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O ponto de viragem?

Lenine afirmou que, por vezes, é necessário dar um passo atrás para depois poder dar dois passos em frente. O herói da revolução bolchevique não será, propriamente, uma referência entre as fontes de inspiração de Jorge Jardim Gonçalves.

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Mas ontem, quando a assembleia-geral de accionistas do BCP já se arrastava há longas horas, o líder histórico da instituição financeira acabou por recorrer a uma táctica que, no caso em apreço, revela inteligência, sensibilidade e bom senso.

Ao assumir a retirada do ponto 8 da ordem de trabalhos da reunião magna do banco, Jardim Gonçalves suprimiu do horizonte um dos nós mais complicados que alguma vez se viu forçado a desatar durante as mais de duas décadas de vida do BCP. A aparência de coesão e disciplina que foi transmitida por diversos participantes no encontro, ameaçava ficar ferida de morte quando chegasse a hora do combate em redor da proposta de reforço da blindagem de estatutos do banco. Uma minoria de bloqueio que, noutras épocas, seria algo impensável numa assembleia-geral do BCP, mostrava vontade de não dar tréguas na defesa dos seus interesses.

O episódio é uma derrota para Jardim Gonçalves. Junta-se a um outro desaire, o fracasso na tentativa de conquista do BPI, contrariando uma certa aura de infalibilidade que se foi forjando em torno da imagem do banqueiro, por força do seu talento e da habilidade negocial de que foi dando provas ao longo do seu percurso. Mas tem, também, outros significados. A resistência à sua tentativa de juntar mais alguns contrafortes ao muro protector contra investidas indesejadas, revela a vontade, de parte importante dos accionistas, em ver o BCP ser revestido de um nova cultura. Mais aberta, mais moderna e menos conservadora. E resta, ainda, a questão do poder.

Nas últimas semanas, Jorge Jardim Gonçalves foi objecto de contestação aberta como jamais se tinha visto, enquanto Paulo Teixeira Pinto era poupado às críticas. Tudo indica que os accionistas “rebeldes” têm um líder e que este não responde pelo nome de Jorge Jardim Gonçalves. Podem ter, agora, conseguido obter um ponto de viragem nos destinos do BCP. Mas se o primeiro presidente executivo do banco seguir à risca a tirada de Lenine, a batalha ainda não terá terminado.

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