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20 de Outubro de 2003 às 10:30

O passeio dos alegres

Talone vai fazer comícios para explicar porque manda 2.000 pessoas para casa. Vai dizer-lhes na cara. E vai sair em ombros.

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João Talone entrou na presidência executiva da EDP sob suspeita. Por ter sido nomeado depois de ter desenhado o modelo de reestruturação do sector. E por ser um financeiro, portanto um “outsider”. E isso fez com merecesse a desconfiança de vários públicos com quem a EDP interage, começando pelos próprios trabalhadores.

O único público que aplaudiu imediatamente a nomeação de Talone foi o dos investidores bolsistas - as acções subiram logo ao anúncio do novo CEO. Eles lá sabiam porquê, a Bolsa antecipa resultados...

Passou pouco tempo desde essa nomeação. Mas foi tempo suficiente para impôr uma mudança de estilo. Tempo suficiente para aprovar uma reestruturação que vai reduzir o contingente de pessoal de nove mil para quase sete mil trabalhadores em Portugal.

Para explicar porquê, João Talone convocou todos os funcionários para três reuniões, cada uma com três mil trabalhadores. É normal ver empresas a fazer reuniões gerais para explicar estratégias ou decisões importantes. Mas não quando se tratam de empresas com milhares de pessoas.

Esta semana, Talone vai fazer três autênticos comícios (quem dera aos partidos tanta audiência...) para explicar por que razões tem de mandar 2.000 dos 9.000 presentes para casa. Vai dizer-lhes na cara, vai entregar-se às feras. E vai sair de lá em ombros.

Talone vai sair em ombros por várias razões. Primeiro, porque a operação comunicacional há-de estar montada de forma a ser um tónico motivacional. Segundo, porque alguns sindicatos da empresa já o dão de barato, ouvindo-se elogios do tipo “se é para melhorar a competitividade da EDP, estamos disponíveis”. Terceiro, porque há uma evidência interna (na EDP como noutras empresas de passado ou presente estatal) de que há funções e/ou pessoas a mais.

Mas nada disto serviria para contentar se não houvesse generosas indemnizações para distribuir: até cinco salários por ano de trabalho, acrescidos de pacotes de seguros. Como o regulador autorizou a EDP a repercutir até quase 500 milhões de custos de reestruturação nas tarifas de electricidade, a perda para a EDP é financeiramente próxima de zero. Por isso, não é só a boa gestão que está a garantir a paz social na EDP. São os seus clientes que estão a financiar a jubilação. E Talone negoceia as rescisões com o dinheiro que lhe vamos, todos, pagar.

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