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03 de Março de 2010 às 11:35

Ninguém trava a PT

A Autoridade da Concorrência ladra mas não morde. A Anacom abana a cauda. A concorrência doméstica tem dentes pequenos. A PT não é um polvo, é uma nau poderosa cortejada por tubarões, accionistas público e privados. Todos os concorrentes que se...

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A Autoridade da Concorrência ladra mas não morde. A Anacom abana a cauda. A concorrência doméstica tem dentes pequenos. A PT não é um polvo, é uma nau poderosa cortejada por tubarões, accionistas público e privados.

Todos os concorrentes que se meteram com a PT têm perdido. A Sonae, que foi quem mais se atreveu. A Vodafone, que não é suficientemente ambiciosa. A Oni, que só numa segunda vida se firma. As TVTel e as Cabovisão, que acabam compradas ou fechadas. O mais odiado concorrente da PT foi amamentado na própria PT: é a Zon. Mas só por equívoco se pode ver num a força do outro. Sim, na televisão a Zon é o dominador. Mas a PT é o demolidor.

A Autoridade da Concorrência foi o David que mais pedras atirou a este Golias. Alinhou com a OPA da Sonae mas deteve-se tanto tempo a medir galões com a Anacom que acabou por dar à PT o tempo de que precisou para se organizar contra a oferta. Depois, aplicou-lhe as duas maiores multas de sempre em Portugal por abuso de posição dominante, uma após
a outra. A primeira morreu ontem no tribunal. A AdC perdeu. E desta vez não perdeu por erros processuais que milhões de advogados da PT descortinassem. Perdeu porque o juiz diz que não há provas.

A PT nunca levou a sério esta multa: nem a provisionou nas contas. Mas não a esqueceu. Ontem, no tribunal, a PT não venceu, vingou-se. De Abel Mateus, da AdC, até de Rodrigo Costa, que à época era presidente da processada PT Comunicações e, paradoxalmente, é hoje presidente da Zon, dona da TVTel, a que processou.

No regulador horizontal, o tal que disse "até os comemos", ficamos conversados. No regulador vertical, a Anacom, a coisa é bem mais simples. Basta ver a morte do concurso para os canais pagos para a Televisão Digital Terrestre (TDT): a PT entrou para matar a concorrência, aniquilando pelo caminho a Airplus. Depois de ficar com o caminho só para si, desiste, em benefício dos operadores instalados de televisão, incluindo o próprio Meo. A PT vence predatoriamente, com o patrocínio da Anacom, que para cúmulo da vergonha ameaça devolver a caução de 2,5 milhões à PT. No dia em que quiser falar de novo sobre a TDT, Luís Nazaré (que liderava a Airplus) terá muito de que se queixar.

Dentro destas quatro paredes que é Portugal, a PT é uma empresa muito bem gerida. Não tem nem concorrente nem regulador que trave o seu ímpeto. Só fora de Portugal se amocha, vendendo com lucro em Marrocos ou lucrando sem venda no Brasil.

Talvez seja todo este poder que faz da PT a atracção fatal dos PS, PSD (e até CDS) que vão rodando o poder político em Portugal.

Talvez seja essa imensa nau que, depois, lhes dá o delírio da impunidade, de que podem fazer tudo, como vai sendo conhecido no ataque à TVI orquestrado por representantes de poderes ocultos. Como o assalto à Taguspark, de que hoje contamos nesta edição. Como a arrepiante frieza com que Rui Pedro Soares assumiu que inventou uma "Cidade PT" para aldrabar senhorios e assim levá-los a baixar rendas.

A PT é um caso sério de sucesso. Nela mandam o Estado e o BES, que anda neste processo calado para se confundir com a paisagem. Percebe-se: no fundo, todos os accionistas da empresa estão a ganhar dinheiro com a gestão competente e com o sistema complacente. Polvo? Não, a PT não é um polvo. Os polvos escondem-se, são furtivos. E não têm dentes.

psg@negocios.pt




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