Opinião
Investir em multiativos para obter rendimento
A procura de rendimento tornou-se significativamente mais complexa, com os investidores a tentarem obter a melhor relação entre o rendimento e a volatilidade do capital.
A procura de rendimento tornou-se significativamente mais complexa, com os investidores a tentarem obter a melhor relação entre o rendimento e a volatilidade do capital. Dado o prémio associado aos ativos seguros nos últimos tempos, e o leque de riscos económicos, políticos e financeiros, investir numa única classe de ativos é uma estratégia com propensão para a incerteza.
Acreditamos que uma estratégia multiativos que investe num leque de ativos com diferentes caraterísticas de rendimento, liquidez, volatilidade e proteção contra a inflação com vista a alcançar um rendimento competitivo e regular será a melhor solução para muitos investidores. Ao misturar diferentes classes de ativos, uma estratégia multiativos dinâmica pode proporcionar bons rendimentos e simultaneamente diversificar as diferentes fontes de risco, diminuindo deste modo a volatilidade do capital.
O argumento para uma abordagem multiativos ao investimento com vista a obter rendimento
Investir para obter rendimento tornou-se um tema bem estabelecido. No entanto, com as taxas de juro dos depósitos em numerário a níveis inferiores à inflação, e as yields dos títulos de dívida pública de elevada qualidade ainda baixas, as opções tradicionais para obter rendimento tornaram-se menos atrativas.
Embora haja um vasto leque de alternativas de maior rendimento disponível para os investidores no rendimento, cada uma delas tem as suas desvantagens específicas. Por exemplo, os dividend yields numa série de mercados podem parecer competitivos em comparação com as yields das obrigações. No entanto, como sabemos, as ações são consideravelmente mais voláteis que as obrigações de elevada qualidade garantidas pelo governo. As obrigações com investment grade podem oferecer maior estabilidade do capital e pagar um rendimento razoável, mas podem implicar exposições involuntárias a setores, por exemplo, ao setor financeiro que continua sujeito a incerteza.
A realidade é que as classes de ativos de maior rendimento necessitam inevitavelmente de assumir maior risco. Além disso, investir para obter rendimento numa só classe de ativos é uma estratégia que está sujeita a incerteza e aos choques do mercado. Qual é, então, a melhor opção? Na minha opinião, os investidores devem considerar uma estratégia multiativos com vista a alcançarem um rendimento sustentável e previsível com menor variabilidade do capital e fontes de rendimento mais diversificadas.
Uma abordagem multiativos global ao investimento com vista a obter rendimento significa que os investidores podem beneficiar de uma estratégia de investimento flexível capaz de investir num vasto leque de ativos de maior rendimento em diferentes regiões geográficas. Além disso, existe margem para gerar rendimentos extra ajustando a alocação de ativos às condições económicas em mutação.
O equilíbrio entre o risco e o retorno
Qual é, pois, a alocação estratégica de ativos correta para uma carteira de rendimento multiativos que procura proporcionar um rendimento estável e previsível contribuindo ao mesmo tempo para a preservação do capital? Intuitivamente, o perigo de ter como objetivo um nível de rendimento específico é acabar por ter maior exposição às obrigações high yield e às ações que têm maior volatilidade. Por outro lado, o perigo de ter como objetivo uma volatilidade baixa é assumir uma grande exposição ao crédito com investment grade e sacrificar algum rendimento. É interessante registar que numa carteira com igual ponderação em obrigações com investment grade, obrigações high yield e ações - mais de 60% da variação total da carteira deve-se em geral à componente de ações.
Em suma, embora haja um vasto leque de classes de ativos que geram rendimento, cada uma delas tem as suas desvantagens específicas e estas podem variar dependendo do ponto do ciclo económico em que nos encontramos. Ao construir carteiras multiativos para obter rendimento, o principal objetivo é equilibrar a geração de rendimento com todos os diferentes fatores de risco, tendo igualmente em conta o custo e a liquidez.
Pelo facto de investir num leque de ativos globais, a diversificação pode ser utilizada para obter um rendimento estável e sustentável com potencial para exceder significativamente os retornos de investimentos num rendimento proveniente de uma única fonte. Incluir classes de ativo com correlações baixas entre si oferece maior margem para gerar retornos mais elevados com menor volatilidade. Além disso, a flexibilidade para ajustar taticamente as alocações aos acontecimentos do mercado contribui para a estabilidade do rendimento e proteção do capital ao longo do tempo.
Protecção contra a inflação
A inflação provoca a erosão do valor real dos ativos e deverá ser sempre tida em conta ao investir para obter rendimento, incluindo nas estratégias multiativos. O principal objetivo quando se procura combater o risco inflacionista é descobrir ativos que possam aumentar de uma forma fiável o seu payout ou rendimento a pagar que esteja, em certa medida, expressamente associado à inflação. Por exemplo, está claramente estabelecido que o imobiliário físico, as rendas do imobiliário comercial, os REIT e os projetos de infraestruturas contêm um elemento de proteção contra a inflação nos seus fluxos de rendimento. Tais ativos têm a vantagem adicional de terem baixa correlação com as ações e obrigações, potencialmente melhorando, deste modo, a diversificação das carteiras multiativos.
No mundo atual de baixo crescimento económico, baixas yields das obrigações e baixas taxas de juro dos depósitos bancários, os investidores devem procurar fontes alternativas para satisfazerem as suas necessidades de rendimento, reduzindo, ao mesmo tempo, a concentração involuntária de riscos e os riscos de inflação. Acredito que a diversificação é a chave para alcançar este objetivo e que uma estratégia multiativos global constitui a melhor alternativa para obter um rendimento sustentável.
Responsável pela equipa de Fixed Income and Alternatives Research da Fidelity
Nota: Este artigo foi redigido ao abrigo do novo acordo ortográfico