumíveis industriais indispensáveis para alimentar o processo de crescimento económico das economias emergentes, pressionando os preços em alta.

Pensando estritamente na China, a sua expansão industrial, apesar de vir a abrandar, implica aumento da pressão sobre a oferta de bens energéticos e consumíveis industriais. Um crescimento actual de 5% da economia chinesa significa, em termos de acréscimo absoluto de procura destes bens, mais do que uma expansão de 10% há 10 anos. A procura destes bens acelera, mas a oferta não cresce ao mesmo ritmo. Relativamente ao petróleo, apesar das recentes descobertas relevantes, importa referir que a qualidade do petróleo descoberto é inferior à anteriormente dominante, o seu custo de exploração é mais elevado e as estruturas de refinação não estão totalmente adaptadas para a sua sintetização. No que concerne aos bens alimentares, o fenómeno de industrialização das economias asiáticas reduziu a população agrícola, poluiu rios, contaminou fontes de água doce, erodiu terrenos. A percentagem de terra fértil contraiu-se e, sobretudo, a água potável encolheu dramaticamente. Por outro lado, estima-se que o crescimento industrial das economias emergentes ao ritmo actual implicará uma elevação de, pelo menos, 4º da temperatura terrestre, nos próximos 20 anos. Apesar da crescente sensibilidade aos temas ambientais, ainda não estão disponíveis tecnologias viáveis para substituição das actuais, sobretudo no que respeita aos transportes e produção industrial.

A entrada da China no mercado de trabalho colocou pressão salarial sobre o trabalho, sobretudo indiferenciado, em todo o mundo. O risco de deslocalização ou a globalização mantiveram os salários contidos, particularmente nas economias de elevados rendimentos. Recentemente, a produtividade das novas vagas de trabalho libertadas à agricultura das economias emergentes está em queda e os salários crescem mais do que o nível geral de preços. Entretanto, nos países europeus ou nos EUA, os trabalhadores, sobretudo com formação específica, recuperaram poder de fixação de salários, ou seja, capacidade negocial.

Resumidamente, a folga produtiva existente na década de 90, período em que a evolução da oferta superou o ritmo de crescimento da procura devido à expansão da produtividade por via das novas tecnologias de informação, pela entrada da China no mercado mundial e pela globalização, encerra e, consequentemente, o período de preços baixos aproxima-se do fim. Vive-se outros tempos de reajustamento de preços relativos, agora, no sentido da subida, por via dos preços de bens energéticos e afins. Não será inflação, mas um novo patamar de preços: mais alto; com, no entanto, inevitáveis repercussões sobre o rendimento familiar. Assim, no mesmo modo que a baixa global de preços permitiu o alívio das condições de vida da população pobre mundial, essa melhoria pode agora estar comprometida.

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