Opinião
A Igreja está distraída?
Primeiro a declaração de interesses: tenho admiração por Dom Jorge Ortiga, Dom Januário Torgal Ferreira, Dom José Policarpo e Dom Manuel Martins.
Primeiro a declaração de interesses: tenho admiração por Dom Jorge Ortiga, Dom Januário Torgal Ferreira, Dom José Policarpo e Dom Manuel Martins. Por serem pessoas que colocam o ser humano acima de tudo e que criticam injustiças sociais. Mas, por uma razão ou outra, de vez em quando "passam-se". Há uma semana Dom José Policarpo disse que a Igreja não se mete na política porque ninguém sai de lá "de mãos limpas" (é verdade que temos uma péssima classe política e que parte dela é corrupta, mas não se pode meter todos no mesmo saco). D. Manuel Martins comentou há alguns meses que se está a criar um sentimento de raiva "muito perigoso", que pode conduzir à "desobediência civil generalizada". Mais recentemente foi a vez de Dom Januário criticar o imposto sobre o 13º mês. Ontem "calhou" a crítica a Dom Jorge Ortiga. Ao referir-se aos "tumultos" (que o primeiro-ministro disse não tolerar), foi taxativo: "(…) Nem sempre é possível segurar o povo". Há poucos meses o mesmo prelado admitira que as medidas de austeridade podem provocar revoltas sociais: "Quando não há o indispensável para viver, o povo não se cala".
Acho bem que a Igreja se preocupe com injustiças sociais. Mas tem de ter cuidado. Porque estas declarações podem ser vistas como estímulo aos protestos, que depois de deflagrados nunca se sabe como terminam... Dir-me-ão que a linha que separa "crítica" de "estímulo" é ténue. Pois é. Mas é isso que aconselha tento na língua. Até por outra razão: não me lembro de ver Dom Jorge Ortiga, Dom José Policarpo, Dom Manuel Martins e Dom Januário criticarem o despesismo do Estado, nomeadamente do anterior Governo, que provocou esta austeridade. Estavam distraídos?
Acho bem que a Igreja se preocupe com injustiças sociais. Mas tem de ter cuidado. Porque estas declarações podem ser vistas como estímulo aos protestos, que depois de deflagrados nunca se sabe como terminam... Dir-me-ão que a linha que separa "crítica" de "estímulo" é ténue. Pois é. Mas é isso que aconselha tento na língua. Até por outra razão: não me lembro de ver Dom Jorge Ortiga, Dom José Policarpo, Dom Manuel Martins e Dom Januário criticarem o despesismo do Estado, nomeadamente do anterior Governo, que provocou esta austeridade. Estavam distraídos?
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