Opinião
O essencial dos edifícios verdes
Furacões devastadores em Taiwan e na China. Uma monção falhada na Índia. O secretário-geral das Nações Unidas no Árctico a apelar a mais acção no combate às alterações climáticas, enquanto os políticos discutem quem vai suportar os custos.
Furacões devastadores em Taiwan e na China. Uma monção falhada na Índia. O secretário-geral das Nações Unidas no Árctico a apelar a mais acção no combate às alterações climáticas, enquanto os políticos discutem quem vai suportar os custos.
Mas, em vez de deixar esse debate alastrar enquanto o planeta aquece, os políticos deviam adoptar uma das formas mais baratas de reduzir a poluição do ar: tornar os edifícios mais eficientes.
Surpreendentemente, os edifícios representam cerca de um terço de toda a energia usada. Os transportes, principalmente os carros, representam outro terço. As fábricas e as minas representam o resto. Desde os choques petrolíferos dos anos 70, muito se tem feito para tentar tornar os carros e as fábricas mais eficientes, apesar de muitos edifícios serem maiores consumidores de energia do que uma frota de SUV. As alterações podem ocorrer a custo zero, dados os avanços tecnológicos que já se registaram em todas as áreas, desde os vidros para janelas aos ares condicionados.
O World Business Council for Sustainable Development, que desenvolveu um estudo de referência sobre este tema, defendeu que os edifícios devem repor no sistema pelo menos tanta energia como a que tiram. A consultora McKinsey & Company concluiu que diversas tecnologias energeticamente eficientes para edifícios oferecem retornos em menos de um ano e podem ter um impacto muito significativo nas emissões de gases com efeito de estufa.
Mas os governos devem agir. A legislação já salvaguarda perigos como incêndios e tremores de terra. Governos visionários em locais tão diferentes como a Alemanha ou Singapura estão agora a exigir edifícios verdes. Nesses países, os decisores políticos sabem que os governos têm um papel crucial na criação de espaços de lazer e na ajuda à construção da capacidade industrial. Estima-se que os novos "standards" aplicados na construção dos últimos edifícios erguidos na Califórnia possam evitar a construção de cinco grandes centrais eléctricas durante os próximos 10 anos.
Os edifícios duram décadas. Assim, as decisões que forem tomadas hoje vão ter um impacto de longo prazo no nosso consumo de energia. Edifícios eficientes permitem aos países produzir e consumir menos energia, o que acaba por impulsionar o desenvolvimento económico - já que o dinheiro pode ser usado noutros projectos - e promover a segurança energética e a sustentabilidade ambiental.
Tudo isto pode ser feito sem afectar o crescimento económico. Actualmente, os frigoríficos utilizam apenas um quarto da electricidade dos frigoríficos de há 30 anos, apesar de serem maiores e oferecerem mais opções.
Actualmente - e provavelmente durante as próximas décadas - os edifícios verdes têm uma importância particular na Ásia, zona do mundo com o mais rápido crescimento económico. Nos últimos anos, a percentagem de consumo de energia na Ásia e a utilização de energia dos edifícios duplicou. Só a China e a Índia construíram mais de metade de todos os novos andares do mundo. Sem boas medidas políticas, as melhorias da eficiência energética dos edifícios vão continuar a registar um crescimento relativamente lento.
Se a Ásia mantiver a mesma política, vai gastar dinheiro em energia que podia gastar noutras coisas. O consumo de energia na China obriga o país a construir o equivalente a entre duas e quatro centrais eléctricas de 500 megawatts todas as semanas. Todos os anos, o país adiciona mais capacidade de geração de energia do que a base instalada no Reino Unido. Ninguém pode pedir à China que abrande o seu desenvolvimento. Mas se a China conseguir melhorar a sua eficiência energética, vai poupar dinheiro e reforçar a sua segurança energética. Fontes do governo chinês estimam que um edifício eficiente é cinco a seis vezes mais barato do que um edifício ineficiente.
Antes da mudança, alguns mitos devem ser demolidos.
Mito 1: a construção de edifícios verdes é muito mais cara. Inicialmente, podem existir custos entre 3% e 10% mais caros. No entanto, estes custos tendem a cair rapidamente à medida que todas as pessoas envolvidas na construção, desde arquitectos a construtores, se familiarizam com os novos meios de construção. Além disso, os fornecedores deverão reformular a sua forma de produção, tornando os produtos mais eficientes e levando os preços a cair.
Mas mesmo os custos iniciais mais elevados são rapidamente pagos através da descida dos custos de utilização.
Mito 2: os edifícios eficientes são desconfortáveis. A ideia de que a eficiência energética significa viver às escuras no Inverno e suar em bica no Verão não faz sentido. Vários estudos mostram que os edifícios bem concebidos são mais confortáveis. Os escritórios verdes possibilitam uma menor taxa de rotatividade dos empregados e menos dias de baixa por doença.
Mito 3: se a eficiência energética funcionasse, já todos tinham optado por ela. Isto é como a anedota de dois economistas que ignoram uma nota de 100 dólares que encontram na rua, afirmando que se o dinheiro fosse real, alguém já o tinha apanhado. Muitas vezes, os construtores de edifícios não querem ter o trabalho e as complicações de quebrarem velhos hábitos. E porque o deveriam fazer? De qualquer forma, eles vendem as casas e transmitem os custos de utilização para os inquilinos.
Nada muda à excepção da relutância em mudar velhos padrões.
Os governos precisam de definir novos padrões que se tornem, progressivamente, mais rigorosos. O sector da construção precisa de ser mais criativo. Os inquilinos devem ter com as casas o mesmo cuidado que têm com os carros. O resultado líquido de uma série de pequenas mudanças poderá ser uma enorme redução do consumo de
energia.
Mark L. Clifford é director executivo do Asia Business Council e co-autor do Building Energy Efficiency: Why Green Buildings Are Key to Asia's Future.
© Project Syndicate, 2009.
www.project-syndicate.org
Tradução: Ana Luísa Marques
Mas, em vez de deixar esse debate alastrar enquanto o planeta aquece, os políticos deviam adoptar uma das formas mais baratas de reduzir a poluição do ar: tornar os edifícios mais eficientes.
O World Business Council for Sustainable Development, que desenvolveu um estudo de referência sobre este tema, defendeu que os edifícios devem repor no sistema pelo menos tanta energia como a que tiram. A consultora McKinsey & Company concluiu que diversas tecnologias energeticamente eficientes para edifícios oferecem retornos em menos de um ano e podem ter um impacto muito significativo nas emissões de gases com efeito de estufa.
Mas os governos devem agir. A legislação já salvaguarda perigos como incêndios e tremores de terra. Governos visionários em locais tão diferentes como a Alemanha ou Singapura estão agora a exigir edifícios verdes. Nesses países, os decisores políticos sabem que os governos têm um papel crucial na criação de espaços de lazer e na ajuda à construção da capacidade industrial. Estima-se que os novos "standards" aplicados na construção dos últimos edifícios erguidos na Califórnia possam evitar a construção de cinco grandes centrais eléctricas durante os próximos 10 anos.
Os edifícios duram décadas. Assim, as decisões que forem tomadas hoje vão ter um impacto de longo prazo no nosso consumo de energia. Edifícios eficientes permitem aos países produzir e consumir menos energia, o que acaba por impulsionar o desenvolvimento económico - já que o dinheiro pode ser usado noutros projectos - e promover a segurança energética e a sustentabilidade ambiental.
Tudo isto pode ser feito sem afectar o crescimento económico. Actualmente, os frigoríficos utilizam apenas um quarto da electricidade dos frigoríficos de há 30 anos, apesar de serem maiores e oferecerem mais opções.
Actualmente - e provavelmente durante as próximas décadas - os edifícios verdes têm uma importância particular na Ásia, zona do mundo com o mais rápido crescimento económico. Nos últimos anos, a percentagem de consumo de energia na Ásia e a utilização de energia dos edifícios duplicou. Só a China e a Índia construíram mais de metade de todos os novos andares do mundo. Sem boas medidas políticas, as melhorias da eficiência energética dos edifícios vão continuar a registar um crescimento relativamente lento.
Se a Ásia mantiver a mesma política, vai gastar dinheiro em energia que podia gastar noutras coisas. O consumo de energia na China obriga o país a construir o equivalente a entre duas e quatro centrais eléctricas de 500 megawatts todas as semanas. Todos os anos, o país adiciona mais capacidade de geração de energia do que a base instalada no Reino Unido. Ninguém pode pedir à China que abrande o seu desenvolvimento. Mas se a China conseguir melhorar a sua eficiência energética, vai poupar dinheiro e reforçar a sua segurança energética. Fontes do governo chinês estimam que um edifício eficiente é cinco a seis vezes mais barato do que um edifício ineficiente.
Antes da mudança, alguns mitos devem ser demolidos.
Mito 1: a construção de edifícios verdes é muito mais cara. Inicialmente, podem existir custos entre 3% e 10% mais caros. No entanto, estes custos tendem a cair rapidamente à medida que todas as pessoas envolvidas na construção, desde arquitectos a construtores, se familiarizam com os novos meios de construção. Além disso, os fornecedores deverão reformular a sua forma de produção, tornando os produtos mais eficientes e levando os preços a cair.
Mas mesmo os custos iniciais mais elevados são rapidamente pagos através da descida dos custos de utilização.
Mito 2: os edifícios eficientes são desconfortáveis. A ideia de que a eficiência energética significa viver às escuras no Inverno e suar em bica no Verão não faz sentido. Vários estudos mostram que os edifícios bem concebidos são mais confortáveis. Os escritórios verdes possibilitam uma menor taxa de rotatividade dos empregados e menos dias de baixa por doença.
Mito 3: se a eficiência energética funcionasse, já todos tinham optado por ela. Isto é como a anedota de dois economistas que ignoram uma nota de 100 dólares que encontram na rua, afirmando que se o dinheiro fosse real, alguém já o tinha apanhado. Muitas vezes, os construtores de edifícios não querem ter o trabalho e as complicações de quebrarem velhos hábitos. E porque o deveriam fazer? De qualquer forma, eles vendem as casas e transmitem os custos de utilização para os inquilinos.
Nada muda à excepção da relutância em mudar velhos padrões.
Os governos precisam de definir novos padrões que se tornem, progressivamente, mais rigorosos. O sector da construção precisa de ser mais criativo. Os inquilinos devem ter com as casas o mesmo cuidado que têm com os carros. O resultado líquido de uma série de pequenas mudanças poderá ser uma enorme redução do consumo de
energia.
Mark L. Clifford é director executivo do Asia Business Council e co-autor do Building Energy Efficiency: Why Green Buildings Are Key to Asia's Future.
© Project Syndicate, 2009.
www.project-syndicate.org
Tradução: Ana Luísa Marques
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