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A ilusão dos grandes negócios

Está a esgotar-se o tempo em que qualquer pretenso craque era vendido por 10 ou 20 milhões de euros. Os grandes compradores estão mais refinados e os negócios de ocasião começam a ser escassos. Altura para os clubes portugueses recomeçarem a pensar na formação

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Todos os olhos estão focados no último dia de Agosto, o derradeiro das transferências que podem inundar os clubes do dinheiro que não têm. Estão todos na montra, como se fossem manequins estáticos. Basta olhar para a lista de quem espera um acordo de última hora, depois de já terem sido dados como certos em dezenas de clubes que "morriam" pela sua contratação: lá estão o Sr. Hulk, o Sr. Witsel, o Sr. Cardozo, o Sr. João Moutinho, ou o Sr. Wolfswinkel. Já nem falemos de vendas que só aconteceriam se fossem "irrecusáveis", como a do Sr. Gaitán. E do valor, impensável há uns tempos, da saída do Sr. Álvaro Pereira para o Inter. Os principais clubes portugueses precisam de vender e se FC Porto e Benfica sempre têm os euros encantados da Liga dos Campeões, o Sporting bem pode esperar pelo misterioso investidor chinês e pelos futuros investidores indianos para tentar dar oxigénio às suas contas frenéticas.

Parece que em Portugal ainda não se tem a sensação que há um mundo a chegar ao fim. E que o dinheiro em caixa promovido pelas vendas por valores astronómicos vão começar a rarear. Chamem-lhe crise. Chamem-lhe falta de liquidez. Mas exceptuando os bolsos cheios de magnatas russos ou de xeques árabes, o dinheiro já não jorra à velocidade do petróleo. Este mundo, não o esqueçamos, nasceu num momento de euforia financeira. Façamos um regresso ao passado. Em 1992, foi lançada a Premier League, que marcou a inversão face ao futebol antigo, onde os clubes eram de adeptos e os jogadores poderiam ganhar bem, mas não auferiam salários espaciais. Nem havia uma legião de empresários a ganhar os seus 10%. Mas aconteceu nesse ano um acontecimento da máxima importância: a Sky proclamou a chegada de "A Whole New Ball Game", depois de comprar os direitos de transmissão televisiva dos jogos. Por eles pagou uma pequena fortuna, que foi aumentando ao longo dos anos.

À conservadora Grã-Bretanha, pátria do futebol, começaram também a chegar craques estrangeiros (começou tudo com a contratação do Sr. Klinsman, fresco da vitória no Mundial) e a seguir vieram os treinadores estrangeiros. Os preços dos bilhetes começaram a subir e os clubes criaram sociedades e passaram a evoluir em Bolsa. Comprar clubes, para lá do "charme", passou a ser um clube. A Alemanha fez as coisas de forma diferente: na Bundesliga os adeptos têm de ter, no mínimo, 50% das acções. No Bayern de Munique, 82% do clube é propriedade dos adeptos. A Audi e a Adidas têm 9% porque o seu investimento serviu para pagar o novo estádio. São visões diferentes do mundo do futebol, mas um país que vive permanentemente de compras e vendas de jogadores, como Portugal, deveria reflectir sobre as mudanças que estão a acontecer. Os clubes portugueses comportam-se como novos-ricos. Por isso deixaram de ter jogadores portugueses nos seus 11 principais. Olhe-se para a primeira jornada da Liga: o Benfica não tinha nenhum, o FC Porto tinha dois e o Sporting tinha três. O problema é que as vendas por valores do outro mundo estão a acabar.

fsobral@negocios.pt
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